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SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO MÓVEL DE TERCEIRA GERAÇÃO (3) |
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Autor: Dayani Adionel Guimarães |
IV.
A Tecnologia da 3G
São notáveis as
evoluções tecnológicas percebidas nos vários campos da ciência, merecendo
destaque aquelas ocorridas com as telecomunicações. Esse item procura
apresentar algumas técnicas que, apesar de em vários casos terem sido
pesquisadas e desenvolvidas há muito tempo, somente puderam ser implementadas
devido aos avanços tecnológicos dos dias atuais. Essas técnicas, novas ou
não, viabilizarão a implementação daqueles atributos e características
previstas pela visão sobre a terceira geração dos sistemas de comunicação
móvel. Outras técnicas aqui não mencionadas, muitas das quais se
encontrando ainda em estágio embrionário de pesquisa, associadas àquelas
utilizadas na 3G, continuarão a suportar o avanço das telecomunicações
além da terceira geração.
O modo de
transmissão por comutação de circuitos predominante nas atuais redes
celulares dará lugar ao modo de transmissão por comutação de pacotes, modo
esse compatível com a rede mundial e seu protocolo IP (Internet
Protocol). Apenas recordando, em um serviço de transmissão de dados por
comutação de circuitos é necessário o estabelecimento de uma conexão
antes que os dados sejam transferidos da fonte ao destino. Trata-se portanto
de um serviço orientado a conexão. O modo de transmissão de dados por
comutação de pacotes se refere ao processo de roteamento e transferência de
dados através de pacotes endereçados de tal forma que um canal seja ocupado
somente durante a transmissão do pacote. Pacotes consecutivos podem trafegar
por caminhos diferentes na rede de acordo com o roteamento imposto a cada
pacote.
Nos sistemas 3G
deverá também haver um deslocamento da forma de tarifação atual,
predominantemente baseada em tempo de conexão, para técnicas de tarifação
baseadas no tipo de mídia transportado e/ou no volume de tráfego gerado pelo
usuário.
Os protocolos de
compatibilização do conteúdo da Internet com os terminais móveis, como o
WAP (Wireless Application Protocol);
o transporte de voz sobre redes IP, VoIP (Voice
over IP) e o transporte de tráfego IP sobre redes ATM (Asynchronous
Transfer Mode), ou sobre redes WATM (Wireless
ATM) são termos que deverão passar a serem comuns na terceira geração
de sistemas de comunicações móveis.
Outras técnicas
serão responsáveis por uma interface de rádio capaz de suportar os
serviços almejados para os sistemas 3G e além da 3G e, consequentemente, as
elevadas taxas necessárias. Dentre elas podem ainda ser citadas:
- Equalização no domínio do tempo e do espaço.
- Antenas adaptativas.
- Potentes esquemas de codificação de canal.
- Alocação de banda por demanda.
- Software Radio.
-
Evolução da tecnologia de semicondutores.
A equalização
no domínio do tempo e do espaço (Space-Time
domain Equalization) combina estruturas de equalização adaptativa
temporal como as do tipo Linha de Atrasos com Derivações (TDL, Tapped
Delay Line) [Pro95], [Hay95] com arranjos espaciais de antenas, tendo como
principal objetivo a redução da interferência de multipercursos (Multipath
Interference) [Tur80]
e a interferência intersimbólica [Hay01].
O uso de antenas
adaptativas se presta tanto na implementação da equalização no domínio do
tempo e do espaço quanto para o cancelamento de interferências. Nessa
última função, um arranjo de antenas é controlado de forma adaptativa
objetivando maximizar a intensidade de irradiação (ganho) na direção
desejada e minimizar esse ganho na direção das fontes de interferência. O
padrão de irradiação do arranjo é então dinamicamente conformado de tal
sorte que a relação entre a potência de sinal desejado e a potência de
sinal interferente seja maximizada. É importante ressaltar que os elementos
chave desse processo são o algoritmo de adaptação e a implementação do
arranjo. Numa primeira e simplificada análise, quanto mais eficaz o
algoritmo, mais complexo e de execução demorada ele se torna; e quanto mais
elementos compõem o arranjo de antenas, mais eficaz é o processo de
cancelamento de interferências e direcionamento do feixe. Existem várias
referências sobre esse assunto já disponíveis, mas em caráter tutorial
recomenda-se trabalhos clássicos como [God97], [App76] e [Wid67].
Claude E. Shannon
[Sha48]
demonstrou que, adicionando redundância controlada à informação,
poder-se-ia reduzir a quantidade de erros na recepção, produzidos pelo
ruído, a um patamar tão pequeno quanto se quisesse, desde que a taxa de
transmissão estivesse abaixo da capacidade do canal, essa determinada por um
limite conhecido por limite de Shannon [Gal68], [Pro95],
[Wic95].
A codificação de canal é justamente o processo através do qual essa
redundância é adicionada à informação de modo a permitir a detecção e
correção de erros. O termo “redundância controlada” está relacionado
à restrição das possíveis seqüências de bits de informação na
recepção. Tendo uma seqüência detectada um padrão diferente das
possíveis seqüências, o decodificador de canal “procura” dentre elas a
seqüência que mais se assemelha à seqüência detectada. Essa semelhança
é obtida através da correta utilização de critérios de decisão, sendo
que os mais conhecidos são o critério do máximo a-posteriori
(MAP, Maximum a-posteriori) e o de
máxima verossimilhança (ML, Maximum
Likelihood) [Lee94].
Ambos têm como objetivo minimizar o erro de decisão sobre os bits
transmitidos.
Hoje existem
vários esquemas de codificação de canal que levam um sistema de
comunicação a um desempenho muito próximo da capacidade do canal. Dentre
eles destacam-se os Códigos Turbo, apresentados pela primeira vez em [Ber93].
Para mais detalhes sobre codificação de canal recomenda-se consultar, dentre
outras referências: [Sha48], [Gal68], [Pro95]
e [Wic95].
Os vários tipos
de mídia que serão suportados pelo IMT-2000 com suas diferentes taxas e
qualidades de serviço (QoS, Quality of
Service) impõem algum tipo de alocação de banda por demanda (exemplo:
[Ami94]) e diferentes níveis de proteção da informação, respectivamente.
Os diferentes níveis de proteção podem ser atingidos com a mudança do
esquema de codificação de canal em função da QoS imposta por cada serviço
oferecido. A alocação de banda por demanda permitirá que um usuário ocupe
uma largura de faixa equivalente[1]
que será função do serviço utilizado a cada instante. Quanto maior a taxa
de transmissão necessária para esse serviço, mais banda será
disponibilizada. Por exemplo, um usuário que estiver utilizando o sistema
apenas para tráfego de voz irá ocupar uma banda significativamente menor que
aquele que estiver necessitando do transporte de informações de vídeo
conferência. A alocação por demanda de canais código e o uso de fatores de
espalhamento espectral variáveis (VSF, Variable
Spreading Factor) nos sistemas CDMA e a alocação de slots
temporais por demanda nos sistemas TDMA serão os principais responsáveis por
atender a esse tráfego multi-taxas de tal sorte que a utilização dos
recursos de rádio seja otimizada e a capacidade do sistema seja
maximizada.
O termo software-radio
carrega em sua definição uma vasta gama de possibilidades. De maneira geral
pode-se entender essa técnica como aquela responsável por uma configuração
via software de elementos da
interface de rádio dos sistemas de comunicação, tais como técnica de
múltiplo acesso, modulação e codificação de canal. Essa configuração
por software permitirá a
adaptação da interface às condições do ambiente e ao tipo de informação
por ela transportada. As principais vantagens de um software-radio
incluem (mas não se limitam a) [Cat98]:
(1) flexibilidade devido à configuração da interface de rádio por software
e não por hardware;
(2) repetibilidade e precisão;
(3) invariabilidade com o tempo e condições ambientais;
(4) capacidade de implementação de sofisticadas funções a custos
relativamente reduzidos e
(5) custos de implementação e dimensões cada vez mais reduzidos, conforme
permite a evolução da tecnologia de semicondutores marcada pela evolução
na escala de integração (VLSI, Very
Large Scale Integration) e a evolução dos processadores digitais de
sinais (DSPs, Digital Signal Processors).
O
vantagem (5) citada no parágrafo anterior na verdade representa um dos
grandes impulsionadores e responsáveis pelos maiores avanços nas
comunicações sem fio. O processo de miniaturização, o aumento na densidade
de empacotamento, o aumento na capacidade de processamento e a diminuição no
consumo de potência são fatores que viabilizarão cada vez mais as
implementações tecnológicas que suportarão as contínuas evoluções nos
sistemas de comunicação de terceira geração e além da terceira
geração.
A
evolução tecnológica nos processos de armazenamento de energia tem também
grande impacto na evolução dos sistemas de comunicações móveis [Sin00].
Infelizmente essa evolução não tem ocorrido em velocidade compatível com
os demais itens desses sistemas: enquanto a velocidade de processamento de
CPUs dobra a aproximadamente cada 18 meses, a densidade de energia das
baterias levou quase 35 anos para que fosse duplicada – esse fato terá
grande impacto nas dimensões e na portabilidade dos futuros terminais. No
dias de hoje, as baterias representam quase que metade do volume e do peso dos
equipamentos portáteis.
Merecem ainda
destaque os esforços de pesquisa e desenvolvimento dos processos de
codificação de voz e imagem. Esses processos, baseados nos princípios de
codificação de fonte, procuram reduzir o grau de redundância contido nos
sinais de voz e imagem e assim representar esses sinais na forma digital a
taxas tão pequenas quanto possível, maximizando a eficiência de
utilização do espectro nos sistemas de comunicação via rádio. A solução
de compromisso entre complexidade, consumo, taxa e inteligibilidade são
importantes condições de contorno para a evolução desses processos.
Grandes são os avanços alcançados até o momento e, certamente, num futuro
não muito distante, outros ainda maiores virão à tona.
O enorme desafio nesse início de século 21 será prover todos esses novos serviços com todas essas tecnologias através de sistemas de comunicação móvel inter-operáveis e com cobertura global.
[1] O termo largura de faixa equivalente é aqui utilizado para chamar a atenção para o fato de que em um sistema TDMA uma variação equivalente de banda é conseguida às custas da alocação de um número variável de slots por quadro a um usuário.