WirelessBR |
WirelessBr é um site brasileiro, independente, sem vínculos com empresas ou organizações, sem finalidade comercial, feito por voluntários, para divulgação de tecnologia em telecomunicações |
|
Sistema Móvel Celular – SMC (4) |
||
Autor: Marcelo dos Santos |
Numa
situação prática, pode haver mais de um operador de serviços celulares em
uma mesma cidade e, certamente, dentro de um mesmo país/continente. Porém, o
usuário é assinante de uma operadora apenas. Dessa forma, é necessário que
haja interligações entre as diversas operadoras, no sentido de que o
assinante de uma operadora possa utilizar os serviços de outra, como
visitante (roamer).
Durante
o curso de uma chamada, se o móvel desloca-se da área de serviço de uma MSC
para a de outra, é necessário um roaming.
Portanto, o roaming pode inclusive
ocorrer na área de prestação de serviço de uma mesma operadora. Há vários
aspectos a serem considerados na implementação do roaming.
Por exemplo, uma chamada local pode transformar-se numa chamada a longa distância
quando a MSC visitada está em outro estado. Da mesma forma, deve ser dada
atenção à compatibilidade de sistemas entre as MSC’s envolvidas.
Técnicas
de Acesso
O
compartilhamento de recursos é uma forma muito eficiente de se obter alta
capacidade em uma rede de comunicações. No que diz respeito a comunicações
móveis, os recursos são os canais disponíveis ou, de forma mais ampla, a
banda de freqüências. O mecanismo de acesso deve permitir que qualquer
terminal acesse o sistema,
provendo um sistema de acesso troncalizado. Se canais são designados a usuários
por demanda, o esquema é chamado de Acesso Múltiplo com Alocação por
Demanda (DAMA, Demand-Assigned Multiple
Access), ou simplesmente Múltiplo Acesso.
De
acordo com a forma com que o espectro é disponibilizado aos usuários, tem-se
a classificação geral de sistemas em faixa
estreita e faixa larga. Em um
sistema faixa estreita, a faixa de freqüências é subdividida em várias
faixas menores, os canais, que são alocadas sob demanda aos usuários. Em
sistemas faixa larga, toda ou grande parte da banda de freqüências é
disponibilizada aos usuários, como um único bloco.
Há
três formas básicas de se realizar múltiplo acesso, nomeadas de acordo com
o mecanismo chave usado para implementá-las:
-
Múltiplo Acesso por Divisão de Freqüência (FDMA);
-
Múltiplo Acesso por Divisão de Tempo (TDMA);
-
Múltiplo Acesso por Divisão de Código (CDMA).
Enquanto
o FDMA e o CDMA são, respectivamente, técnicas faixa estreita e faixa larga
por natureza, o TDMA permite ambas as formas de implementação.
O
exemplo da sala
Para melhor entendermos as diferenças entre FDMA, TDMA e CDMA podemos imaginar o exemplo da sala. Imaginemos os telefones móveis como duas pessoas tentando conversar.
No sistema FDMA, a sala seria dividida em várias salas menores, cada
uma com duas pessoas conversando durante todo o tempo. As duplas estariam
isoladas umas das outras, não havendo, portanto, risco de que pudessem ouvir
a conversa de outra dupla.
Caso estivessem em um sistema TDMA, haveriam três duplas se revezando
em cada sala, cada uma com um tempo pré-determinado para conversar e então
dar lugar a uma nova dupla. Após o fim do tempo da terceira dupla, a primeira
volta À sala para continuar a conversação.
No CDMA todos os pares estão na mesma sala, mas falando línguas
diferentes. Cada um entende somente o seu parceiro, apesar de estar ouvindo as
conversas paralelas na sala. Caso uma dupla comece a falar mais alto, todos
terão que elevar o volume da sua voz, e assim sucessivamente até que todos
estejam gritando e ninguém mais se entenda. Por isto é tão importante o
controle de potência dos móveis, uma vez que todos estão “espalhados”
na mesma freqüência, numa banda de 1,23 MHz.
Para a implementação de comunicação bidirecional full-duplex,
pode-se utilizar divisão no tempo (TDD - Time
Division Duplex) ou na freqüência (FDD – Frequency
Division Duplex). No TDD, as duas direções de comunicação utilizam uma
mesma faixa de freqüências comum, mas instantes de tempo distintos. Por
outro lado, no FDD, cada sentido utiliza faixas distintas de freqüências,
separadas convenientemente para evitar interferências, permitindo um full
duplex real, pois a informação pode trafegar nos dois sentidos
simultaneamente. O TDD requer sincronização e tempo de guarda entre slots
de ambos os sentidos, também para evitar interferência. Observa-se que o TDD,
por utilizar a mesma faixa de freqüências, permite que a comunicação
mantenha a mesma qualidade em ambos os sentidos.
Arquitetura
faixa estreita
Em geral, a arquitetura faixa estreita está associada a sistemas com
alta capacidade – o número de canais em que a banda é dividida dá uma
dimensão da capacidade do sistema quanto ao número de usuários – mas,
muitas vezes, baixa qualidade de transmissão – muitos canais significa
banda pequena para cada canal. Nesse sentido, há um esforço para que se
utilize técnicas de modulação que permitam qualidade de voz aceitável sem
que se aumente a banda ocupada pelos canais, ou até, que se reduza a banda
ocupada. Outro aspecto é a necessidade de se utilizar filtros estreitos para
minimizar a interferência de canal adjacente, o que contribui para o aumento
no custo de equipamento. E ainda, em sistemas faixa estreita, o sinal
propagante sofre o chamado desvanecimento não seletivo ( ver figura abaixo)
em freqüência, ou seja, quando ocorre um desvanecimento toda a informação
contida no canal é afetada, pois o canal é, em geral, muito estreito.
Arquitetura
faixa larga
As
técnicas de acesso que se utilizam dessa arquitetura são o TDMA faixa larga
e o CDMA, sendo que este último freqüentemente usa toda a faixa disponível.
Como grande vantagem dessa abordagem, pode-se citar o fato de que a banda
utilizada é maior que a banda dentro da qual ocorre desvanecimento não
seletivo – ver figura abaixo (banda de coerência). Ou seja, o sinal faixa
larga experimenta desvanecimento seletivo em freqüência e, então, apenas
uma fração das freqüências que o compõem é afetada pelo desvanecimento.
Da mesma forma, interferências também podem ser minimizadas com o uso dessa
arquitetura.
FDMA
A
maneira usual de se realizar um esquema FDMA é através da associação de um
canal a cada portadora. Esse esquema é conhecido por Canal Único por
Portadora (SCPC – Single Channel per
Carrier). Os canais possuem bandas de guarda nas suas extremidades, que são
pequenas faixas de freqüências destinadas a minimizar o efeito causado por
filtros e osciladores imperfeitos, ou seja, minimizar a interferência de
canal adjacente gerada pela invasão de um canal na faixa ocupada pelos seus
canais adjacentes. Usualmente, o que se chama de “canal” são as duas
bandas associadas ao par de portadoras, direta (base para móvel) e reversa (móvel
para base).
Sistemas FDMA são sempre FDD e usualmente implementados segundo a arquitetura
faixa estreita. Tanto sistemas analógicos como digitais podem ser
implementados com a técnica FDMA.
Principais
características do FDMA
-
implementação usual baseada em SCPC;
-
transmissão contínua – uma vez alocados, os canais são usados
continuamente pela base e pelo
móvel até o fim da comunicação;
-
banda estreita – como cada porção de freqüência é utilizada por um único
usuário, a banda necessária é relativamente pequena, variando de 25-30
KHz em sistemas analógicos. Em sistemas digitais, o uso de codificação
de voz a baixa taxa pode diminuir ainda mais a banda necessária;
-
baixa sobrecarga de informações de controle (overhead)
– os canais de voz carregam também mensagens de controle, como handoff
por exemplo. Pelo fato dos canais alocados serem usados continuamente, pouco
espaço é necessário para controle se comparando ao TDMA, por exemplo;
-
uso de duplexador – como a transmissão é full-duplex
e usa-se apenas uma antena para transmissão e recepção, deve-se usar um
duplexador para fazer a filtragem entre recepção e transmissão e, assim,
evitar interferências entre ambas;
-
alto custo de estações base – a arquitetura SCPC requer que um
transmissor, um receptor, dois codecs (codificador / decodificador) e dois
modems (modulador / demodulador) sejam usados para cada canal numa estação
base. A alocação de mais usuários em uma mesma portadora, tornaria o
sistema mais econômico nesse aspecto;
-
handoff perceptível – pelo fato
da transmissão ser contínua, a comutação entre freqüências no processo
de handoff é perceptível (audível)
ao usuário.
TDMA
Como
dito, o TDMA permite implementação em faixa estreita e faixa larga. No TDMA
faixa larga, toda ou grande parte da banda disponível é alocada a cada usuário
por determinado intervalo de tempo, denominado slot.
Em cada slot de tempo apenas um usuário
terá acesso a toda (ou grande parte) da banda.
No TDMA faixa estreita, o usuário tem acesso a uma pequena porção da
banda por determinado intervalo de tempo (slot).
A figura a seguir, ilustra o conceito TDMA faixa estreita. No TDMA faixa larga
não haveria as subdivisões faixa 1, faixa 2, ... faixa M, ou elas seriam em
número muito reduzido comparado ao faixa estreita.
O canal TDMA é definido pelas duas combinações [porção da banda (faixa), slot]
alocadas ao usuário, para o link
direto e reverso. O TDMA permite utilização tanto de FDD como de TDD.
Como visto, uma única portadora é compartilhada em vários slots
de tempo, ou seja, é compartilhada por vários usuários, cada qual em seu
instante determinado. Esse mecanismo diferencia o TDMA do FDMA pois, no último,
o esquema SCPC fazia com que cada portadora fosse alocada a apenas um usuário
até o fim de sua comunicação.
A
transmissão entre móvel e base é feita de forma não contínua. A transmissão
entre móvel-base é feita em rajadas, ocorrendo apenas no instante de tempo (slot)
reservado para que o móvel transmita e/ou receba. Nos demais instantes de
tempo, outros usuários poderão ter acesso à mesma portadora sem, portanto,
que as comunicações interfiram entre si.
Pelas
características apresentadas, a tecnologia digital é a única adequada para
o tipo de transmissão envolvido, de forma que sistemas TDMA são sempre
digitais.
Principais características do TDMA
-
vários canais por portadora – como dito, uma portadora é utilizada em vários
instantes de tempo distintos, cada qual correspondendo a um canal (usuário).
No sistema Americano IS-54, usa-se três slots
por portadora, enquanto que no sistema Europeu GSM cada portadora atende a
oito slots;
-
transmissão em rajadas (bursts)–
como cada portadora é compartilhada no tempo, cada usuário transmite ou
recebe sua informação numa rajada dentro dos respectivos slots.
Essa forma de transmissão também leva a uma maior economia de bateria se
comparado ao FDMA;
-
faixa larga ou faixa estreita – a banda de cada canal depende de vários
fatores, como o esquema de modulação. Dependendo do sistema os canais variam
de dezenas a centenas de kHz. Como exemplo, o GSM usa canais de 200 KHz,
enquanto que no IS-54 os canais são de 30 kHz;
-
alta sobrecarga de informações de controle (overhead)
– a característica de transmissão em rajadas requer um tratamento mais
minucioso no que diz respeito à sincronização. Os bits requeridos nesse
tratamento em conjunto com o fato de haver tempos de guarda entre slots
(equivalente à banda de guarda, na freqüência), gera um alto overhead;
-
eletrônica complexa – por usar tecnologia digital, muitos recursos podem
ser agregados na unidade móvel, aumentando sua complexidade;
-
não requer o uso de duplexador – como transmissão e recepção acontecem
em slots distintos, é desnecessário
o uso de duplexador. O que há é um switch
que liga / desliga o transmissor / receptor quando este não está em uso. O
uso de duplexador é dispensável mesmo no TDMA/FDD pois, nesse caso, o que se
faz usualmente é acrescentar intencionalmente alguns intervalos de tempo
entre os slots de transmissão e
recepção para que a comunicação
nos dois sentidos não ocorra exatamente no mesmo instante [1] ;
-
baixo custo de estações base – como são usados múltiplos canais por
portadora, o custo pode ser reduzido proporcionalmente;
-
handoff eficiente – o handoff
pode ser realizado nos instantes em que o transmissor do móvel é desligado,
tornando-se imperceptível ao usuário;
-
uso eficiente da potência, por permitir que o amplificador de saída seja
operado na região de saturação;
-
vantagens inerentes a sistemas digitais, como capacidade de monitoração da
comunicação quadro a quadro, por exemplo.
A Figura abaixo ilustra um
quadro (frame) de informação
usado em sistemas TDMA. Cada slot
é composto de um preâmbulo e bits de informação associados a cada usuário
(exemplo de quadro da base para usuários). O preâmbulo tem como função
prover identificação, controle e sincronização na recepção. Tempos de
guarda são utilizados para minimizar a interferência entre canais (cross
talk). Ainda na Figura
, cada usuário de um mesmo slot
ocupa a sua respectiva faixa de freqüências. Uma vantagem do TDMA é que
pode-se alocar diferentes números de slots
por quadro para cada usuário, provendo uma forma de banda por demanda, de
acordo com as necessidades de comunicação (de dados, no caso) de cada usuário.
Quadro (frame) do TDMA