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      Artigos 
      de Michael Stanton 
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      de Artigos 
        
      -
      A reforma do Comitê Gestor 
      da Internet no Brasil    [06/03/03] 
		 
      -
      ICANN vem ao Rio de Janeiro    
      [23/02/03] 
		 
      -
      
      ICANN na encruzilhada  [04/03/02]    
       
		 
      -
      ICANN: a questão da 
      representatividade    [17/06/01] 
		 
      -
      Como vai a ICANN?    
      [09/04/01] 
		 
      -
      Os resultados das eleições para a ICANN    
      [16/10/00] 
		 
      -
      Eleições na Internet - a fase final
            [25/09/00] 
		 
      - 
      Os eleitores da 
      ICANN   [31/07/00]   
       
		 
      -
      Eleições para a Internet    
      [24/07/00]  
        
	
      Nota inserida em 12/11/15: 
	Todas as colunas de Michael Stanton (publicadas no Estadão) sobre 
	vários assuntos
	
	estão colecionas aqui. 
   
        
      
      A reforma do Comitê Gestor 
      da Internet no Brasil      [06/03/03] 
       
       
      Na coluna anterior foi mencionado brevemente o Comitê Gestor Internet 
      (CGI) (www.cg.org.br), cuja existência está intimamente associada à fase 
      pública (e comercial) da Internet que começou em fins de 1994. O CGI foi 
      criado pelo governo federal em 1995 e ficou encarregado de uma série de 
      responsabilidades sobre o funcionamento da Internet no país, 
      caracterizadas como exercício de governança. Estas responsabilidades 
      incluíam: a) fomentar o desenvolvimento de serviços Internet no Brasil; b) 
      recomendar padrões e procedimentos técnicos e operacionais para a Internet 
      no Brasil; c) coordenar a atribuição de endereços Internet, o registro de 
      nomes de domínios, e a interconexão de espinhas dorsais; d) coletar, 
      organizar e disseminar informações sobre os serviços Internet. (Da nota 
      conjunta dos ministérios de Comunicações (MC) e de Ciência e Tecnologia (MCT) 
      de junho de 1995: www.cg.org.br/regulamentacao/notas.htm) 
       
      Inicialmente o CGI contava com nove membros, indicados em conjunto por 
      estes dois ministérios para representar diversos interesses do governo e 
      da sociedade civil. O número de membros foi aumentado para 12 em 1999, 
      sendo cinco representantes do governo, e sete representantes de grupos na 
      sociedade que têm relações funcionais com a atividade de manter ou usar 
      uma infra-estrutura de redes de comunicação por computador. É notável que 
      os representantes destes grupos são indicados pelos dois ministérios e não 
      por organizações pertencentes aos grupos representados. Os grupos são: 
       
      os provedores de infra-estrutura de telecomunicações;  
      os provedores de acesso e serviço de Internet;  
      a indústria de informática e software;  
      a comunidade acadêmica;  
      a comunidade empresarial;  
      a comunidade de usuários do serviço Internet;  
      a comunidade educacional e cultural;  
      (Da portaria interministerial no. 188 de 23/11/1999: www.cg.org.br/regulamentacao/port188.htm) 
      A atual representação do governo e também dos provedores de 
      infra-estrutura de telecomunicações tinham mandato de 3 anos, que venceria 
      em novembro passado e foi prorrogado até o próximo dia 23 de março, para 
      não deixar o CGI acéfalo no início do novo governo. Caberá portanto ao 
      governo federal deliberar sobre seus novos titulares. Os demais 
      representantes tinham mandato de dois anos, que já foi renovado uma vez.
       
       
      Ultimamente o CGI vem discutindo propostas de reformulação da sua 
      composição e funcionamento. Na sua reunião de janeiro último, foi 
      apresentado e discutido o esboço de uma possível reforma, baseada em 
      câmaras de representação de setores ou grupos na sociedade: setor governo, 
      setor privado, terceiro setor, área de ciência e tecnologia, e assim em 
      diante. O CGI também resolveu ampliar o debate, planejando para logo em 
      seguida três seminários setoriais, para o setor governo, o setor privado e 
      o terceiro setor. Os últimos dois destes seminários foram realizados 
      durante a semana antes do Carnaval, tendo sido realizado no Rio de Janeiro 
      o evento para o terceiro setor. Podemos ver, portanto, que está sendo 
      investida muita energia na discussão deste assunto governança da Internet 
      e sua reformulação. Como governança da Internet normalmente é considerada 
      uma área bastante técnica, seria apropriado perguntar qual o motivo para 
      realizar esta discussão exatamente agora. Para entender isto, é necessário 
      saber mais sobre a história da Internet no país, e sobre o funcionamento 
      operacional do CGI. 
       
      A viabilidade da Internet exige que sejam administrados eficazmente os 
      endereços de rede (endereços IP) e os nomes de domínio (DNS). A nível 
      mundial, estas funções são hoje da ICANN, como descrito na coluna 
      anterior. Ao nível nacional, elas hoje são do CGI, mas não foi sempre 
      assim. No final dos anos 1980, a FAPESP se ofereceu à IANA (Internet 
      Assigned Numbers Authority), a antecessora da ICANN, para assumir a 
      administração do domínio de nomes .br. Nessa época, a IANA concedeu esta 
      delegação, e a FAPESP começou a cadastrar estes nomes, primeiro para 
      instituições, principalmente acadêmicas, ligadas à rede BITNET, depois à 
      Internet. Quando começou a Internet comercial, a FAPESP criou novos 
      domínios com.br, org.br e assim em diante. Depois da criação do CGI em 
      1995, a FAPESP continuou a administrar os nomes de domínio, 
      subordinando-se às políticas determinadas pelo CGI, tornando-se assim seu 
      braço operacional, conhecido como o Registro Nacional (registro.br).  
       
      A outra função assumida pelo registro.br foi de administrar endereços de 
      rede. Antes de 1995, endereços IP para uso no país eram obtidos 
      diretamente da IANA. Em dezembro de 1994, com a iminência do início da 
      operação comercial da Internet no Brasil, foi negociada com a IANA por 
      representantes da rede acadêmica a delegação também à FAPESP da 
      administração de endereços IP, com a criação do "bloco CIDR do Brasil", 
      usado quase universalmente na montagem da atual rede Internet brasileira. 
       
      A administração de endereços e domínios gera custos. Embora seja em grande 
      parte automatizado, os sistemas do Registro tiveram que ser montados e 
      mantidos. Adicionalmente é necessário manter em funcionamento os 
      servidores de nomes (DNS), essenciais para o uso corriqueiro da rede. Em 
      outros países, estes serviços são cobrados das entidades usuárias que 
      precisam obter endereços de rede para seus computadores e registrar nomes 
      de domínio para seus sítios. Nos EUA, por exemplo, endereços IP são 
      administrados pelo ARIN (www.arin.net) e nomes de domínio por uma pletora 
      de organizações, das quais a maior (em termos do número de usuários dos 
      seus domínios .com e .net) é Network Solutions, agora controlada pela 
      Verisign (www.networksolutions.com). Ambas estas organizações são empresas 
      comerciais, e a concessão da administração destes serviços, renovada 
      recentemente pela ICANN no caso da Network Solutions, dá alegria a seus 
      controladores pela receita e os lucros proporcionados. 
       
      Sim, a receita destes serviços gera "excedentes" sobre os custos de 
      operá-los. Vamos olhar um pouco a situação de Registro nacional, que 
      possui monopólio destes serviços no Brasil. Segundo suas estatísticas, 
      hoje são cadastrados no seu sistema de nomes de domínios nada menos que 
      438.872 nomes distintos (registro.br/estatisticas.html). Pelo convênio 
      celebrado com o CGI em 1998, a FAPESP opera este serviço, usando seu CNPJ 
      para efetuar a cobrança. Desde o início de cobrança para o registro de 
      nomes, que começou em 1998, os usuários deste serviço vêm pagando R$40 
      para o primeiro registro de um nome e mais R$40 de manutenção anual. 
      (Nunca houve cobrança para registrar endereços de rede.) Mesmo supondo que 
      não houve nenhum nome novo registrado em 2002, a mera cobrança de 
      manutenção anual do número atual de nomes cadastrados, descontando as 
      poucas isenções, teria gerado receita superior a R$17 milhões, recolhidos 
      pelos usuários Internet de todo o país aos cofres da FAPESP. Desta receita 
      são pagas as despesas de operação do Registro nacional, as despesas 
      diretos do CGI, cujos membros não são remunerados, e de seus grupos de 
      trabalho, e o financiamento eventual de projetos aprovados pelo CGI para 
      promover a Internet. Estes já incluíram a realização de estudos, a 
      montagem de redes experimentais de alta velocidade em sete cidades, a 
      realização de congressos e eventos, e a participação de representantes do 
      CGI em eventos no exterior. Entretanto a receita em muito excede as 
      despesas, e até o final do ano passado, o saldo líquido nos cofres da 
      FAPESP já excedia R$50 milhões, nada mal por uma operação sem fins 
      lucrativos. 
       
      Dinheiro desta ordem naturalmente chama atenção. Sabe-se que a atual 
      administração da FAPESP já questionou a propriedade de permitir que este 
      dinheiro seja usado para financiar qualquer coisa que não seja financiado 
      normalmente por ela, ou seja, que este dinheiro deveria ser usado apenas 
      para projetos de pesquisadores do estado de São Paulo. Em outras palavras, 
      a FAPESP estaria rejeitando a noção que o CGI tenha competência para 
      determinar o destino de dinheiro que entrou na FAPESP em conseqüência da 
      delegação pelo CGI à FAPESP da operação do serviço do Registro, apesar do 
      fato das operações serem evidentemente de âmbito nacional e não estadual. 
      Esta questão parece ainda estar em aberta.  
       
      As recentes iniciativas do CGI pretendem encerrar esta relação histórica 
      com a FAPESP, com a criação de uma pessoa jurídica própria do CGI, ou do 
      seu sucessor, que assumiria a operação do Registro e teria a autonomia 
      inquestionável para deliberar sobre o uso dos recursos gerados. Por outro 
      lado as discussões sobre como seria o eventual sucessor do CGI, abertas 
      recentemente com grupos ou setores que não tivessem tido envolvimento 
      direto com as suas atividades históricas, às vezes parecem dar mais 
      importância à administração de forma apropriada do "excedente" gerado por 
      suas operações técnicas, do que com o aperfeiçoamento destas operações. 
      Parece equivocado este enfoque, pois a operação do registro é mantida como 
      serviço público, e não há porque ele deve gerar este "excedente", devendo 
      ser arrecadado estritamente o essencial para cobrir os custos de realizar 
      o serviço. Qualquer cobrança adicional teria o caráter de imposto. O 
      "excedente" só existe porque as taxas cobradas pelo Registro são 
      excessivamente altas. Reconhecimento desta distorção foi dado 
      recentemente, quando na sua reunião de janeiro último, o CGI aboliu a taxa 
      do primeiro registro de um domínio, e reduziu de R$40 para R$30 a taxa 
      anual de manutenção. Mesmo este valor continua alto, pois a arrecadação 
      ainda deverá permanecer na casa dos R$13 milhões, ainda bastante superior 
      a suas necessidades reais. 
       
      Tirando das discussões sobre o futuro do CGI o chamariz de deliberar de 
      que forma deverá ser aplicado o "excedente" das operações do Registro, 
      estas discussões podem voltar a concentrar-se na questão quase 
      inteiramente técnica de manter a eficácia do funcionamento da Internet no 
      país, como vem sendo feito há oito anos. Para tanto, a representação dos 
      interesses no futuro CGI não deveria seguir um modelo muito diferente do 
      que o atual, exceto que a indicação dos seus membros deveria deixar de ser 
      feita pelo governo, passando a ser feita por câmaras funcionais que 
      reunissem democraticamente as entidades pertencentes aos grupos 
      identificados no segundo parágrafo desta coluna. Deste ponto de vista não 
      parece nada apropriada a representação de interesses por setores da 
      economia (setor privado, terceiro setor), pois as diferenças de enfoque 
      que poderiam ser debatidos num foro como o novo CGI teriam pouco a ver com 
      em que parte da economia se classifica as organizações cujos interesses 
      estão em jogo.  
       
      Por exemplo, a comunidade acadêmica vem desempenhando um papel 
      importantíssimo no desenvolvimento da Internet no país, tendo introduzido 
      esta tecnologia entre nós, e ainda promovendo o seu aprimoramento para 
      construir as próximas gerações da Internet. Nesta comunidade, que estaria 
      dividida entre o setor governo e o setor privado por considerações 
      meramente "setoriais", estão encontrados os maiores pensadores sobre as 
      tecnologias usadas hoje e futuramente nesta grande rede de comunicação, e 
      sobre as conseqüências para a sociedade da extensão entre nós do seu uso. 
      Ela também oferece uma crítica desinteressada de iniciativas mal 
      concebidas com conseqüências indesejáveis, como exemplificada por nossa 
      coluna de 5 de fevereiro de 2001, onde foi analisada a proposta do CGI de 
      obrigar as universidades a migrarem para nomes de domínio da categoria edu.br, 
      felizmente transformada a tempo em uma migração voluntária. Pela 
      comunidade acadêmica sobre assuntos de tecnologias de informação e 
      comunicação fala a Sociedade Brasileira de Computação (www.sbc.org.br). 
       
      É claramente importante que exista uma entidade com as atribuições do CGI 
      atual, e que sejam sanados os problemas identificados ao longo dos oito 
      anos do seu funcionamento. Entretanto á também importante que uma eventual 
      reforma seja feito apenas do essencial, para manter a estabilidade do 
      funcionamento do sistema complexo de comunicação que é a Internet 
      brasileira. 
       
   
        
      
      ICANN vem ao Rio de Janeiro
          [23/02/03] 
       
      Já escrevi neste espaço várias vezes sobre a ICANN - Internet Corporation 
      for Assigned Names and Numbers, responsável em última análise para a 
      administração de endereços IP e nomes de domínios, descrevendo suas 
      origens como a solução para tirar o governo norte-americano do 
      envolvimento direto desta administração, tendo sido ele substituído por 
      uma organização não governamental, com representatividade internacional. 
      Ao longo do ano 2000 descrevi o processo um tanto tumultuado da realização 
      das primeiras (e últimas) eleições diretos pelos usuários da Internet de 
      cinco dos dezoito diretores da ICANN, por um mandato de 2 anos a partir de 
      novembro daquele ano. (Os demais diretores são eleitos indiretamente.) 
      Entre os eleitos de 2000 estava o brasileiro Ivan Moura Campos, escolhido 
      com os votos da América Latina e o Caribe.  
       
      A última vez que escrevi sobre a ICANN foi na coluna de 4 de março de 
      2002, quando foi apresentado o quadro de pressões, inclusive a reação 
      negativa a este processo eleitoral, que levariam a ICANN a reformular sua 
      estrutura organizacional, nesta altura já bastante adiantada. A nova 
      estrutura torna indiretas todas as eleições para diretores, porém fingiu 
      respeitar o processo eleitoral através da prorrogação dos mandatos dos 
      diretores eleitos pelo voto direto em 2000. É notável que todos os cinco 
      diretores que deviam seus cargos ao processo de eleição direta aceitaram a 
      prorrogação dos seus mandatos. 
       
      Este processo de reorganização da ICANN pretende fazer mais do que apenas 
      eliminar a eleição direta dos diretores - ele procura também promover a 
      solidez e a independência financeira da entidade, através de uma espécie 
      de imposto anual (de US$0,25) cobrado sobre a concessão de nomes de 
      domínios. Adicionalmente tenta reforçar e aumentar o poder da ICANN de 
      exercer controle sobre a administração da Internet. Um bom exemplo disto é 
      a criação de novos nomes de domínio de mais alto nível. Estes nomes são de 
      dois tipos: são os nomes de mais de duzentos países, todos de duas letras 
      como .br do Brasil, e os nomes ditos genéricos, que têm três ou mais 
      letras. Estes nomes genéricos são poucos, e até 2000, só havia quatro de 
      uso geral: .com, .edu, .net e .org. A administração dos nomes .com, .net e 
      .org foi repassada há vários anos para a empresa Network Solutions, 
      adquirida depois pela Verisign, e se tornou um negócio muito rentável. Nos 
      últimos anos a ICANN estendeu por vários anos esta concessão à Verisign no 
      caso dos domínios .com e .net, mas transferiu .org à Internet Society. Em 
      2000 permitiu a criação de sete novos domínios genéricos, dos quais quatro 
      são alternativas aos domínios tradicionais (.biz, .info, .name e .pro). 
      Evidentemente, esta administração da escassez (tecnicamente desnecessária) 
      de nomes genéricos tem conseqüências importantes no mundo dos negócios, e 
      serve para demonstrar como a ICANN pode exercer o poder.  
       
      Neste ponto é talvez desejável comentar brevemente o papel complementar à 
      ICANN exercido no Brasil pelo Comitê Gestor Internet (CGI) (www.cg.org.br), 
      atualmente presidido pelo mesmo Ivan Moura Campos que é um dos diretores 
      da ICANN eleitos em 2000. O CGI foi criado por portaria interministerial (MCT 
      e Minicom) de 1995 e é composto de 12 membros nomeados pelos dois 
      ministérios. Ele dita a nível nacional as regras de administração de nomes 
      e endereços Internet, e tem como braço operacional o registro-BR 
      (www.registro.br) criado e operado pela FAPESP desde 1989. O registro 
      administra o domínio nacional .br, e cobra dos seus usuários uma taxa de 
      administração para cada nome de domínio concedido. Comparado com a ICANN, 
      o CGI mostrou muito mais imaginação do que a ICANN em criar nomes 
      genéricos, de segundo nível, da forma XX.br, onde XX pode ser, alem dos 
      tradicionais com, edu, net e org, uma entre 53 alternativas listadas em 
      registro.br/info/dpn.html. Entretanto, diferente dos nomes genéricos da 
      ICANN, cuja concessão foi terceirizada, no caso nacional a administração 
      de nomes é um monopólio, sendo que os recursos arrecadados pela concessão 
      dos nomes deverá reverter-se ao desenvolvimento da Internet no país. 
       
      Voltando à ICANN, deve-se notar que ela vive um certo tumulto, não apenas 
      em função das querelas sobre a constituição da sua diretoria e sobre o 
      impacto comercial das suas decisões, como também pela contestação do seu 
      poder pelas entidades nacionais que administram os domínios nacionais de 
      mais alto nível - os chamados ccTLDs. Em fevereiro do ano passado, o 
      presidente da ICANN tornou pública sua visão de como a ICANN deveria ser 
      reorganizado (www.icann.org/announcements/announcement-24feb02.htm). Em 
      resposta os registros nacionais europeus, através da seu conselho CENTR, 
      se manifestou propondo uma outra visão de como a ICANN deveria se 
      relacionar com os administradores dos ccTLDs, rejeitando que a ICANN deve 
      servir de um "super-registro para ccTLDs", que determinaria políticas 
      globais para a Internet, pois ela não teria a legitimidade para tal, sendo 
      hoje uma organização norte-americana (www.centr.org/docs/statements/approved-ICANN-response.html). 
      O debate subseqüente tem animado as reuniões públicas da ICANN, por 
      exemplo, a última reunião em China em outubro passado (www.theregister.co.uk/content/archive/27860.html), 
      onde os administradores dos ccTLDs estavam pressionando para alterações na 
      nova estrutura da ICANN para refletir a importância das suas vozes.  
       
      O último lance desta guerra surda ocorreu menos de um mês atrás, quando o 
      governo norte-americano publicou de maneira bastante discreta a notícia 
      que pensava em renovar por mais três anos seu acordo com a ICANN, dando 10 
      dias para receber propostas alternativas. Esta notícia caiu no 
      conhecimento público seis dias depois, e no décimo dia o administrador do 
      ccTLD britânico se manifestou propondo que fossem destacadas da ICANN 
      certas funções pertinentes para os ccTLDs, avisando que o CENTR enviaria 
      sua própria correspondência mais tarde (www.theregister.co.uk/content/6/29259.html). 
      Nas palavras da revista que noticiou estes acontecimentos, "a Internet 
      está a um passo da guerra". 
       
      Esta então será a ICANN que se reunirá num hotel de Copacabana entre os 
      dias 23 e 27 de março (www.icann.org.br/rio/). As reuniões serão públicas 
      e admissão é gratuita. Além dos participantes oficiais, haverá também a 
      afluência ao Rio de grupos de interesses, bem como de observadores da 
      mídia, especialmente a eletrônica (v. por exemplo o sítio www.icannwatch.org, 
      dedicado a assuntos da ICANN). O evento do Rio também trará um curso 
      (pago) de direito da Internet, do Instituto Berkman da Universidade 
      Harvard, a ser oferecido juntamente com a Fundação Getúlio Vargas durante 
      a mesma semana num outro hotel em Copacabana (cyber.law.harvard.edu/ilaw/brazil03/brazil.html). 
      Este curso terá um corpo de professores do mais alto nível, incluindo 
      Larry Lessig, hoje da Universidade Stanford (v. coluna de 17 de fevereiro 
      de 2002). Por alguns dias, pelo menos, o Rio se tornará um dos pontos 
      focais da Internet.   
        
      
      
      ICANN na encruzilhada    [04/03/02] 
       
      Confesso ter deixado de lado o assunto da ICANN, desde a coluna de 17 de 
      junho de 2001. ICANN, a Internet Corporation for Assigned Names and 
      Numbers (www.icann.org), foi criada em 1999 para assumir a coordenação de 
      trabalhos de administração global de endereços, nomes de domínio e outros 
      detalhes dos protocolos usados na tecnologia Internet. Antes esta função 
      era realizada pela Internet Assigned Numbers Authority - IANA, na pessoa 
      do saudoso Jon Postel, sob contrato do governo dos EUA. A transferência 
      para uma empresa privada sem fins lucrativos era vista como um passo 
      essencial na globalização da Internet, pois era inconcebível manter o 
      funcionamento desta nova estrutura sujeito aos caprichos de um único 
      governo nacional. Depois de longo período de debate foi encaminhada 
      proposta para a criação da ICANN, que acabou sendo modificada pelo governo 
      dos EUA para introduzir maior consideração para a participação da 
      comunidade de usuários, e não apenas as pessoas e empresas que proveriam a 
      tecnologia usada e os serviços consumidos. Enfim, foi aprovado que ICANN 
      teria 18 diretores, divididos igualmente entre representantes de usuários 
      e dos provedores dos diferentes serviços, além do executivo principal, que 
      seria nomeado pelos demais diretores. Os 9 vagas de diretor previstas para 
      os usuários foram preenchidos por nomeação. Em 2000, 5 destes diretores 
      nomeados foram substituídos por outros 5, eleitos por voto de pouco mais 
      de 30.000 "sócios individuais" da ICANN, para representar 5 regiões 
      geográficas. No caso da região AL&C (América Latina e o Caribe), foi 
      eleito o brasileiro, Ivan Moura Campos, atual presidente do Comitê Gestor 
      Internet-BR (www.cg.org.br). O mandato dos eleitos vai até novembro deste 
      ano. 
      Estes diretores eleitos eram vistos como pessoas de fora da cultura 
      vigente até então na ICANN, onde todos os demais diretores haviam sido 
      nomeados/escolhidos por processos "controlados". Dos 5 novos diretores, 
      dois haviam sido eleitos com plataformas claramente oposicionistas, 
      prometendo lutar para mudar o estilo de operação da ICANN que havia sido 
      adotado até então, e especialmente o papel determinante do quadro de 
      funcionários permanentes, em detrimento dos diretores, de tempo parcial e 
      não remunerados. Era o temor das conseqüências de eleições diretas que fez 
      com que decidiu-se preencher apenas 5 das 9 vagas por eleição em 2000, 
      decisão que ajudou a tumultuar o processo naquele ano. 
       
      Como explicada na coluna de 17 de junho de 2001, logo depois da posse dos 
      diretores eleitos, já foi dado início a um estudo, presidido pelo antigo 
      primeiro ministro da Suécia, Carl Bildt, para avaliar o papel dos 
      diretores eleitos e eventualmente apresentar propostas para modificá-lo e 
      o processo da sua seleção. A comissão Bildt já entregou seu relatório 
      final em novembro de 2001 (www.atlargestudy.org/final_report.shtml), onde 
      foi recomendado manter a participação de diretores eleitos pelos usuários, 
      porém foi sugerido que estes diretores deveriam ser limitados a um terço, 
      não metade, do total, sendo os demais escolhidos para representar os 
      interesses, respectivamente, dos provedores de serviços e de entidades 
      empenhados no desenvolvimento tecnológico da Internet. Ao invés de manter 
      o funcionamento das eleições de 2000, quando era permitido inscrever-se 
      como eleitor qualquer pessoa com 16 anos que possuía um endereço de 
      correio eletrônico e outro de correio postal, foi proposto limitar o 
      eleitorado apenas aos responsáveis de nomes de domínio Internet (como 
      estadao.com.br ou pizzadaesquina.com.br), o que permitiria maior confiança 
      na autenticidade dos eleitores, uma vez que estas pessoas já estariam 
      cadastrados em algum registro existente de nomes de domínios.  
       
      Para dar maior substância à representação destes usuários, foi ainda 
      sugerido que fosse criada uma entidade básica da ICANN (uma "supporting 
      organization"), para se juntar às existentes nas áreas de endereços, nomes 
      e protocolos. Esta organização, como a própria eleição dos diretores, 
      continuaria a ser baseada em blocos geográficos regionais, tendo sido 
      sugerida a divisão em dois do atual bloco da Ásia/Australásia, entre uma 
      parte que incluiria os países do centro, sul e oeste da Ásia, e a outra 
      que ficaria com o restante (o chamado bloco "Ásia/Pacífico"). Estas 
      modificações seriam efetuadas em tempo para novas eleições para diretor 
      antes do fim em 2002 do mandato dos diretores eleitos em 2000.  
       
      O relatório da comissão Bildt foi criticado por integrantes de estudo 
      paralelo, chamado NAIS (www.naisproject.org), criado na mesma época, e 
      reunindo integrantes da academia e de organizações não governamentais (ONGs), 
      com a participação do brasileiro Carlos Afonso da Rede de Informações para 
      o Terceiro Setor - RITS (www.rits.org.br). Para o NAIS, o mais importante 
      era a ampla participação da comunidade de usuários, e ele não apenas 
      aprovou a experiência das eleições de 2000, como queria estendê-lo 
      enormemente. Portanto, o NAIS criticou duramente as propostas da comissão 
      Bildt que eram vistas como maneira de limitar a participação na ICANN dos 
      usuários individuais da Internet. Pelo menos em um ponto a comissão Bildt 
      cedeu às críticas do NAIS, e incluiu na versão final do seu relatório a 
      recomendação de proteger a presença de diretores eleitos na ICANN, pelo 
      exigência de uma maioria qualificada para votações futuras de mudança de 
      estatutos da ICANN, impedindo que fossem alterados os estatutos, 
      eliminando os diretores eleitos por maioria simples dos votos da 
      diretoria.  
       
      A expectativa da comissão Bildt era de discussão e votação das suas 
      recomendações na reunião anual do ICANN em novembro passado. Entretanto, 
      alegando a necessidade emergencial de dar prioridade a discussões da 
      segurança da Internet na esteira dos atentados de 11 de setembro, o novo 
      executivo principal da ICANN, Stuart Lynn, postergou para a reunião 
      seguinte, de março de 2002, a discussão do relatório Bildt (newsbytes.com/news/01/171866.html). 
      A comissão Bildt, entretanto, continuou a estudar a implantação de 
      mecanismos de eleição para implementar suas recomendações em tempo para 
      eleger novos diretores antes da expiração dos mandatos atuais em novembro 
      de 2002 (www.atlargestudy.org). 
       
      Esta então era a situação da ICANN até uma semana atrás, quando foi 
      realizado um "retiro" (para não ser qualificado de reunião) da diretoria 
      na capital dos EUA. Neste retiro, amplamente divulgado e discutido nos 
      dias seguintes, a novidade foi a apresentação por Stuart Lynn da sua visão 
      apocalíptica da iminente falência funcional da ICANN, e de sua proposta 
      para uma reformulação completa da instituição, com descarte total da 
      proposta da comissão Bildt, ou de qualquer outra que envolvesse o conceito 
      do usuário individual da Internet (http://www.icann.org/announcements/announcement-24feb02.htm).
       
       
      Alegando que a ICANN estava gastando muito tempo, energia e dinheiro em 
      discutir como representar os usuários individuais, Lynn defendeu que esta 
      função melhor cabia aos governos, e propôs que cinco dos quinze futuros 
      diretores fossem indicados por organizações regionais de governos. Dos 
      demais diretores, cinco seriam indicados por serem consideradas pessoas 
      "preparadas" para a função, e cinco o seriam em função de cargos ocupados 
      dentro da ICANN. Estes cargos incluiriam o executivo principal e os 
      presidentes de quatro conselhos que substituiriam as organizações de 
      suporte atuais (endereços, nomes de domínio e protocolos), e que 
      cuidariam, respectivamente, das políticas de endereços e números, de nomes 
      genéricos (.com, .org e semelhantes), de nomes geográficos (.br, .ar e 
      semelhantes) e de assuntos técnicos. Com exceção dos diretores "ex 
      oficio", os demais indicações teriam que ser aprovadas pela diretoria 
      anterior. Em todos os casos, a representação viria em troca de suporte 
      financeiro. Finalmente, Lynn propôs que não houvesse mais recurso de 
      decisões da diretoria da ICANN. No estatuto original, era prevista, porém 
      ainda não implantada, uma espécie de comissão fiscal da ICANN, com poderes 
      para julgar inválidas decisões da diretoria, e esta comissão não existiria 
      mais, na visão de Lynn. 
       
      A reação não tardou, e vieram de várias direções (v. por exemplo www.icannwatch.org 
      ou as mensagens enviadas entre 24 e 27 de fevereiro à lista IP do Dave 
      Farber - www.interesting-people.org/archives/interesting-people). Muitos 
      críticos concentraram atenção na falta de clareza do que seriam os limites 
      de ação da nova ICANN, e quem os fiscalizaria. Foi comentado também que a 
      ICANN estava se propondo para assumir a gerência do sistema de servidores 
      raiz do sistema de nomes, hoje realizada sem custo por uma série de 
      entidades tradicionais e independentes. Uma destas, a RIPE (responsável 
      pelo registro de nomes e endereços na Europa, e pela operação do servidor 
      raiz europeu) (www.ripe.net) questionou a sabedoria de deixar o sistema de 
      nomes depender inteiramente do funcionamento da ICANN.  
       
      As críticas mais pesadas se dirigiam à tentativa de extinguir liminarmente 
      a experiência com a representação de usuários iniciada em 2000. Não seria 
      exagero dizer que há descrédito geral da capacidade de organizações 
      multinacionais de governos para representar usuários da Internet - a 
      ligação entre umas e outras é tão tênue. Na sua formulação original a 
      ICANN supostamente seria uma maneira a devolver à iniciativa privada, 
      comunitária, incumbências até 1999 cumpridas em nome do governo 
      norte-americano. Agora a direção da ICANN quer abraçar governos, para se 
      livrar das inconveniências da representatividade ampla, e de diretores 
      desbocados. É claro que havia falhas no esquema de votação experimentado 
      em 2000, onde houve clara "captura" dos resultados por eleitores na 
      Alemanha, Brasil e Japão. O relatório Bildt até iria quebrar a 
      continuidade do predomínio pelo menos destes países, por impedir que os 
      sucessores dos atuais eleitos fossem dos mesmos países. É claro que esta 
      medida não acabava com este problema, mas o atenuava.  
       
      A próxima reunião da ICANN será em Accra, Gana, começando domingo que vem, 
      dia 10 de março. Sem dúvida alguma, a reunião será o palco de discussão e 
      debate sobre as diferentes propostas para o futuro funcionamento da 
      entidade. Seria uma boa oportunidade para Ivan Moura Campos, o diretor 
      eleito para nossa região, vir ao público para defender (ou não) os 
      mecanismos de representatividade dos usuários que o elegeram diretor da 
      ICANN. Depois, talvez não tenha outra chance. 
   
        
      
      ICANN: a questão da 
      representatividade     [17/06/01] 
       
      ICANN, a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (www.icann.org), 
      entidade responsável pela administração política dos nomes usados na 
      Internet, já foi o assunto da coluna de 9 de abril, quando discutimos o 
      impacto da chegada de 5 diretores novos, eleitos pelos usuários da 
      Internet em outubro passado. Na semana retrasada, foi realizada uma nova 
      reunião pública da ICANN, em Estocolmo, e houve várias novidades para quem 
      acompanha suas atividades. 
      Por exemplo, houve a revolta dos ccTLDs, ou seja, dos administradores dos 
      "country code Top Level Domains" (domínios nacionais de nível mais alto), 
      tais como o .br do Brasil (www.registro.br). Pelas regras atuais da ICANN, 
      os ccTLDs devem contribuir para a sustentação da ICANN, sem 
      necessariamente ter uma voz na sua direção. A princípio, os ccTLDs teriam 
      esta voz através do Conselho de Nomes, que elege 3 diretores da ICANN, mas 
      esta participação é diluída pela presença simultânea de 6 outras 
      categorias de organização, e sua capacidade de influenciar as decisões da 
      ICANN parece muito pequena em comparação com suas contribuições 
      operacionais ao funcionamento da Internet global. Em Estocolmo, por 
      decisão unânime, os ccTLDs exigiram ter o direito de eleger seus próprios 
      diretores da ICANN.  
       
      Mas a questão mais polêmica continua sendo o futuro da representação dos 
      usuários da Internet, que deveriam eleger nove dos dezenove diretores, dos 
      quais apenas cinco vagas foram preenchidas através da primeira eleição 
      realizada em outubro. É preciso compreender que a inclusão de diretores 
      eleitos pelos usuários não fazia parte da proposta original submetida em 
      1997 ao governo dos EUA, que precisava aprovar a transferência para a 
      ICANN das responsabilidades antes exercidas sob contrato desse governo por 
      uma universidade na Califórnia. Porém, o governo exigiu esta inclusão, e 
      foram modificados os estatutos da ICANN para prevê-la, para ser realizada 
      em alguma data futura. Interinamente, as nove vagas foram preenchidos por 
      pessoas nomeadas, e quatro destas ainda continuam no cargo sem prazo para 
      sair. 
       
      A resistência à eleição se deve à desconfiança sobre seu resultado, que os 
      eleitos não seriam pessoas confiáveis, como seriam aqueles que emergem 
      pelos processos complexos adotados para representar as três áreas de 
      Nomes, Endereços e Protocolos, cada uma das quais elege três diretores 
      através dos seus conselhos. A princípio, os nove diretores eleitos por 
      estes conselhos ou são engenheiros ou advogados, com um forte alinhamento 
      com a Internet comercial. Não se deve esperar que os representantes 
      eleitos pelos usuários tenham o mesmo perfil. Na verdade, dos cinco 
      diretores eleitos pelos usuários em outubro, apenas um poderia ser 
      considerado ter este perfil, Masanobu Katoh do Japão. E dois dos outros, 
      Karl Auerbach (EUA) e Andy Mueller-Maguhn (Alemanha), provavelmente tenham 
      sido eleitos por causa das suas críticas à maneira da ICANN se comportar.
       
       
      O conflito entre as duas maneiras de enxergar o trabalho da ICANN se 
      mostrou na reunião de Estocolmo, quando ambos estes novos diretores 
      falaram de suas experiências no cargo, e da tendência dos diretores de 
      simplesmente aprovarem sem questionamento os encaminhamentos propostos 
      pelos funcionários permanentes da ICANN, os quais consideram muito 
      orientados para os aspectos comerciais da Internet em detrimento dos seus 
      aspectos sociais ou comunitários (www.wirednews.com/news/politics/0,1283,44404,00.html). 
      Na semana seguinte, os dois foram severamente criticados pelo presidente 
      da ICANN, e um dos advogados da organização, que sugeriram que eles 
      representavam apenas uma posição minoritária, mesmo entre os diretores 
      eleitos (www.wirednews.com/news/politics/0,1283,44480,00.html).  
       
      A realização da eleição dos cinco diretores pelos usuários realizada em 
      2000 foi tumultuada pela própria ICANN, que mudou as regras desta eleição 
      várias vezes, e subestimou o interesse que ela geraria. Em janeiro deste 
      ano criou uma comissão de nove pessoas, presidida pelo ex-primeiro 
      ministro da Suécia, Carl Bildt, para reexaminar a questão de como 
      indivíduos podem melhor contribuir à ICANN (www.atlargestudy.org). Esta 
      comissão Bildt vem levantando opiniões a respeito do assunto e pretende 
      apresentar suas conclusões na reunião anual da ICANN em novembro. Na 
      reunião de junho da ICANN foi apresentado um relatório sobre o andamento 
      dos seus trabalhos (www.atlargestudy.org/june_status_report.shtml).  
       
      Outra estudo deste mesmo assunto é o NAIS (NGO and Academic ICANN Study) 
      (www.naisproject.org), um projeto internacional que conta com a 
      participação de 14 profissionais de ONGs ou de entidades acadêmicas, entre 
      os quais três que participaram como candidatos (não eleitos) a diretor da 
      ICANN nas eleições de outubro de 2000. Para subsidiar as discussões da 
      comissão Bildt, o NAIS acaba de publicar seu relatório interino, que, além 
      de delinear as questões que precisam ser respondidas por esta comissão, 
      apresentam uma análise do funcionamento das eleições nas cinco regiões do 
      mundo onde foram eleitos os diretores (www.naisproject.org/report/interim).
       
       
      Achei especialmente interessante ler neste relatório do NAIS os detalhes 
      das eleições de outubro, que tiveram seus resultados distorcidos pela grau 
      de eficiência de registro de eleitores na fase que se encerrou em julho 
      passado. Já foi comentado aqui na coluna de 27 de dezembro de 2000 o 
      sucesso da campanha para inscrever brasileiros como eleitores, e sugerido 
      que poderia ter havido campanhas parecidas na Alemanha e Japão, dois 
      outros países que conseguiram ampla maioria de eleitores nas suas 
      respetivas regiões. Em ambos os países teve efetivamente um campanha 
      amplamente divulgada para incentivar o registro de eleitores, assumida em 
      Japão pelas empresas, incentivadas pelo governo, e na Alemanha pela mídia 
      eletrônica. No Japão havia um único candidato, que foi eleito. Na Alemanha 
      havia três, sendo eleito o menos convencional, o "hacker ético", Andy 
      Mueller-Maguhn.  
       
      O relatório interino do NAIS sugere que temos lições a aprender das 
      eleições passadas, e pergunta como encontrar formas mais apropriadas de 
      representação de usuários, que mantenham a voz do eleitor, enquanto evitem 
      cair nas garras de disputas nacionalistas entre diferentes países da mesma 
      região. A próxima reunião da ICANN será em Montevidéu, no início de 
      setembro, quando haverá também uma reunião da comissão Bildt. Até lá 
      muitas destas questões, ainda em aberto, terão que ser respondidas  
        
      
      Como vai a ICANN?
           [09/04/01] 
       
      Não havíamos voltado ao assunto da ICANN - Internet Corporation for 
      Assigned Names and Numbers desde a discussão dos resultados das eleições 
      para novos diretores na coluna de 16 de outubro de 2000. Naquelas 
      eleições, foram escolhidos cinco diretores novos para representar os 
      membros individuais da ICANN em cinco regiões do planeta, que haviam se 
      inscrito como eleitores através de um processo confuso realizado nos meses 
      anteriores, e já descrito em alguns artigos publicados nesta coluna. O 
      objetivo deste artigo é retratar um pouco os atuais rumos e atividades da 
      ICANN, depois da posse dos novos diretores em novembro passado. 
      Como é bom lembrar, a ICANN foi criada para exercer muitas das funções da 
      IANA - Internet Assigned Numbers Authority, entidade responsável 
      historicamente para a administração de endereços IP, nomes de domínio DNS 
      e uma pletora de outros "números" usados para codificar protocolos, 
      linguagens e outros "objetos" usados pela tecnologia TCP/IP da Internet. 
      Desde sua criação até 1998, a IANA existia na pessoa de Jon Postel, 
      pesquisador do Information Sciences Institute da University of Southern 
      California, e um dos pioneiros da Internet (www.isoc.org/postel). Em 
      função do crescimento, internacionalização e comercialização da Internet, 
      passou a ser considerado necessário transferir estas atribuições para uma 
      empresa, sem fins lucrativas, que pudesse impor maior dinamismo à sua 
      administração, e o próprio Postel foi um dos principais autores dos 
      estatutos da ICANN, redigidos logo antes do seu falecimento precoce em 
      1998.  
       
      Na proposta original, a ICANN contaria com um presidente executivo e 18 
      diretores, dos quais a metade seriam escolhidos por organizações atuantes 
      nas áreas de protocolos, nomes e endereços, e os demais pelos membros 
      individuais. Apenas em 2000 foram realizadas as primeiras eleições para os 
      diretores representando os membros individuais, e nessa ocasião foram 
      preenchidas apenas cinco das nove vagas, numa modificação tardia do 
      regimento interno. Atualmente não há previsão para o preenchimento por 
      eleição das outras quatro vagas de diretor, atualmente ocupados através de 
      nomeação, e existe uma corrente dentro da ICANN para eliminar totalmente a 
      eleição de diretores por membros individuais. 
       
      Entretanto, a ICANN hoje conta com estes cinco diretores eleitos, que são 
      Karl Auerbach (EUA), Andy Mueller-Maguhn (Alemanha), Masanobu Katoh 
      (Japão), Nii Narku Quaynor (Gana) e Ivan Moura Campos (Brasil), sendo que 
      os primeiros dois foram eleitos com plataformas declaradamente críticas da 
      estrutura e atividades atuais da ICANN (v. coluna de 16 de outubro de 
      2000).  
       
      Informações sobre as atividades da ICANN podem ser obtidas de diversos 
      sítios na Internet. O sítio oficial é www.icann.org, mas existem uma série 
      de outros mantidos por observadores externos e internos. Destes, o mais 
      organizado e completo é o sítio ICANN Watch (www.icannwatch.org), mantido 
      pelo advogado e ativista Michael Froomkin. Outros que merecem ser 
      visitados são Roving Reporter (www.tbtf.com/roving_reporter) de Ted 
      Byfield, e ICANN Blog (www.lextext.com/icann) de Bret Fausett. O Roving 
      Reporter parece muito bem informado, tanto que havia noticiado o envio 
      maciço de correio eletrônico pelo Comitê Gestor Internet BR em julho 
      passado, a respeito das eleições para diretor da ICANN, apenas 48 horas 
      depois da sua ocorrência (www.tbtf.com/roving_reporter/icann1.html#13). 
      Estas fontes de observadores externos agora foram complementados por 
      sítios mantidos por dois dos novos diretores eleitos, Karl Auerbach (www.cavebear.com/icann-board/diary 
      ) e Andy Mueller-Maguhn (www.ccc.de/~andy). 
       
      Este conjunto de fontes permitem fazer um certo arejamento das atividades 
      de uma entidade que deveria demonstrar transparência na condução dos seus 
      assuntos. Por exemplo, além das atas oficiais das reuniões dos diretores, 
      disponíveis no sítio da ICANN, temos agora a visão de dois dos novos 
      diretores, que freqüentemente divergem da maioria. Isto se mostrou 
      especialmente na semana passada quando foi realizada uma reunião dos 
      diretores por telefone - o que pode ser bastante complicado com a atual 
      distribuição dos diretores do Japão à Califórnia, com 16 horas de 
      diferença de fuso horário. Nesta reunião o item mais polêmico na pauta foi 
      a proposta de renovação do acordo contratual com a VeriSign (controladora 
      de Network Solutions, Inc.) para o registro dos domínios .org, .net e .com 
      até 2002, 2006 e 2007, respectivamente. Esta proposta foi aprovada por 
      maioria de 12 a 3, com uma abstenção, e estende ainda mais o monopólio 
      desta empresa no negócio extremamente lucrativo de registro. Na opinião de 
      Karl Auerbach, que votou contra a proposta, a VeriSign já teve ampla 
      oportunidade de ganhar dinheiro com este contrato, originalmente celebrado 
      em 1993 por prazo de cinco anos, e, no interesse na redução de custos da 
      comunidade, deveria ter havido um leilão para escolher o próximo registro 
      do domínio .com, considerado por ele a "jóia da coroa" do sistema de 
      nomes. 
       
      Para ver opiniões distintas sobre o que a ICANN faz e o que ela poderia 
      fazer, basta comparar os depoimentos dados em fevereiro deste ano no 
      senado dos EUA do Michael Roberts, então presidente da ICANN, e Karl 
      Auerbach. No seu depoimento (www.icann.org/correspondence/roberts-testimony-14feb01.htm) 
      Roberts historiou as origens da ICANN, descreveu o que tinha feito e o que 
      estava fazendo. Entre os objetivos cumpridos foram citados (1) uma nova 
      administração de servidores de nomes "raiz"; (2) a introdução de 
      competição no comércio varejista de nomes de domínio; (3) a criação de um 
      sistemas de resolução de disputa sobre nomes de domínio; e (4) a criação 
      de novos domínios de alto nível, aumentando a competição no comércio 
      atacadista de nomes. Assuntos ainda em estudo incluem (1) o registro de 
      domínios nacionais de alto nível (como o .br); e (2) a questão dos membros 
      individuais, e sua eleição de diretores. 
       
      Por outro lado o depoimento de Auerbach (www.cavebear.com/tmp/senate-feb-14-2001.htm) 
      repete muitas das críticas da estrutura e atividades da ICANN já 
      apresentadas na sua plataforma eleitoral. Ele afirma que a ICANN vem 
      exercendo um papel muito mais político do que técnico, e que, para 
      adquirir a devida legitimidade no campo da sua atuação, que é a governança 
      da Internet, ela precisa adotar procedimentos sólidos, incluindo a devida 
      participação pública, para a tomada de decisões. Para incluir esta 
      participação, Auerbach defende urgência no cumprimento do projeto de 
      eleger metade dos diretores por votação dos membros individuais, e 
      denuncia que há correntes dentro da ICANN procurando eliminar totalmente 
      estes diretores, ou pelo menos sua influência. Por exemplo, foi criado uma 
      Comissão Executiva da ICANN, que conta com apenas cinco dos diretores, 
      para tomar decisões entre as reuniões da diretoria inteira. Esta comissão 
      inclui entre seus membros apenas um dos diretores eleitos pelos membros 
      individuais, coincidentemente o menos votado. Não são públicas as 
      deliberações desta Comissão Executiva. Conclui afirmando que a orientação 
      atual da ICANN é mais favorável aos interesses de empresas, mais do que de 
      usuários da Internet, o que contraria seus estatutos e a filosofia dos 
      seus fundadores. 
       
      Enfim, a ICANN passa para uma fase mais tumultuada do que no passado, em 
      função das lufadas de vento provocadas pela chegada dos novos eleitos. É 
      positivo que esta primeira safra de diretores eleitos tenha tido este 
      efeito, pois somente poderá trazer aperfeiçoamento a uma entidade tão 
      singular como é a ICANN.
       
   
        
      
      Os resultados das eleições para a ICANN
           [16/10/00] 
       
      Concluiu-se no último dia 11 de outubro o processo do preenchimento das 
      primeiras cinco vagas de diretor eleito pelos sócios individuais da ICANN 
      - Internet Corporation for Assigned Names and Numbers. Como já foi 
      descrito antes na coluna de 25 de setembro, este processo consistiu de 
      diversas etapas: a inscrição dos próprios sócios (até final de julho), a 
      nomeação pela própria ICANN de alguns candidatos (início de agosto), a 
      nomeação pelos próprios sócios de candidatos adicionais (final de agosto), 
      a confirmação da habilitação para votar dos sócios (8 de setembro), e, 
      finalmente, a própria votação entre dias 1o e 10 de outubro. Em muitos 
      respeitos esta eleição foi um salto no escuro, pois nunca antes havia sido 
      realizada qualquer eleição similar por meio da Internet. A própria ICANN 
      havia estimado em 5.000 o número de inscrições de sócio. Foram recebidas 
      mais de 158.000 inscrições, das quais mais de 76.000 foram habilitadas 
      para votar, e acabaram votando mais de 34.000 eleitores. As eleições foram 
      observadas por representantes do Programa de Democracia do Centro Carter 
      (associado ao ex-presidente Carter dos EUA), que reconheceu ter havido 
      problemas técnicos, mas achavam limpas as eleições (members.icann.org/carter.htm). 
       
      Os resultados completos estão disponíveis no site da election.com, empresa 
      contratada para realizar a eleição (www.election.com/us/icann/icannresult.html). 
      A votação foi por região geográfica, sendo dividido o mundo em cinco 
      regiões: América do Norte, América Latina e Caribe, Europa, África e Ásia/Australásia/Pacífico. 
      Os eleitores residentes em cada uma destas regiões elegeram um diretor. 
      Para garantir que os vencedores das eleições tivessem amplo respaldo dos 
      eleitores, adotou-se o voto transferível: cada eleitor poderia votar em 
      até três nomes em ordem de preferência. Para ganhar na primeira rodada, um 
      candidato tinha que ter mais que a metade das primeiras preferências. Caso 
      nenhum candidato tivesse esta maioria, seria eliminado o candidato com 
      menor número de votos (de primeira preferência), e seus votos seriam 
      redistribuídos de acordo com as segundas preferências dos seus eleitores. 
      Se, depois disto, ainda não havia ninguém com mais que a metade dos votos 
      válidos, seriam repetidas a eliminação do menos votado e a redistribuição 
      dos seus votos, e assim em diante. Este processo terminaria 
      necessariamente quando restassem apenas dois candidatos. 
       
      Na região América Latina e Caribe, havia cinco candidatos, sendo três do 
      Brasil, um do Chile e um do Uruguai. Como foi preponderante o número de 
      eleitores do Brasil (v. a coluna de 7 de agosto) seria quase inevitável a 
      vitória de um dos candidatos brasileiros, e foi devidamente eleito Ivan 
      Moura Campos na primeira rodada de votação, com 946 (67%) do total de 1402 
      votos dados. Dos candidatos do Brasil, Ivan reunia as melhores condições 
      para exercer o cargo, pois conhece como poucos a Internet e suas 
      interações com diferentes setores da nossa sociedade (v. a coluna de 25 de 
      setembro). 
       
      Na região Ásia/Australásia/Pacífico, onde havia o maior número de 
      eleitores inscritos, foi marcante a vitória na primeira rodada do único 
      candidato do Japão, Masanobu Katoh, com 13.913 (80%) do total de 17.445 
      votos dados aos cinco candidatos. O número de inscritos no Japão era o 
      maior da região, e certamente problemas com a distribuição de senhas de 
      sócios usando o correio postal teriam prejudicado a confirmação de 
      eleitores de outros países, como a China e Índia. Masanobu Katoh é 
      funcionário da empresa Fujitsu, e já é muito ativo em atividades 
      relacionadas à ICANN. Sua plataforma eleitoral se encontra em members.icann.org/cand/196.html. 
       
      Na África, havia apenas três candidatos, sendo dois da África do Sul. 
      Porém, foi o terceiro, Nii Narku Quaynor, de Gana, quem ganhou na primeira 
      rodada com 67 (52%) dos 130 votos dados. Nii Narku Quaynor tem experiência 
      como administrador do registro nacional de nomes DNS no seu país, além de 
      participar na difusão no uso de redes no seu continente. Sua plataforma 
      eleitoral se encontra em members.icann.org/cand/191.html. 
       
      Os três vencedores anteriores haviam sido nomeados candidatos pela 
      comissão de nomeação da própria ICANN. Os outros dois vencedores tiveram 
      que ganhar espaço próprio na cédula de eleição através da mobilização do 
      apoio de sócios.
       
       
      Na Europa, o maior número de eleitores era da Alemanha, e havia três 
      candidatos alemães na eleição, os quais foram os três mais votados de um 
      total de sete candidatos. Ganhou na primeira rodada de votação Andy 
      Mueller-Maguhn com 5.948 (53%) dos 11.309 votos dados. Segundo sua 
      plataforma (members.icann.org/cand/84.html), Andy Mueller-Maguhn tem 28 
      anos, incluindo mais de 16 em contato com redes de computadores. Trabalha 
      como jornalista e consultor em redes e assuntos de segurança, e atua 
      comunitariamente através do Chaos Computer Club (https://www.ccc.de), que 
      ele descreve como uma ONG não comercial que defende o fluxo livre de 
      informação e o direito de comunicação em escala pelo menos global, 
      enquanto observa os efeitos do desenvolvimento tecnológico na sociedade.
       
       
      A eleição na América do Norte foi a única que não se resolveu na primeira 
      rodada. Nela havia sete candidatos, dos quais três haviam sido endossados 
      como defensores do "interesse público", não sendo considerados porta-vozes 
      de constituências mais estreitas (weblog.mercurycenter.com/ejournal/2000/09/30). 
      Eram eles Larry Lessig (professor de direito constitucional de Stanford 
      University), Barbara Simons (presidente entre 1998 e 2000 da Association 
      of Computing Machinery - ACM, a principal sociedade científica na área de 
      computação) e Karl Auerbach (formalmente um advogado, e com 27 anos de 
      envolvimento técnico com as redes, trabalhando atualmente na Cisco Systems). 
      Na votação estes três candidatos foram os mais votados entre os oito 
      candidatos, tendo Lessig 725 (21%), Simons 771 (22%) e Auerbach 1074 (31%) 
      dos 3449 votos dados. No final, levou seis rodadas para definir a eleição 
      a favor de Karl Auerbach sobre Barbara Simons. A plataforma de Karl 
      Auerbach (members.icann.org/cand/16.html) é a mais completa e específica 
      de todos os candidatos vitoriosos, e é a única com críticas contundentes 
      da atuação da ICANN, e propostas específicas de reforma da sua estrutura e 
      funcionamento. Entre suas propostas se incluem: fortalecimento da posição 
      e influência dos sócios individuais, criação do cargo de CTO (Chief 
      Technology Officer), destituição do presidente e vice presidente atuais 
      (eles não são eleitos), a contratação de outra firma de advogados, e a 
      maior transparência dos procedimentos e atividades, com a clara 
      identificação de responsáveis para ações tomadas no nome da organização. 
       
      A posse dos novos diretores eleitos da ICANN será realizada mês que vem, e 
      poderá ter o efeito de uma lufada de ar fresco sobre o funcionamento desta 
      organização, cuja importância é fundamental para manter a Internet 
      operando adequadamente. A princípio, ao contrário dos demais diretores, 
      que representam os stakeholders, grupos que têm um interesse apenas 
      setorial (técnico ou comercial) no funcionamento da Internet, os diretores 
      recém eleitos representam os sócios individuais, usuários da Rede, como 
      vocês ou eu. É de se esperar que este mandato seja cumprido 
      conscientemente, para que a Internet continue sendo para nós algo que 
      permita florescer a criatividade, a solidariedade e a liberdade, 
      características importantes da sociedade virtual em que vivemos.  
        
      
      Eleições na Internet - a fase final
             [25/09/00] 
       
      Leitores desta coluna no final de julho teriam tomado conhecimento do 
      processo eleitoral para a seleção de diretores representando os sócios 
      individuais da ICANN - Internet Coporation dor Assigned Names and Numbers. 
      Como explicado na coluna de
      
      24 de julho, a ICANN na prática exerce "governança" sobre a Internet, 
      através da administração das três áreas de protocolos, endereços de rede, 
      e nomes de domínio. Sua autoridade máxima é a diretoria formada por um 
      presidente executivo e 18 diretores, sendo que estes devem ser escolhidos 
      de forma a possibilitar uma ampla representatividade da comunidade 
      Internet. Dos 18 diretores, 9 já foram selecionados para representar 
      interesses de organizações que atuam nas três áreas mencionadas acima. Os 
      demais diretores deveriam ser eleitos por sócios individuais da ICANN, os 
      chamados At Large Members.
      Quando foi criada a ICANN, estas últimas 9 vagas de diretor foram 
      preenchidas provisoriamente por nomeação. Para realizar a seleção "normal" 
      destes diretores, seria primeiro necessário admitir sócios individuais, e 
      foi realizada uma campanha de afiliação, que terminou em 8 de setembro. 
      Como explicado na coluna de
      
      24 de julho, qualquer interessado maior de 16 anos, que possuísse um 
      endereço eletrônico, poderia se tornar sócio. Era necessário primeiro 
      registrar-se via WWW no site da ICANN, e informar dados pessoais, 
      inclusive o endereço postal. O esquema inventado pela ICANN usava este 
      endereço postal para enviar uma senha que precisava ser usada para 
      confirmar a inscrição por WWW, até 8 de setembro. Apenas quem confirmou 
      sua afiliação desta forma se tornou sócio efetivo, com direito de voto.
       
      A ICANN já anunciou que das 158.593 inscrições provisórias recebidas 
      até 31 de julho, apenas 76.504 foram confirmadas (members.icann.org/pubstats.html). 
      Por região geográfica, os números são muito díspares, conforme mostra a 
      tabela abaixo.  
      
      
        
          | Região | 
          31 de julho (provisórias) | 
          8 de setembro (confirmadas) | 
         
        
          | África | 
          787 | 
          321 (40,8%) | 
         
        
          | América do Norte | 
          21.596 | 
          10.694 (43,5%) | 
         
        
          | América Latina e Caribe | 
          6.486 | 
          3.571 (55,1%) | 
         
        
          | Ásia e o Pacífico | 
          93.782 | 
          38.397 (40,9%) | 
         
        
          | Europa | 
          35.942 | 
          23.519 (65,4%) | 
         
        
          | Total | 
          158.593 | 
          76.504 (48,2%) | 
         
       
      
      São possíveis duas explicações para uma pessoa não confirmar sua 
      inscrição: ou ela não quis, ou não pôde. No meu caso particular, não pude 
      confirmar minha inscrição pois não recebi a senha por via postal. Sei de 
      pelo menos mais um caso assim. Não duvido que haja falhas nos 
      procedimentos adotados pela ICANN, mas não me parece ter sido sistemático 
      o não envio desta correspondência, e, no caso da representação brasileira 
      no contingente da América Latina e Caribe, este deve ser substancial, 
      pois, das 6.486 afiliações provisórias, 80% eram do Brasil (members.icann.org/pubstats_unverified.html).
       
      Para os afortunados que conseguiram confirmar sua inscrição até a data 
      fatal, vem agora a fase final, que termina com o período de votação entre 
      1o e 10 de outubro. Para a vaga de diretor para a região América Latina e 
      Caribe há cinco candidatos, tendo sido 3 indicados pela comissão de 
      nomeação da ICANN, e dois nomeados por sócios. Para entrar na cédula, 
      estes últimos precisavam ser apoiados por pelo menos 2% dos afiliados da 
      região, que correspondiam a 72 pessoas. Ambos os candidatos nomeados por 
      sócios da região que conseguiram superar esta barreira são brasileiros.
       
      A lista completa dos candidatos da nossa região inclui três 
      brasileiros, um chileno e um uruguaio Seus nomes e links para suas 
      plataformas seguem abaixo.  
      · Ivan Moura Campos (Brasil) (members.icann.org/cand/207.html)
       
      · Raul Echeberria (Uruguai) (members.icann.org/cand/206.html)
       
      · Cláudio Silva Menezes (Brasil) (members.icann.org/cand/157.html)
       
      · Aluísio S. Nunes (Brasil) (members.icann.org/cand/162.html)
       
      · Patrício Poblete (Chile) (members.icann.org/cand/208.html)
       
      Dos candidatos conterrâneos, Ivan Moura Campos, antigo professor de 
      computação da UFMG, já foi secretário de política de informática e 
      automação do MCT e secretário de ciência e tecnologia do estado de Minas 
      Gerais. Atualmente ocupa pela segunda vez a presidência do Comitê Gestor 
      Internet-BR (www.cg.org), 
      que tem ao nível nacional uma atuação normativa semelhante à que a ICANN 
      exerce em escala mundial. De acordo com sua plataforma, Cláudio Silva 
      Menezes combina trabalho técnico no Banco do Brasil em Brasília com 
      consultoria na montagem e administração de websites, entre estes o do 
      Movimento Monárquico Brasileiro, (www.monarquia.com), 
      organização que também preside. Aluísio S. Nunes é um consultor e 
      administrador independente no Rio de Janeiro, que trabalha com 
      administração estratégica, consultoria organizacional, e planejamento e 
      pesquisa de mercado. Seu contato principal com a Internet é como usuário 
      final.  
      Dos outros dois candidatos, Patrício Poblete é professor de computação 
      da Universidade do Chile, onde ele vem administrando o registro nacional 
      chileno para nomes de domínios desde 1987. Atualmente dirige também a 
      Escola de Engenharia e Ciências dessa universidade. Raul Echeberria 
      trabalha como assessor de computação e telecomunicações do instituto 
      nacional de pesquisa agrícola do Uruguai, e tem longa experiência como 
      consultor em assuntos Internet nesse país.  
      Que vença o melhor candidato, e que faça na diretoria da ICANN uma boa 
      representação dos usuários desta país e da sua região. A escolha agora 
      depende apenas daqueles que conseguiram transpor os obstáculos e se tornar 
      sócios individuais da ICANN. 
    
        
      
      Os eleitores da 
      ICANN    [31/07/00] 
  
  Na coluna de
  
  24 julho falamos das próximas eleições para a ICANN - a Internet 
  Corporation for Assigned Names and Numbers (http://www.icann.org), 
  quando deverá ser eleito pelos membros individuais um diretor para a região 
  América Latina e o Caribe (AL&C).  
  No texto foi incentivada a afiliação de interessados como membros individuais 
  da ICANN, o que poderia ser feito até o dia 31 de julho.  
  O tema dessa coluna foi também o assunto de artigos na Folha de São Paulo no 
  dia 26 e no Jornal do Brasil no dia 27, entre outras publicações.  
  Adicionalmente, vários indivíduos tomaram a iniciativa de noticiar as eleições 
  e o prazo de afiliação de membros individuais através de listas de discussão 
  na Internet brasileira.  
  Finalmente, o próprio Comitê Gestor promoveu o envio de uma mensagem a 
  respeito às pessoas registradas como contatos pelo Registro.br (o registro 
  nacional de nomes e endereços da Internet).  
  Com isto, o assunto foi amplamente divulgado, e isto resultou num aumento 
  expressivo no número de membros individuais do Brasil.  
  Segundo a própria ICANN, que vem divulgando os números de inscritos de 
  forma irregular através da URL
  
  http://members.icann.org/pubstats.html, a evolução para os maiores países 
  da região AL&C até o dia 26 de julho é descrita na seguinte tabela, onde as 
  porcentagens são relativas ao número total de inscritos na região:  
  
    
  
    
      | 
       Pais  | 
      19 de 
      julho | 
      24 de 
      julho | 
      25 de 
      julho | 
      26 de 
      julho | 
     
    
      | Brasil | 
      98 | 
      14,3% | 
      362 | 
      28,9% | 
      569 | 
      36,6 | 
      4731 | 
      80,9% | 
     
    
      | Argentina | 
      134 | 
      19,6% | 
      20 | 
      17,6% | 
      236 | 
      15,2% | 
      278 | 
      4,8% | 
     
    
      | México | 
      208 | 
      30,5% | 
      246 | 
      19,7% | 
      249 | 
      16,0% | 
      250 | 
      4,3% | 
     
    
      | Chile | 
      57 | 
      8,3% | 
      138 | 
      11,0% | 
      181 | 
      11,6% | 
      217 | 
      3,7% | 
     
   
  
    
  
  
  Esta tabela mostra nitidamente o efeito da mutirão nacional que foi 
  realizada para tirar o País da posição incômoda ocupada no dia 19.  
  Se for mantida esta tendência, dificilmente o Brasil deixará de contar com o 
  maior colégio eleitoral da região, e poderá ficar com a maioria absoluta dos 
  eleitores.  
  É interessante também observar que fenômenos parecidos foram registrados em 
  outras regiões do mundo. Os países com os maiores números de inscrições no dia 
  26 de julho tiveram a seguinte evolução dos seus membros inscritos durante a 
  semana anterior:  
    
  
  
    
      | País | 
      Região | 
      19/7 | 
      24/7 | 
      25/7 | 
      26/7 | 
     
    
      | Japão | 
      Ásia/Australásia | 
      20261 | 
      27886 | 
      30201 | 
      33227 | 
     
    
      | China | 
      Ásia/Australásia | 
      71 | 
      12441 | 
      20873 | 
      28732 | 
     
    
      | Estados Unidos | 
      América do Norte | 
      12115 | 
      15778 | 
      16998 | 
      18012 | 
     
    
      | Alemanha | 
      Europa | 
      8674 | 
      14685 | 
      16119 | 
      17409 | 
     
    
      | Taiwan | 
      Ásia/Australásia | 
      71 | 
      5898 | 
      8729 | 
      10780 | 
     
    
      | Coréia (dop Sul) | 
      Ásia/Australásia | 
      1146 | 
      3953 | 
      5190 | 
      6247 | 
     
    
      | Brasil | 
      AL&C | 
      98 | 
      362 | 
      569 | 
      4731 | 
     
    
      | França | 
      Europa | 
      997 | 
      1790 | 
      2234 | 
      2583 | 
     
    
      | Reino Unido | 
      Europa | 
      1633 | 
      1962 | 
      2032 | 
      2080 | 
     
    
      | Canadá | 
      América do Norte | 
      1348 | 
      1788 | 
      1844 | 
      1975 | 
     
    
      | Rússia | 
      Europa | 
      56 | 
      456 | 
      1122 | 
      1859 | 
     
   
  
  
   
  Evidentemente, alguns dos países incluídos nesta tabela demonstraram notável 
  capacidade de mobilização dos seus habitantes para participarem nas próximas 
  eleições da ICANN, pois, formalmente, as regras do jogo foram definidas pela 
  ICANN apenas no dia 16 de julho, na última reunião dos seus diretores.  
  Nesta data havia apenas 44.000 membros individuais inscritos.  
  O número destes em 26 de julho já excedia 141.000, e deverá superar 200.000 
  até o final do prazo das inscrições no dia 31.  
  Estes números devem confirmar os receios dos críticos deste processo 
  eleitoral, que temiam que a distribuição por país dos membros individuais da 
  ICANN não refletisse adequadamente os verdadeiros usuários da Internet.  
  Os países que demonstram as anomalias mais evidentes são a China a a Alemanha.
   
  O censo da Internet de janeiro de 2000 (http://www.isc.org/ds/WWW-200001/dist-bynum.html) 
  revela que a China (incluído o Hong Kong) tem menos de 8% do número de 
  computadores na Internet do Japão, líder na Ásia, e que o número de 
  computadores da China é superado também pela Austrália, por Taiwan e pela 
  Coréia, outros países da mesma região.  
  A Alemanha é superada em termos de computadores na sua região pelo Reino Unido 
  e pela França.  
  Os números do Brasil também são anômalos, porém o Brasil é o maior país na 
  Internet na região AL&C, e o número de membros individuais inscritos apenas 
  exagera esta liderança.  
  A eleição da metade dos diretores da ICANN por membros individuais, 
  definida desde a criação da ICANN, já vinha sendo questionada, por poder gerar 
  um resultado imprevisível.  
  Para limitar suas conseqüências, em 16 de julho deste ano foram modificados os 
  estatutos da ICANN para reduzir de nove para cinco o número de diretores 
  eleitos este ano, e permitir votação por regiào.  
  Em função das anomalias na afiliação dos membros individuais identificadas no 
  parágrafo anterior, é quase certo que sejam alteradas novamente as regras que 
  vigorarão para futuras eleições em que votem os membros individuais.  
  Já está prevista, inclusive, uma revisão do próprio conceito de membros 
  individuais da ICANN, e dos diretores que elegem, a ser realizada depois da 
  posse dos diretores a serem eleitos este ano.  
  Para os novos membros individuais e eleitores da ICANN, o processo 
  eleitoral começa no dia 1o de agosto.  
  Foi constituída uma comissão de indicação (nomination committee), que deverá 
  publicar nos próximos dias uma lista de candidatos a diretor selecionados a 
  partir de indicações já recebidas.  
  Como este processo é reservado, não saberemos quais nomes teriam sido 
  excluídos por esta comissão.  
  Depois da publicação desta lista, outros nomes poderão ser indicados por 
  qualquer membro individual até 14 de agosto, mas para serem incluídos na 
  eleição terão que contar com o apoio de pelo menos 2% dos membros individuais 
  da região, em pelo menos dois países.  
  Existe ainda um limite de 7 candidatos por região, incluindo os pré-aprovados 
  pela comissão.  
  Estas regras também foram sacramentadas na reunião de 16 de julho, e podem ser 
  considerados casuístas.  
  Em suma, a ICANN é no momento a única entidade que temos para a governança 
  da Internet, depois da privatização das funções da IANA.  
  Portanto, deveremos dar-lhe nosso apoio agora. Por outro lado, este apoio deve 
  ser acompanhado de uma visão crítica da entidade e dos seus objetivos.  
  Sua organização e estrutura parecem não encontrar boas soluções às questões 
  fundamentais de representação e estabilidade, postas em destaque pelo processo 
  eleitoral em andamento.  
  Talvez a saída para a futura governança da Internet nem seja pela ICANN.
   
  Uma análise recente (http://www.pfir.org/statements/policies), 
  publicada pela PFIR - People for Internet Responsibility, pondera que a 
  importância da Internet é tamanha para o mundo em que vivemos, que a ICANN é 
  simplesmente inadequada à tarefa de governança, por causa das suas origens e 
  estrutura.  
  Para assumir esta tarefa propõe-se a criação de uma nova entidade que é 
  verdadeiramente internacional. Diferente da ICANN, não haveria membros 
  individuais.  
  Em vez disto, a entidade estaria baseada numa representação equilibrada de 
  interesses comerciais e não comerciais do setor privado, e de interesses do 
  setor público, atualmente excluídos da ICANN.  
  Estes interesses públicos incluiriam organizações e órgãos governamentais e 
  instituições educacionais.  
  O papel do setor público é considerado imprescindível para harmonizar as 
  iniciativas governamentais, e evitar que os governos assumam apenas um papel 
  reativo a novidades introduzidas pelo setor privada.  
  Este comportamento governamental vem sendo identificado em muito países e em 
  diversas frentes, tais como o comércio eletrônico e a privacidade, discutidos 
  aqui em colunas recentes. 
   
        
      
      Eleições para a Internet    
      [24/07/00] 
       
      No dia 31 de julho fecham-se as inscrições para poder votar nas primeiras 
      eleições gerais da Internet. Se você tem mais de 16 anos e possui um 
      endereço eletrônico, você pode tirar seu título de eleitor já, e votar 
      ainda este ano para um dos diretores da ICANN - a Internet Corporation for 
      Assigned Names and Numbers (www.icann.org), a organização responsável pela 
      "governança" da Internet, depois que o governo norte-americano tomou a 
      decisão de privatizá-la em 1997. 
       
      O processo é simples e é realizado através do site da ICANN, onde tem 
      explicações de como se pode tornar sócio individual, com direito de voto, 
      através de um formulário em português (http://members.icann.org/languages/portuguese/index.html). 
      Ser sócio individual da ICANN é gratuito, e só requer um pouco de 
      paciência, pois o servidor da ICANN tem estado muito movimentado nos 
      últimos dias, pela iminência do término do prazo para se associar. 
       
      É preciso explicar um pouco sobre a ICANN e suas funções e antecedentes, e 
      porque ela é importante. A Internet é uma federação mundial de redes, 
      autônomas e administradas separadamente. O que une estas redes para 
      fazê-las funcionarem em conjunto é a adoção de padrões técnicas, em 
      especial os protocolos chamados coletivamente de TCP/IP. Esta tecnologia 
      hoje é administrada pela IAB - Internet Architecture Board 
      (http://www.iab.org/iab/) , um órgão eminentemente técnico. O TCP/IP 
      define uma tecnologia. Para poder usá-la, é necessário adotar certas 
      convenções, das quais as mais importantes tratam da alocação de endereços 
      IP (como 200.211.26.82) e de nomes de domínios (como www.estadao.com.br). 
      Estes endereços e nomes precisam ser únicos em toda a Internet, e foi 
      constituída a IANA - Internet Assigned Numbers Authority (http://www.iana.org) 
      para administrá-los corretamente.  
       
      Durante quase 20 anos a IANA se confundia com a pessoa de Jon Postel, um 
      dos fundadores da Internet, que passou quase toda sua vida profissional a 
      seu serviço. Uma vez tive a oportunidade de conhecê-lo, em 1994, quando 
      foi negociada a delegação da IANA para a administração de endereços IP 
      usadas no Brasil para o que veio a ser a registro nacional 
      (http://www.registro.br), localizado na FAPESP em São Paulo. Apesar da 
      importância do seu trabalho, ele era uma pessoa simples, com cara de 
      hippie dos anos 60 - tem algumas fotos no site http://www.postel.org. A 
      partir de 1997, Jon se envolveu muito com a transferência das funções da 
      IANA para a ICANN, e ajudou a formular os seus estatutos. Infelizmente, 
      ele veio a morrer logo em seguida, em outubro de 1998. Seu amigo e colega 
      Vint Cerf fez sua eulogia em "I remember IANA" (http://www.ietf.org/rfc/rfc2468.txt). 
       
      A ICANN, que hoje é considerado o centro de decisões sobre a Internet, é 
      dirigida por um presidente e 18 diretores. Destes 18, três são 
      selecionados por cada um de três Organizações de Suporte, que arregimentam 
      organizações envolvidas nas três áreas de endereços IP, nomes de domínio e 
      protocolos. Destes nove diretores nenhum é brasileiro. Os outros nove 
      diretores serão eleitos pelos sócios individuais da ICANN, e em outubro 
      próximo serão realizadas as primeiras eleições para eleger um diretor de 
      cada um de cinco regiões do mundo. Uma das vagas é para a região chamada 
      "América Latina e Caribe" (AL&C), que se estende do México à Terra do 
      Fogo, incluindo, evidentemente, o Brasil.  
       
      Segundo o censo de computadores ligados à Internet realizada em janeiro de 
      2000 pela Network Wizards (http://www.isc.org/ds/WWW-200001/dist-bynum.html), 
      a região AL&C representa 1,6% da Internet mundial, com um total de 
      1.157.327 computadores registrados de uma população mundial de 72 milhões 
      (estes números não contabilizam computadores domésticos ou aqueles dentro 
      das redes privativas de empresas). Dentro da região, o Brasil está na 
      primeira posição com 38,6% do total, seguido por México (35%), Argentina 
      (12,3%), Colômbia e Chile (ambos com 3,5%). Seria então compreensível que 
      o Brasil seja representado nesse novo foro importante que é a diretoria da 
      ICANN.  
       
      Se isto realmente virá a ocorrer depende de duas coisas. Primeiro, o 
      tamanho da Internet brasileira precisa ser refletido no número de sócios 
      individuais da ICANN. A ICANN publica o número de inscrições recebidas 
      (http://members.icann.org/pubstats.html). No dia 19 de julho, 
      contabilizavam-se 52.652 sócios no mundo todo, liderados por Japão 
      (20.261), EUA (12.115) e Alemanha (8.674). Da região AL&C havia parcas 689 
      inscrições, lideradas por México (208) e Argentina (134). Do Brasil havia 
      98, que correspondem a apenas 14% do total, muito aquém dos 38% da 
      população de computadores nacionais na Rede. Desta forma, não será 
      expresso adequadamente o peso do País na Internet. Você, leitor, pode 
      fazer a diferença. Inscreva-se hoje como sócio individual da ICANN, e 
      incentive seus colegas a fazer a mesma coisa. O prazo é curto, mas o 
      benefício para a representação internacional do País é grande. 
       
      O segundo requisito para o Brasil ter uma voz na diretoria da ICANN 
      depende de haver um candidato. Felizmente, o temos na pessoa de Ivan Moura 
      Campos, antigo professor de computação da UFMG, que tem contribuído muito 
      para o desenvolvimento da Internet no País durante o tempo em que exercia 
      o cargo de Secretário de Política de Informática e Automação do MCT, 
      quando a Internet foi aberta para uso universal (1994 e 1995). Nesta época 
      foi criado o Comitê Gestor Internet Brasil (http://www.cg.org.br), 
      responsável por guiar o desenvolvimento da Internet no País, e por 
      resolver alguns dos problemas do que trata a ICANN a nível mundial. Desde 
      ano passado o Ivan voltou a presidir o Comitê Gestor, e seria bom vê-lo 
      também na ICANN. 
        
       
 
  
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