ComUnidade
WirelessBrasil
Informativo Sete
Pontos
Portal AliceRamos.com
Michael Stanton
ComputerWorld
IDG Now!
Estadão
|
Os links
dos títulos dos artigos apontam para a publicação original no Estadão.
Nem sempre estão disponíveis devido à flutuações em seus servidores.
Artigos
de Michael Stanton
Clique no título
para ler o original no Estadão ou veja a Coleção
de Artigos
-
A reforma do Comitê Gestor
da Internet no Brasil [06/03/03]
-
ICANN vem ao Rio de Janeiro
[23/02/03]
-
ICANN na encruzilhada [04/03/02]
-
ICANN: a questão da
representatividade [17/06/01]
-
Como vai a ICANN?
[09/04/01]
-
Os resultados das eleições para a ICANN
[16/10/00]
-
Eleições na Internet - a fase final
[25/09/00]
-
Os eleitores da
ICANN [31/07/00]
-
Eleições para a Internet
[24/07/00]
Nota inserida em 12/11/15:
Todas as colunas de Michael Stanton (publicadas no Estadão) sobre
vários assuntos
estão colecionas aqui.
A reforma do Comitê Gestor
da Internet no Brasil [06/03/03]
Na coluna anterior foi mencionado brevemente o Comitê Gestor Internet
(CGI) (www.cg.org.br), cuja existência está intimamente associada à fase
pública (e comercial) da Internet que começou em fins de 1994. O CGI foi
criado pelo governo federal em 1995 e ficou encarregado de uma série de
responsabilidades sobre o funcionamento da Internet no país,
caracterizadas como exercício de governança. Estas responsabilidades
incluíam: a) fomentar o desenvolvimento de serviços Internet no Brasil; b)
recomendar padrões e procedimentos técnicos e operacionais para a Internet
no Brasil; c) coordenar a atribuição de endereços Internet, o registro de
nomes de domínios, e a interconexão de espinhas dorsais; d) coletar,
organizar e disseminar informações sobre os serviços Internet. (Da nota
conjunta dos ministérios de Comunicações (MC) e de Ciência e Tecnologia (MCT)
de junho de 1995: www.cg.org.br/regulamentacao/notas.htm)
Inicialmente o CGI contava com nove membros, indicados em conjunto por
estes dois ministérios para representar diversos interesses do governo e
da sociedade civil. O número de membros foi aumentado para 12 em 1999,
sendo cinco representantes do governo, e sete representantes de grupos na
sociedade que têm relações funcionais com a atividade de manter ou usar
uma infra-estrutura de redes de comunicação por computador. É notável que
os representantes destes grupos são indicados pelos dois ministérios e não
por organizações pertencentes aos grupos representados. Os grupos são:
os provedores de infra-estrutura de telecomunicações;
os provedores de acesso e serviço de Internet;
a indústria de informática e software;
a comunidade acadêmica;
a comunidade empresarial;
a comunidade de usuários do serviço Internet;
a comunidade educacional e cultural;
(Da portaria interministerial no. 188 de 23/11/1999: www.cg.org.br/regulamentacao/port188.htm)
A atual representação do governo e também dos provedores de
infra-estrutura de telecomunicações tinham mandato de 3 anos, que venceria
em novembro passado e foi prorrogado até o próximo dia 23 de março, para
não deixar o CGI acéfalo no início do novo governo. Caberá portanto ao
governo federal deliberar sobre seus novos titulares. Os demais
representantes tinham mandato de dois anos, que já foi renovado uma vez.
Ultimamente o CGI vem discutindo propostas de reformulação da sua
composição e funcionamento. Na sua reunião de janeiro último, foi
apresentado e discutido o esboço de uma possível reforma, baseada em
câmaras de representação de setores ou grupos na sociedade: setor governo,
setor privado, terceiro setor, área de ciência e tecnologia, e assim em
diante. O CGI também resolveu ampliar o debate, planejando para logo em
seguida três seminários setoriais, para o setor governo, o setor privado e
o terceiro setor. Os últimos dois destes seminários foram realizados
durante a semana antes do Carnaval, tendo sido realizado no Rio de Janeiro
o evento para o terceiro setor. Podemos ver, portanto, que está sendo
investida muita energia na discussão deste assunto governança da Internet
e sua reformulação. Como governança da Internet normalmente é considerada
uma área bastante técnica, seria apropriado perguntar qual o motivo para
realizar esta discussão exatamente agora. Para entender isto, é necessário
saber mais sobre a história da Internet no país, e sobre o funcionamento
operacional do CGI.
A viabilidade da Internet exige que sejam administrados eficazmente os
endereços de rede (endereços IP) e os nomes de domínio (DNS). A nível
mundial, estas funções são hoje da ICANN, como descrito na coluna
anterior. Ao nível nacional, elas hoje são do CGI, mas não foi sempre
assim. No final dos anos 1980, a FAPESP se ofereceu à IANA (Internet
Assigned Numbers Authority), a antecessora da ICANN, para assumir a
administração do domínio de nomes .br. Nessa época, a IANA concedeu esta
delegação, e a FAPESP começou a cadastrar estes nomes, primeiro para
instituições, principalmente acadêmicas, ligadas à rede BITNET, depois à
Internet. Quando começou a Internet comercial, a FAPESP criou novos
domínios com.br, org.br e assim em diante. Depois da criação do CGI em
1995, a FAPESP continuou a administrar os nomes de domínio,
subordinando-se às políticas determinadas pelo CGI, tornando-se assim seu
braço operacional, conhecido como o Registro Nacional (registro.br).
A outra função assumida pelo registro.br foi de administrar endereços de
rede. Antes de 1995, endereços IP para uso no país eram obtidos
diretamente da IANA. Em dezembro de 1994, com a iminência do início da
operação comercial da Internet no Brasil, foi negociada com a IANA por
representantes da rede acadêmica a delegação também à FAPESP da
administração de endereços IP, com a criação do "bloco CIDR do Brasil",
usado quase universalmente na montagem da atual rede Internet brasileira.
A administração de endereços e domínios gera custos. Embora seja em grande
parte automatizado, os sistemas do Registro tiveram que ser montados e
mantidos. Adicionalmente é necessário manter em funcionamento os
servidores de nomes (DNS), essenciais para o uso corriqueiro da rede. Em
outros países, estes serviços são cobrados das entidades usuárias que
precisam obter endereços de rede para seus computadores e registrar nomes
de domínio para seus sítios. Nos EUA, por exemplo, endereços IP são
administrados pelo ARIN (www.arin.net) e nomes de domínio por uma pletora
de organizações, das quais a maior (em termos do número de usuários dos
seus domínios .com e .net) é Network Solutions, agora controlada pela
Verisign (www.networksolutions.com). Ambas estas organizações são empresas
comerciais, e a concessão da administração destes serviços, renovada
recentemente pela ICANN no caso da Network Solutions, dá alegria a seus
controladores pela receita e os lucros proporcionados.
Sim, a receita destes serviços gera "excedentes" sobre os custos de
operá-los. Vamos olhar um pouco a situação de Registro nacional, que
possui monopólio destes serviços no Brasil. Segundo suas estatísticas,
hoje são cadastrados no seu sistema de nomes de domínios nada menos que
438.872 nomes distintos (registro.br/estatisticas.html). Pelo convênio
celebrado com o CGI em 1998, a FAPESP opera este serviço, usando seu CNPJ
para efetuar a cobrança. Desde o início de cobrança para o registro de
nomes, que começou em 1998, os usuários deste serviço vêm pagando R$40
para o primeiro registro de um nome e mais R$40 de manutenção anual.
(Nunca houve cobrança para registrar endereços de rede.) Mesmo supondo que
não houve nenhum nome novo registrado em 2002, a mera cobrança de
manutenção anual do número atual de nomes cadastrados, descontando as
poucas isenções, teria gerado receita superior a R$17 milhões, recolhidos
pelos usuários Internet de todo o país aos cofres da FAPESP. Desta receita
são pagas as despesas de operação do Registro nacional, as despesas
diretos do CGI, cujos membros não são remunerados, e de seus grupos de
trabalho, e o financiamento eventual de projetos aprovados pelo CGI para
promover a Internet. Estes já incluíram a realização de estudos, a
montagem de redes experimentais de alta velocidade em sete cidades, a
realização de congressos e eventos, e a participação de representantes do
CGI em eventos no exterior. Entretanto a receita em muito excede as
despesas, e até o final do ano passado, o saldo líquido nos cofres da
FAPESP já excedia R$50 milhões, nada mal por uma operação sem fins
lucrativos.
Dinheiro desta ordem naturalmente chama atenção. Sabe-se que a atual
administração da FAPESP já questionou a propriedade de permitir que este
dinheiro seja usado para financiar qualquer coisa que não seja financiado
normalmente por ela, ou seja, que este dinheiro deveria ser usado apenas
para projetos de pesquisadores do estado de São Paulo. Em outras palavras,
a FAPESP estaria rejeitando a noção que o CGI tenha competência para
determinar o destino de dinheiro que entrou na FAPESP em conseqüência da
delegação pelo CGI à FAPESP da operação do serviço do Registro, apesar do
fato das operações serem evidentemente de âmbito nacional e não estadual.
Esta questão parece ainda estar em aberta.
As recentes iniciativas do CGI pretendem encerrar esta relação histórica
com a FAPESP, com a criação de uma pessoa jurídica própria do CGI, ou do
seu sucessor, que assumiria a operação do Registro e teria a autonomia
inquestionável para deliberar sobre o uso dos recursos gerados. Por outro
lado as discussões sobre como seria o eventual sucessor do CGI, abertas
recentemente com grupos ou setores que não tivessem tido envolvimento
direto com as suas atividades históricas, às vezes parecem dar mais
importância à administração de forma apropriada do "excedente" gerado por
suas operações técnicas, do que com o aperfeiçoamento destas operações.
Parece equivocado este enfoque, pois a operação do registro é mantida como
serviço público, e não há porque ele deve gerar este "excedente", devendo
ser arrecadado estritamente o essencial para cobrir os custos de realizar
o serviço. Qualquer cobrança adicional teria o caráter de imposto. O
"excedente" só existe porque as taxas cobradas pelo Registro são
excessivamente altas. Reconhecimento desta distorção foi dado
recentemente, quando na sua reunião de janeiro último, o CGI aboliu a taxa
do primeiro registro de um domínio, e reduziu de R$40 para R$30 a taxa
anual de manutenção. Mesmo este valor continua alto, pois a arrecadação
ainda deverá permanecer na casa dos R$13 milhões, ainda bastante superior
a suas necessidades reais.
Tirando das discussões sobre o futuro do CGI o chamariz de deliberar de
que forma deverá ser aplicado o "excedente" das operações do Registro,
estas discussões podem voltar a concentrar-se na questão quase
inteiramente técnica de manter a eficácia do funcionamento da Internet no
país, como vem sendo feito há oito anos. Para tanto, a representação dos
interesses no futuro CGI não deveria seguir um modelo muito diferente do
que o atual, exceto que a indicação dos seus membros deveria deixar de ser
feita pelo governo, passando a ser feita por câmaras funcionais que
reunissem democraticamente as entidades pertencentes aos grupos
identificados no segundo parágrafo desta coluna. Deste ponto de vista não
parece nada apropriada a representação de interesses por setores da
economia (setor privado, terceiro setor), pois as diferenças de enfoque
que poderiam ser debatidos num foro como o novo CGI teriam pouco a ver com
em que parte da economia se classifica as organizações cujos interesses
estão em jogo.
Por exemplo, a comunidade acadêmica vem desempenhando um papel
importantíssimo no desenvolvimento da Internet no país, tendo introduzido
esta tecnologia entre nós, e ainda promovendo o seu aprimoramento para
construir as próximas gerações da Internet. Nesta comunidade, que estaria
dividida entre o setor governo e o setor privado por considerações
meramente "setoriais", estão encontrados os maiores pensadores sobre as
tecnologias usadas hoje e futuramente nesta grande rede de comunicação, e
sobre as conseqüências para a sociedade da extensão entre nós do seu uso.
Ela também oferece uma crítica desinteressada de iniciativas mal
concebidas com conseqüências indesejáveis, como exemplificada por nossa
coluna de 5 de fevereiro de 2001, onde foi analisada a proposta do CGI de
obrigar as universidades a migrarem para nomes de domínio da categoria edu.br,
felizmente transformada a tempo em uma migração voluntária. Pela
comunidade acadêmica sobre assuntos de tecnologias de informação e
comunicação fala a Sociedade Brasileira de Computação (www.sbc.org.br).
É claramente importante que exista uma entidade com as atribuições do CGI
atual, e que sejam sanados os problemas identificados ao longo dos oito
anos do seu funcionamento. Entretanto á também importante que uma eventual
reforma seja feito apenas do essencial, para manter a estabilidade do
funcionamento do sistema complexo de comunicação que é a Internet
brasileira.
ICANN vem ao Rio de Janeiro
[23/02/03]
Já escrevi neste espaço várias vezes sobre a ICANN - Internet Corporation
for Assigned Names and Numbers, responsável em última análise para a
administração de endereços IP e nomes de domínios, descrevendo suas
origens como a solução para tirar o governo norte-americano do
envolvimento direto desta administração, tendo sido ele substituído por
uma organização não governamental, com representatividade internacional.
Ao longo do ano 2000 descrevi o processo um tanto tumultuado da realização
das primeiras (e últimas) eleições diretos pelos usuários da Internet de
cinco dos dezoito diretores da ICANN, por um mandato de 2 anos a partir de
novembro daquele ano. (Os demais diretores são eleitos indiretamente.)
Entre os eleitos de 2000 estava o brasileiro Ivan Moura Campos, escolhido
com os votos da América Latina e o Caribe.
A última vez que escrevi sobre a ICANN foi na coluna de 4 de março de
2002, quando foi apresentado o quadro de pressões, inclusive a reação
negativa a este processo eleitoral, que levariam a ICANN a reformular sua
estrutura organizacional, nesta altura já bastante adiantada. A nova
estrutura torna indiretas todas as eleições para diretores, porém fingiu
respeitar o processo eleitoral através da prorrogação dos mandatos dos
diretores eleitos pelo voto direto em 2000. É notável que todos os cinco
diretores que deviam seus cargos ao processo de eleição direta aceitaram a
prorrogação dos seus mandatos.
Este processo de reorganização da ICANN pretende fazer mais do que apenas
eliminar a eleição direta dos diretores - ele procura também promover a
solidez e a independência financeira da entidade, através de uma espécie
de imposto anual (de US$0,25) cobrado sobre a concessão de nomes de
domínios. Adicionalmente tenta reforçar e aumentar o poder da ICANN de
exercer controle sobre a administração da Internet. Um bom exemplo disto é
a criação de novos nomes de domínio de mais alto nível. Estes nomes são de
dois tipos: são os nomes de mais de duzentos países, todos de duas letras
como .br do Brasil, e os nomes ditos genéricos, que têm três ou mais
letras. Estes nomes genéricos são poucos, e até 2000, só havia quatro de
uso geral: .com, .edu, .net e .org. A administração dos nomes .com, .net e
.org foi repassada há vários anos para a empresa Network Solutions,
adquirida depois pela Verisign, e se tornou um negócio muito rentável. Nos
últimos anos a ICANN estendeu por vários anos esta concessão à Verisign no
caso dos domínios .com e .net, mas transferiu .org à Internet Society. Em
2000 permitiu a criação de sete novos domínios genéricos, dos quais quatro
são alternativas aos domínios tradicionais (.biz, .info, .name e .pro).
Evidentemente, esta administração da escassez (tecnicamente desnecessária)
de nomes genéricos tem conseqüências importantes no mundo dos negócios, e
serve para demonstrar como a ICANN pode exercer o poder.
Neste ponto é talvez desejável comentar brevemente o papel complementar à
ICANN exercido no Brasil pelo Comitê Gestor Internet (CGI) (www.cg.org.br),
atualmente presidido pelo mesmo Ivan Moura Campos que é um dos diretores
da ICANN eleitos em 2000. O CGI foi criado por portaria interministerial (MCT
e Minicom) de 1995 e é composto de 12 membros nomeados pelos dois
ministérios. Ele dita a nível nacional as regras de administração de nomes
e endereços Internet, e tem como braço operacional o registro-BR
(www.registro.br) criado e operado pela FAPESP desde 1989. O registro
administra o domínio nacional .br, e cobra dos seus usuários uma taxa de
administração para cada nome de domínio concedido. Comparado com a ICANN,
o CGI mostrou muito mais imaginação do que a ICANN em criar nomes
genéricos, de segundo nível, da forma XX.br, onde XX pode ser, alem dos
tradicionais com, edu, net e org, uma entre 53 alternativas listadas em
registro.br/info/dpn.html. Entretanto, diferente dos nomes genéricos da
ICANN, cuja concessão foi terceirizada, no caso nacional a administração
de nomes é um monopólio, sendo que os recursos arrecadados pela concessão
dos nomes deverá reverter-se ao desenvolvimento da Internet no país.
Voltando à ICANN, deve-se notar que ela vive um certo tumulto, não apenas
em função das querelas sobre a constituição da sua diretoria e sobre o
impacto comercial das suas decisões, como também pela contestação do seu
poder pelas entidades nacionais que administram os domínios nacionais de
mais alto nível - os chamados ccTLDs. Em fevereiro do ano passado, o
presidente da ICANN tornou pública sua visão de como a ICANN deveria ser
reorganizado (www.icann.org/announcements/announcement-24feb02.htm). Em
resposta os registros nacionais europeus, através da seu conselho CENTR,
se manifestou propondo uma outra visão de como a ICANN deveria se
relacionar com os administradores dos ccTLDs, rejeitando que a ICANN deve
servir de um "super-registro para ccTLDs", que determinaria políticas
globais para a Internet, pois ela não teria a legitimidade para tal, sendo
hoje uma organização norte-americana (www.centr.org/docs/statements/approved-ICANN-response.html).
O debate subseqüente tem animado as reuniões públicas da ICANN, por
exemplo, a última reunião em China em outubro passado (www.theregister.co.uk/content/archive/27860.html),
onde os administradores dos ccTLDs estavam pressionando para alterações na
nova estrutura da ICANN para refletir a importância das suas vozes.
O último lance desta guerra surda ocorreu menos de um mês atrás, quando o
governo norte-americano publicou de maneira bastante discreta a notícia
que pensava em renovar por mais três anos seu acordo com a ICANN, dando 10
dias para receber propostas alternativas. Esta notícia caiu no
conhecimento público seis dias depois, e no décimo dia o administrador do
ccTLD britânico se manifestou propondo que fossem destacadas da ICANN
certas funções pertinentes para os ccTLDs, avisando que o CENTR enviaria
sua própria correspondência mais tarde (www.theregister.co.uk/content/6/29259.html).
Nas palavras da revista que noticiou estes acontecimentos, "a Internet
está a um passo da guerra".
Esta então será a ICANN que se reunirá num hotel de Copacabana entre os
dias 23 e 27 de março (www.icann.org.br/rio/). As reuniões serão públicas
e admissão é gratuita. Além dos participantes oficiais, haverá também a
afluência ao Rio de grupos de interesses, bem como de observadores da
mídia, especialmente a eletrônica (v. por exemplo o sítio www.icannwatch.org,
dedicado a assuntos da ICANN). O evento do Rio também trará um curso
(pago) de direito da Internet, do Instituto Berkman da Universidade
Harvard, a ser oferecido juntamente com a Fundação Getúlio Vargas durante
a mesma semana num outro hotel em Copacabana (cyber.law.harvard.edu/ilaw/brazil03/brazil.html).
Este curso terá um corpo de professores do mais alto nível, incluindo
Larry Lessig, hoje da Universidade Stanford (v. coluna de 17 de fevereiro
de 2002). Por alguns dias, pelo menos, o Rio se tornará um dos pontos
focais da Internet.
ICANN na encruzilhada [04/03/02]
Confesso ter deixado de lado o assunto da ICANN, desde a coluna de 17 de
junho de 2001. ICANN, a Internet Corporation for Assigned Names and
Numbers (www.icann.org), foi criada em 1999 para assumir a coordenação de
trabalhos de administração global de endereços, nomes de domínio e outros
detalhes dos protocolos usados na tecnologia Internet. Antes esta função
era realizada pela Internet Assigned Numbers Authority - IANA, na pessoa
do saudoso Jon Postel, sob contrato do governo dos EUA. A transferência
para uma empresa privada sem fins lucrativos era vista como um passo
essencial na globalização da Internet, pois era inconcebível manter o
funcionamento desta nova estrutura sujeito aos caprichos de um único
governo nacional. Depois de longo período de debate foi encaminhada
proposta para a criação da ICANN, que acabou sendo modificada pelo governo
dos EUA para introduzir maior consideração para a participação da
comunidade de usuários, e não apenas as pessoas e empresas que proveriam a
tecnologia usada e os serviços consumidos. Enfim, foi aprovado que ICANN
teria 18 diretores, divididos igualmente entre representantes de usuários
e dos provedores dos diferentes serviços, além do executivo principal, que
seria nomeado pelos demais diretores. Os 9 vagas de diretor previstas para
os usuários foram preenchidos por nomeação. Em 2000, 5 destes diretores
nomeados foram substituídos por outros 5, eleitos por voto de pouco mais
de 30.000 "sócios individuais" da ICANN, para representar 5 regiões
geográficas. No caso da região AL&C (América Latina e o Caribe), foi
eleito o brasileiro, Ivan Moura Campos, atual presidente do Comitê Gestor
Internet-BR (www.cg.org.br). O mandato dos eleitos vai até novembro deste
ano.
Estes diretores eleitos eram vistos como pessoas de fora da cultura
vigente até então na ICANN, onde todos os demais diretores haviam sido
nomeados/escolhidos por processos "controlados". Dos 5 novos diretores,
dois haviam sido eleitos com plataformas claramente oposicionistas,
prometendo lutar para mudar o estilo de operação da ICANN que havia sido
adotado até então, e especialmente o papel determinante do quadro de
funcionários permanentes, em detrimento dos diretores, de tempo parcial e
não remunerados. Era o temor das conseqüências de eleições diretas que fez
com que decidiu-se preencher apenas 5 das 9 vagas por eleição em 2000,
decisão que ajudou a tumultuar o processo naquele ano.
Como explicada na coluna de 17 de junho de 2001, logo depois da posse dos
diretores eleitos, já foi dado início a um estudo, presidido pelo antigo
primeiro ministro da Suécia, Carl Bildt, para avaliar o papel dos
diretores eleitos e eventualmente apresentar propostas para modificá-lo e
o processo da sua seleção. A comissão Bildt já entregou seu relatório
final em novembro de 2001 (www.atlargestudy.org/final_report.shtml), onde
foi recomendado manter a participação de diretores eleitos pelos usuários,
porém foi sugerido que estes diretores deveriam ser limitados a um terço,
não metade, do total, sendo os demais escolhidos para representar os
interesses, respectivamente, dos provedores de serviços e de entidades
empenhados no desenvolvimento tecnológico da Internet. Ao invés de manter
o funcionamento das eleições de 2000, quando era permitido inscrever-se
como eleitor qualquer pessoa com 16 anos que possuía um endereço de
correio eletrônico e outro de correio postal, foi proposto limitar o
eleitorado apenas aos responsáveis de nomes de domínio Internet (como
estadao.com.br ou pizzadaesquina.com.br), o que permitiria maior confiança
na autenticidade dos eleitores, uma vez que estas pessoas já estariam
cadastrados em algum registro existente de nomes de domínios.
Para dar maior substância à representação destes usuários, foi ainda
sugerido que fosse criada uma entidade básica da ICANN (uma "supporting
organization"), para se juntar às existentes nas áreas de endereços, nomes
e protocolos. Esta organização, como a própria eleição dos diretores,
continuaria a ser baseada em blocos geográficos regionais, tendo sido
sugerida a divisão em dois do atual bloco da Ásia/Australásia, entre uma
parte que incluiria os países do centro, sul e oeste da Ásia, e a outra
que ficaria com o restante (o chamado bloco "Ásia/Pacífico"). Estas
modificações seriam efetuadas em tempo para novas eleições para diretor
antes do fim em 2002 do mandato dos diretores eleitos em 2000.
O relatório da comissão Bildt foi criticado por integrantes de estudo
paralelo, chamado NAIS (www.naisproject.org), criado na mesma época, e
reunindo integrantes da academia e de organizações não governamentais (ONGs),
com a participação do brasileiro Carlos Afonso da Rede de Informações para
o Terceiro Setor - RITS (www.rits.org.br). Para o NAIS, o mais importante
era a ampla participação da comunidade de usuários, e ele não apenas
aprovou a experiência das eleições de 2000, como queria estendê-lo
enormemente. Portanto, o NAIS criticou duramente as propostas da comissão
Bildt que eram vistas como maneira de limitar a participação na ICANN dos
usuários individuais da Internet. Pelo menos em um ponto a comissão Bildt
cedeu às críticas do NAIS, e incluiu na versão final do seu relatório a
recomendação de proteger a presença de diretores eleitos na ICANN, pelo
exigência de uma maioria qualificada para votações futuras de mudança de
estatutos da ICANN, impedindo que fossem alterados os estatutos,
eliminando os diretores eleitos por maioria simples dos votos da
diretoria.
A expectativa da comissão Bildt era de discussão e votação das suas
recomendações na reunião anual do ICANN em novembro passado. Entretanto,
alegando a necessidade emergencial de dar prioridade a discussões da
segurança da Internet na esteira dos atentados de 11 de setembro, o novo
executivo principal da ICANN, Stuart Lynn, postergou para a reunião
seguinte, de março de 2002, a discussão do relatório Bildt (newsbytes.com/news/01/171866.html).
A comissão Bildt, entretanto, continuou a estudar a implantação de
mecanismos de eleição para implementar suas recomendações em tempo para
eleger novos diretores antes da expiração dos mandatos atuais em novembro
de 2002 (www.atlargestudy.org).
Esta então era a situação da ICANN até uma semana atrás, quando foi
realizado um "retiro" (para não ser qualificado de reunião) da diretoria
na capital dos EUA. Neste retiro, amplamente divulgado e discutido nos
dias seguintes, a novidade foi a apresentação por Stuart Lynn da sua visão
apocalíptica da iminente falência funcional da ICANN, e de sua proposta
para uma reformulação completa da instituição, com descarte total da
proposta da comissão Bildt, ou de qualquer outra que envolvesse o conceito
do usuário individual da Internet (http://www.icann.org/announcements/announcement-24feb02.htm).
Alegando que a ICANN estava gastando muito tempo, energia e dinheiro em
discutir como representar os usuários individuais, Lynn defendeu que esta
função melhor cabia aos governos, e propôs que cinco dos quinze futuros
diretores fossem indicados por organizações regionais de governos. Dos
demais diretores, cinco seriam indicados por serem consideradas pessoas
"preparadas" para a função, e cinco o seriam em função de cargos ocupados
dentro da ICANN. Estes cargos incluiriam o executivo principal e os
presidentes de quatro conselhos que substituiriam as organizações de
suporte atuais (endereços, nomes de domínio e protocolos), e que
cuidariam, respectivamente, das políticas de endereços e números, de nomes
genéricos (.com, .org e semelhantes), de nomes geográficos (.br, .ar e
semelhantes) e de assuntos técnicos. Com exceção dos diretores "ex
oficio", os demais indicações teriam que ser aprovadas pela diretoria
anterior. Em todos os casos, a representação viria em troca de suporte
financeiro. Finalmente, Lynn propôs que não houvesse mais recurso de
decisões da diretoria da ICANN. No estatuto original, era prevista, porém
ainda não implantada, uma espécie de comissão fiscal da ICANN, com poderes
para julgar inválidas decisões da diretoria, e esta comissão não existiria
mais, na visão de Lynn.
A reação não tardou, e vieram de várias direções (v. por exemplo www.icannwatch.org
ou as mensagens enviadas entre 24 e 27 de fevereiro à lista IP do Dave
Farber - www.interesting-people.org/archives/interesting-people). Muitos
críticos concentraram atenção na falta de clareza do que seriam os limites
de ação da nova ICANN, e quem os fiscalizaria. Foi comentado também que a
ICANN estava se propondo para assumir a gerência do sistema de servidores
raiz do sistema de nomes, hoje realizada sem custo por uma série de
entidades tradicionais e independentes. Uma destas, a RIPE (responsável
pelo registro de nomes e endereços na Europa, e pela operação do servidor
raiz europeu) (www.ripe.net) questionou a sabedoria de deixar o sistema de
nomes depender inteiramente do funcionamento da ICANN.
As críticas mais pesadas se dirigiam à tentativa de extinguir liminarmente
a experiência com a representação de usuários iniciada em 2000. Não seria
exagero dizer que há descrédito geral da capacidade de organizações
multinacionais de governos para representar usuários da Internet - a
ligação entre umas e outras é tão tênue. Na sua formulação original a
ICANN supostamente seria uma maneira a devolver à iniciativa privada,
comunitária, incumbências até 1999 cumpridas em nome do governo
norte-americano. Agora a direção da ICANN quer abraçar governos, para se
livrar das inconveniências da representatividade ampla, e de diretores
desbocados. É claro que havia falhas no esquema de votação experimentado
em 2000, onde houve clara "captura" dos resultados por eleitores na
Alemanha, Brasil e Japão. O relatório Bildt até iria quebrar a
continuidade do predomínio pelo menos destes países, por impedir que os
sucessores dos atuais eleitos fossem dos mesmos países. É claro que esta
medida não acabava com este problema, mas o atenuava.
A próxima reunião da ICANN será em Accra, Gana, começando domingo que vem,
dia 10 de março. Sem dúvida alguma, a reunião será o palco de discussão e
debate sobre as diferentes propostas para o futuro funcionamento da
entidade. Seria uma boa oportunidade para Ivan Moura Campos, o diretor
eleito para nossa região, vir ao público para defender (ou não) os
mecanismos de representatividade dos usuários que o elegeram diretor da
ICANN. Depois, talvez não tenha outra chance.
ICANN: a questão da
representatividade [17/06/01]
ICANN, a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (www.icann.org),
entidade responsável pela administração política dos nomes usados na
Internet, já foi o assunto da coluna de 9 de abril, quando discutimos o
impacto da chegada de 5 diretores novos, eleitos pelos usuários da
Internet em outubro passado. Na semana retrasada, foi realizada uma nova
reunião pública da ICANN, em Estocolmo, e houve várias novidades para quem
acompanha suas atividades.
Por exemplo, houve a revolta dos ccTLDs, ou seja, dos administradores dos
"country code Top Level Domains" (domínios nacionais de nível mais alto),
tais como o .br do Brasil (www.registro.br). Pelas regras atuais da ICANN,
os ccTLDs devem contribuir para a sustentação da ICANN, sem
necessariamente ter uma voz na sua direção. A princípio, os ccTLDs teriam
esta voz através do Conselho de Nomes, que elege 3 diretores da ICANN, mas
esta participação é diluída pela presença simultânea de 6 outras
categorias de organização, e sua capacidade de influenciar as decisões da
ICANN parece muito pequena em comparação com suas contribuições
operacionais ao funcionamento da Internet global. Em Estocolmo, por
decisão unânime, os ccTLDs exigiram ter o direito de eleger seus próprios
diretores da ICANN.
Mas a questão mais polêmica continua sendo o futuro da representação dos
usuários da Internet, que deveriam eleger nove dos dezenove diretores, dos
quais apenas cinco vagas foram preenchidas através da primeira eleição
realizada em outubro. É preciso compreender que a inclusão de diretores
eleitos pelos usuários não fazia parte da proposta original submetida em
1997 ao governo dos EUA, que precisava aprovar a transferência para a
ICANN das responsabilidades antes exercidas sob contrato desse governo por
uma universidade na Califórnia. Porém, o governo exigiu esta inclusão, e
foram modificados os estatutos da ICANN para prevê-la, para ser realizada
em alguma data futura. Interinamente, as nove vagas foram preenchidos por
pessoas nomeadas, e quatro destas ainda continuam no cargo sem prazo para
sair.
A resistência à eleição se deve à desconfiança sobre seu resultado, que os
eleitos não seriam pessoas confiáveis, como seriam aqueles que emergem
pelos processos complexos adotados para representar as três áreas de
Nomes, Endereços e Protocolos, cada uma das quais elege três diretores
através dos seus conselhos. A princípio, os nove diretores eleitos por
estes conselhos ou são engenheiros ou advogados, com um forte alinhamento
com a Internet comercial. Não se deve esperar que os representantes
eleitos pelos usuários tenham o mesmo perfil. Na verdade, dos cinco
diretores eleitos pelos usuários em outubro, apenas um poderia ser
considerado ter este perfil, Masanobu Katoh do Japão. E dois dos outros,
Karl Auerbach (EUA) e Andy Mueller-Maguhn (Alemanha), provavelmente tenham
sido eleitos por causa das suas críticas à maneira da ICANN se comportar.
O conflito entre as duas maneiras de enxergar o trabalho da ICANN se
mostrou na reunião de Estocolmo, quando ambos estes novos diretores
falaram de suas experiências no cargo, e da tendência dos diretores de
simplesmente aprovarem sem questionamento os encaminhamentos propostos
pelos funcionários permanentes da ICANN, os quais consideram muito
orientados para os aspectos comerciais da Internet em detrimento dos seus
aspectos sociais ou comunitários (www.wirednews.com/news/politics/0,1283,44404,00.html).
Na semana seguinte, os dois foram severamente criticados pelo presidente
da ICANN, e um dos advogados da organização, que sugeriram que eles
representavam apenas uma posição minoritária, mesmo entre os diretores
eleitos (www.wirednews.com/news/politics/0,1283,44480,00.html).
A realização da eleição dos cinco diretores pelos usuários realizada em
2000 foi tumultuada pela própria ICANN, que mudou as regras desta eleição
várias vezes, e subestimou o interesse que ela geraria. Em janeiro deste
ano criou uma comissão de nove pessoas, presidida pelo ex-primeiro
ministro da Suécia, Carl Bildt, para reexaminar a questão de como
indivíduos podem melhor contribuir à ICANN (www.atlargestudy.org). Esta
comissão Bildt vem levantando opiniões a respeito do assunto e pretende
apresentar suas conclusões na reunião anual da ICANN em novembro. Na
reunião de junho da ICANN foi apresentado um relatório sobre o andamento
dos seus trabalhos (www.atlargestudy.org/june_status_report.shtml).
Outra estudo deste mesmo assunto é o NAIS (NGO and Academic ICANN Study)
(www.naisproject.org), um projeto internacional que conta com a
participação de 14 profissionais de ONGs ou de entidades acadêmicas, entre
os quais três que participaram como candidatos (não eleitos) a diretor da
ICANN nas eleições de outubro de 2000. Para subsidiar as discussões da
comissão Bildt, o NAIS acaba de publicar seu relatório interino, que, além
de delinear as questões que precisam ser respondidas por esta comissão,
apresentam uma análise do funcionamento das eleições nas cinco regiões do
mundo onde foram eleitos os diretores (www.naisproject.org/report/interim).
Achei especialmente interessante ler neste relatório do NAIS os detalhes
das eleições de outubro, que tiveram seus resultados distorcidos pela grau
de eficiência de registro de eleitores na fase que se encerrou em julho
passado. Já foi comentado aqui na coluna de 27 de dezembro de 2000 o
sucesso da campanha para inscrever brasileiros como eleitores, e sugerido
que poderia ter havido campanhas parecidas na Alemanha e Japão, dois
outros países que conseguiram ampla maioria de eleitores nas suas
respetivas regiões. Em ambos os países teve efetivamente um campanha
amplamente divulgada para incentivar o registro de eleitores, assumida em
Japão pelas empresas, incentivadas pelo governo, e na Alemanha pela mídia
eletrônica. No Japão havia um único candidato, que foi eleito. Na Alemanha
havia três, sendo eleito o menos convencional, o "hacker ético", Andy
Mueller-Maguhn.
O relatório interino do NAIS sugere que temos lições a aprender das
eleições passadas, e pergunta como encontrar formas mais apropriadas de
representação de usuários, que mantenham a voz do eleitor, enquanto evitem
cair nas garras de disputas nacionalistas entre diferentes países da mesma
região. A próxima reunião da ICANN será em Montevidéu, no início de
setembro, quando haverá também uma reunião da comissão Bildt. Até lá
muitas destas questões, ainda em aberto, terão que ser respondidas
Como vai a ICANN?
[09/04/01]
Não havíamos voltado ao assunto da ICANN - Internet Corporation for
Assigned Names and Numbers desde a discussão dos resultados das eleições
para novos diretores na coluna de 16 de outubro de 2000. Naquelas
eleições, foram escolhidos cinco diretores novos para representar os
membros individuais da ICANN em cinco regiões do planeta, que haviam se
inscrito como eleitores através de um processo confuso realizado nos meses
anteriores, e já descrito em alguns artigos publicados nesta coluna. O
objetivo deste artigo é retratar um pouco os atuais rumos e atividades da
ICANN, depois da posse dos novos diretores em novembro passado.
Como é bom lembrar, a ICANN foi criada para exercer muitas das funções da
IANA - Internet Assigned Numbers Authority, entidade responsável
historicamente para a administração de endereços IP, nomes de domínio DNS
e uma pletora de outros "números" usados para codificar protocolos,
linguagens e outros "objetos" usados pela tecnologia TCP/IP da Internet.
Desde sua criação até 1998, a IANA existia na pessoa de Jon Postel,
pesquisador do Information Sciences Institute da University of Southern
California, e um dos pioneiros da Internet (www.isoc.org/postel). Em
função do crescimento, internacionalização e comercialização da Internet,
passou a ser considerado necessário transferir estas atribuições para uma
empresa, sem fins lucrativas, que pudesse impor maior dinamismo à sua
administração, e o próprio Postel foi um dos principais autores dos
estatutos da ICANN, redigidos logo antes do seu falecimento precoce em
1998.
Na proposta original, a ICANN contaria com um presidente executivo e 18
diretores, dos quais a metade seriam escolhidos por organizações atuantes
nas áreas de protocolos, nomes e endereços, e os demais pelos membros
individuais. Apenas em 2000 foram realizadas as primeiras eleições para os
diretores representando os membros individuais, e nessa ocasião foram
preenchidas apenas cinco das nove vagas, numa modificação tardia do
regimento interno. Atualmente não há previsão para o preenchimento por
eleição das outras quatro vagas de diretor, atualmente ocupados através de
nomeação, e existe uma corrente dentro da ICANN para eliminar totalmente a
eleição de diretores por membros individuais.
Entretanto, a ICANN hoje conta com estes cinco diretores eleitos, que são
Karl Auerbach (EUA), Andy Mueller-Maguhn (Alemanha), Masanobu Katoh
(Japão), Nii Narku Quaynor (Gana) e Ivan Moura Campos (Brasil), sendo que
os primeiros dois foram eleitos com plataformas declaradamente críticas da
estrutura e atividades atuais da ICANN (v. coluna de 16 de outubro de
2000).
Informações sobre as atividades da ICANN podem ser obtidas de diversos
sítios na Internet. O sítio oficial é www.icann.org, mas existem uma série
de outros mantidos por observadores externos e internos. Destes, o mais
organizado e completo é o sítio ICANN Watch (www.icannwatch.org), mantido
pelo advogado e ativista Michael Froomkin. Outros que merecem ser
visitados são Roving Reporter (www.tbtf.com/roving_reporter) de Ted
Byfield, e ICANN Blog (www.lextext.com/icann) de Bret Fausett. O Roving
Reporter parece muito bem informado, tanto que havia noticiado o envio
maciço de correio eletrônico pelo Comitê Gestor Internet BR em julho
passado, a respeito das eleições para diretor da ICANN, apenas 48 horas
depois da sua ocorrência (www.tbtf.com/roving_reporter/icann1.html#13).
Estas fontes de observadores externos agora foram complementados por
sítios mantidos por dois dos novos diretores eleitos, Karl Auerbach (www.cavebear.com/icann-board/diary
) e Andy Mueller-Maguhn (www.ccc.de/~andy).
Este conjunto de fontes permitem fazer um certo arejamento das atividades
de uma entidade que deveria demonstrar transparência na condução dos seus
assuntos. Por exemplo, além das atas oficiais das reuniões dos diretores,
disponíveis no sítio da ICANN, temos agora a visão de dois dos novos
diretores, que freqüentemente divergem da maioria. Isto se mostrou
especialmente na semana passada quando foi realizada uma reunião dos
diretores por telefone - o que pode ser bastante complicado com a atual
distribuição dos diretores do Japão à Califórnia, com 16 horas de
diferença de fuso horário. Nesta reunião o item mais polêmico na pauta foi
a proposta de renovação do acordo contratual com a VeriSign (controladora
de Network Solutions, Inc.) para o registro dos domínios .org, .net e .com
até 2002, 2006 e 2007, respectivamente. Esta proposta foi aprovada por
maioria de 12 a 3, com uma abstenção, e estende ainda mais o monopólio
desta empresa no negócio extremamente lucrativo de registro. Na opinião de
Karl Auerbach, que votou contra a proposta, a VeriSign já teve ampla
oportunidade de ganhar dinheiro com este contrato, originalmente celebrado
em 1993 por prazo de cinco anos, e, no interesse na redução de custos da
comunidade, deveria ter havido um leilão para escolher o próximo registro
do domínio .com, considerado por ele a "jóia da coroa" do sistema de
nomes.
Para ver opiniões distintas sobre o que a ICANN faz e o que ela poderia
fazer, basta comparar os depoimentos dados em fevereiro deste ano no
senado dos EUA do Michael Roberts, então presidente da ICANN, e Karl
Auerbach. No seu depoimento (www.icann.org/correspondence/roberts-testimony-14feb01.htm)
Roberts historiou as origens da ICANN, descreveu o que tinha feito e o que
estava fazendo. Entre os objetivos cumpridos foram citados (1) uma nova
administração de servidores de nomes "raiz"; (2) a introdução de
competição no comércio varejista de nomes de domínio; (3) a criação de um
sistemas de resolução de disputa sobre nomes de domínio; e (4) a criação
de novos domínios de alto nível, aumentando a competição no comércio
atacadista de nomes. Assuntos ainda em estudo incluem (1) o registro de
domínios nacionais de alto nível (como o .br); e (2) a questão dos membros
individuais, e sua eleição de diretores.
Por outro lado o depoimento de Auerbach (www.cavebear.com/tmp/senate-feb-14-2001.htm)
repete muitas das críticas da estrutura e atividades da ICANN já
apresentadas na sua plataforma eleitoral. Ele afirma que a ICANN vem
exercendo um papel muito mais político do que técnico, e que, para
adquirir a devida legitimidade no campo da sua atuação, que é a governança
da Internet, ela precisa adotar procedimentos sólidos, incluindo a devida
participação pública, para a tomada de decisões. Para incluir esta
participação, Auerbach defende urgência no cumprimento do projeto de
eleger metade dos diretores por votação dos membros individuais, e
denuncia que há correntes dentro da ICANN procurando eliminar totalmente
estes diretores, ou pelo menos sua influência. Por exemplo, foi criado uma
Comissão Executiva da ICANN, que conta com apenas cinco dos diretores,
para tomar decisões entre as reuniões da diretoria inteira. Esta comissão
inclui entre seus membros apenas um dos diretores eleitos pelos membros
individuais, coincidentemente o menos votado. Não são públicas as
deliberações desta Comissão Executiva. Conclui afirmando que a orientação
atual da ICANN é mais favorável aos interesses de empresas, mais do que de
usuários da Internet, o que contraria seus estatutos e a filosofia dos
seus fundadores.
Enfim, a ICANN passa para uma fase mais tumultuada do que no passado, em
função das lufadas de vento provocadas pela chegada dos novos eleitos. É
positivo que esta primeira safra de diretores eleitos tenha tido este
efeito, pois somente poderá trazer aperfeiçoamento a uma entidade tão
singular como é a ICANN.
Os resultados das eleições para a ICANN
[16/10/00]
Concluiu-se no último dia 11 de outubro o processo do preenchimento das
primeiras cinco vagas de diretor eleito pelos sócios individuais da ICANN
- Internet Corporation for Assigned Names and Numbers. Como já foi
descrito antes na coluna de 25 de setembro, este processo consistiu de
diversas etapas: a inscrição dos próprios sócios (até final de julho), a
nomeação pela própria ICANN de alguns candidatos (início de agosto), a
nomeação pelos próprios sócios de candidatos adicionais (final de agosto),
a confirmação da habilitação para votar dos sócios (8 de setembro), e,
finalmente, a própria votação entre dias 1o e 10 de outubro. Em muitos
respeitos esta eleição foi um salto no escuro, pois nunca antes havia sido
realizada qualquer eleição similar por meio da Internet. A própria ICANN
havia estimado em 5.000 o número de inscrições de sócio. Foram recebidas
mais de 158.000 inscrições, das quais mais de 76.000 foram habilitadas
para votar, e acabaram votando mais de 34.000 eleitores. As eleições foram
observadas por representantes do Programa de Democracia do Centro Carter
(associado ao ex-presidente Carter dos EUA), que reconheceu ter havido
problemas técnicos, mas achavam limpas as eleições (members.icann.org/carter.htm).
Os resultados completos estão disponíveis no site da election.com, empresa
contratada para realizar a eleição (www.election.com/us/icann/icannresult.html).
A votação foi por região geográfica, sendo dividido o mundo em cinco
regiões: América do Norte, América Latina e Caribe, Europa, África e Ásia/Australásia/Pacífico.
Os eleitores residentes em cada uma destas regiões elegeram um diretor.
Para garantir que os vencedores das eleições tivessem amplo respaldo dos
eleitores, adotou-se o voto transferível: cada eleitor poderia votar em
até três nomes em ordem de preferência. Para ganhar na primeira rodada, um
candidato tinha que ter mais que a metade das primeiras preferências. Caso
nenhum candidato tivesse esta maioria, seria eliminado o candidato com
menor número de votos (de primeira preferência), e seus votos seriam
redistribuídos de acordo com as segundas preferências dos seus eleitores.
Se, depois disto, ainda não havia ninguém com mais que a metade dos votos
válidos, seriam repetidas a eliminação do menos votado e a redistribuição
dos seus votos, e assim em diante. Este processo terminaria
necessariamente quando restassem apenas dois candidatos.
Na região América Latina e Caribe, havia cinco candidatos, sendo três do
Brasil, um do Chile e um do Uruguai. Como foi preponderante o número de
eleitores do Brasil (v. a coluna de 7 de agosto) seria quase inevitável a
vitória de um dos candidatos brasileiros, e foi devidamente eleito Ivan
Moura Campos na primeira rodada de votação, com 946 (67%) do total de 1402
votos dados. Dos candidatos do Brasil, Ivan reunia as melhores condições
para exercer o cargo, pois conhece como poucos a Internet e suas
interações com diferentes setores da nossa sociedade (v. a coluna de 25 de
setembro).
Na região Ásia/Australásia/Pacífico, onde havia o maior número de
eleitores inscritos, foi marcante a vitória na primeira rodada do único
candidato do Japão, Masanobu Katoh, com 13.913 (80%) do total de 17.445
votos dados aos cinco candidatos. O número de inscritos no Japão era o
maior da região, e certamente problemas com a distribuição de senhas de
sócios usando o correio postal teriam prejudicado a confirmação de
eleitores de outros países, como a China e Índia. Masanobu Katoh é
funcionário da empresa Fujitsu, e já é muito ativo em atividades
relacionadas à ICANN. Sua plataforma eleitoral se encontra em members.icann.org/cand/196.html.
Na África, havia apenas três candidatos, sendo dois da África do Sul.
Porém, foi o terceiro, Nii Narku Quaynor, de Gana, quem ganhou na primeira
rodada com 67 (52%) dos 130 votos dados. Nii Narku Quaynor tem experiência
como administrador do registro nacional de nomes DNS no seu país, além de
participar na difusão no uso de redes no seu continente. Sua plataforma
eleitoral se encontra em members.icann.org/cand/191.html.
Os três vencedores anteriores haviam sido nomeados candidatos pela
comissão de nomeação da própria ICANN. Os outros dois vencedores tiveram
que ganhar espaço próprio na cédula de eleição através da mobilização do
apoio de sócios.
Na Europa, o maior número de eleitores era da Alemanha, e havia três
candidatos alemães na eleição, os quais foram os três mais votados de um
total de sete candidatos. Ganhou na primeira rodada de votação Andy
Mueller-Maguhn com 5.948 (53%) dos 11.309 votos dados. Segundo sua
plataforma (members.icann.org/cand/84.html), Andy Mueller-Maguhn tem 28
anos, incluindo mais de 16 em contato com redes de computadores. Trabalha
como jornalista e consultor em redes e assuntos de segurança, e atua
comunitariamente através do Chaos Computer Club (https://www.ccc.de), que
ele descreve como uma ONG não comercial que defende o fluxo livre de
informação e o direito de comunicação em escala pelo menos global,
enquanto observa os efeitos do desenvolvimento tecnológico na sociedade.
A eleição na América do Norte foi a única que não se resolveu na primeira
rodada. Nela havia sete candidatos, dos quais três haviam sido endossados
como defensores do "interesse público", não sendo considerados porta-vozes
de constituências mais estreitas (weblog.mercurycenter.com/ejournal/2000/09/30).
Eram eles Larry Lessig (professor de direito constitucional de Stanford
University), Barbara Simons (presidente entre 1998 e 2000 da Association
of Computing Machinery - ACM, a principal sociedade científica na área de
computação) e Karl Auerbach (formalmente um advogado, e com 27 anos de
envolvimento técnico com as redes, trabalhando atualmente na Cisco Systems).
Na votação estes três candidatos foram os mais votados entre os oito
candidatos, tendo Lessig 725 (21%), Simons 771 (22%) e Auerbach 1074 (31%)
dos 3449 votos dados. No final, levou seis rodadas para definir a eleição
a favor de Karl Auerbach sobre Barbara Simons. A plataforma de Karl
Auerbach (members.icann.org/cand/16.html) é a mais completa e específica
de todos os candidatos vitoriosos, e é a única com críticas contundentes
da atuação da ICANN, e propostas específicas de reforma da sua estrutura e
funcionamento. Entre suas propostas se incluem: fortalecimento da posição
e influência dos sócios individuais, criação do cargo de CTO (Chief
Technology Officer), destituição do presidente e vice presidente atuais
(eles não são eleitos), a contratação de outra firma de advogados, e a
maior transparência dos procedimentos e atividades, com a clara
identificação de responsáveis para ações tomadas no nome da organização.
A posse dos novos diretores eleitos da ICANN será realizada mês que vem, e
poderá ter o efeito de uma lufada de ar fresco sobre o funcionamento desta
organização, cuja importância é fundamental para manter a Internet
operando adequadamente. A princípio, ao contrário dos demais diretores,
que representam os stakeholders, grupos que têm um interesse apenas
setorial (técnico ou comercial) no funcionamento da Internet, os diretores
recém eleitos representam os sócios individuais, usuários da Rede, como
vocês ou eu. É de se esperar que este mandato seja cumprido
conscientemente, para que a Internet continue sendo para nós algo que
permita florescer a criatividade, a solidariedade e a liberdade,
características importantes da sociedade virtual em que vivemos.
Eleições na Internet - a fase final
[25/09/00]
Leitores desta coluna no final de julho teriam tomado conhecimento do
processo eleitoral para a seleção de diretores representando os sócios
individuais da ICANN - Internet Coporation dor Assigned Names and Numbers.
Como explicado na coluna de
24 de julho, a ICANN na prática exerce "governança" sobre a Internet,
através da administração das três áreas de protocolos, endereços de rede,
e nomes de domínio. Sua autoridade máxima é a diretoria formada por um
presidente executivo e 18 diretores, sendo que estes devem ser escolhidos
de forma a possibilitar uma ampla representatividade da comunidade
Internet. Dos 18 diretores, 9 já foram selecionados para representar
interesses de organizações que atuam nas três áreas mencionadas acima. Os
demais diretores deveriam ser eleitos por sócios individuais da ICANN, os
chamados At Large Members.
Quando foi criada a ICANN, estas últimas 9 vagas de diretor foram
preenchidas provisoriamente por nomeação. Para realizar a seleção "normal"
destes diretores, seria primeiro necessário admitir sócios individuais, e
foi realizada uma campanha de afiliação, que terminou em 8 de setembro.
Como explicado na coluna de
24 de julho, qualquer interessado maior de 16 anos, que possuísse um
endereço eletrônico, poderia se tornar sócio. Era necessário primeiro
registrar-se via WWW no site da ICANN, e informar dados pessoais,
inclusive o endereço postal. O esquema inventado pela ICANN usava este
endereço postal para enviar uma senha que precisava ser usada para
confirmar a inscrição por WWW, até 8 de setembro. Apenas quem confirmou
sua afiliação desta forma se tornou sócio efetivo, com direito de voto.
A ICANN já anunciou que das 158.593 inscrições provisórias recebidas
até 31 de julho, apenas 76.504 foram confirmadas (members.icann.org/pubstats.html).
Por região geográfica, os números são muito díspares, conforme mostra a
tabela abaixo.
Região |
31 de julho (provisórias) |
8 de setembro (confirmadas) |
África |
787 |
321 (40,8%) |
América do Norte |
21.596 |
10.694 (43,5%) |
América Latina e Caribe |
6.486 |
3.571 (55,1%) |
Ásia e o Pacífico |
93.782 |
38.397 (40,9%) |
Europa |
35.942 |
23.519 (65,4%) |
Total |
158.593 |
76.504 (48,2%) |
São possíveis duas explicações para uma pessoa não confirmar sua
inscrição: ou ela não quis, ou não pôde. No meu caso particular, não pude
confirmar minha inscrição pois não recebi a senha por via postal. Sei de
pelo menos mais um caso assim. Não duvido que haja falhas nos
procedimentos adotados pela ICANN, mas não me parece ter sido sistemático
o não envio desta correspondência, e, no caso da representação brasileira
no contingente da América Latina e Caribe, este deve ser substancial,
pois, das 6.486 afiliações provisórias, 80% eram do Brasil (members.icann.org/pubstats_unverified.html).
Para os afortunados que conseguiram confirmar sua inscrição até a data
fatal, vem agora a fase final, que termina com o período de votação entre
1o e 10 de outubro. Para a vaga de diretor para a região América Latina e
Caribe há cinco candidatos, tendo sido 3 indicados pela comissão de
nomeação da ICANN, e dois nomeados por sócios. Para entrar na cédula,
estes últimos precisavam ser apoiados por pelo menos 2% dos afiliados da
região, que correspondiam a 72 pessoas. Ambos os candidatos nomeados por
sócios da região que conseguiram superar esta barreira são brasileiros.
A lista completa dos candidatos da nossa região inclui três
brasileiros, um chileno e um uruguaio Seus nomes e links para suas
plataformas seguem abaixo.
· Ivan Moura Campos (Brasil) (members.icann.org/cand/207.html)
· Raul Echeberria (Uruguai) (members.icann.org/cand/206.html)
· Cláudio Silva Menezes (Brasil) (members.icann.org/cand/157.html)
· Aluísio S. Nunes (Brasil) (members.icann.org/cand/162.html)
· Patrício Poblete (Chile) (members.icann.org/cand/208.html)
Dos candidatos conterrâneos, Ivan Moura Campos, antigo professor de
computação da UFMG, já foi secretário de política de informática e
automação do MCT e secretário de ciência e tecnologia do estado de Minas
Gerais. Atualmente ocupa pela segunda vez a presidência do Comitê Gestor
Internet-BR (www.cg.org),
que tem ao nível nacional uma atuação normativa semelhante à que a ICANN
exerce em escala mundial. De acordo com sua plataforma, Cláudio Silva
Menezes combina trabalho técnico no Banco do Brasil em Brasília com
consultoria na montagem e administração de websites, entre estes o do
Movimento Monárquico Brasileiro, (www.monarquia.com),
organização que também preside. Aluísio S. Nunes é um consultor e
administrador independente no Rio de Janeiro, que trabalha com
administração estratégica, consultoria organizacional, e planejamento e
pesquisa de mercado. Seu contato principal com a Internet é como usuário
final.
Dos outros dois candidatos, Patrício Poblete é professor de computação
da Universidade do Chile, onde ele vem administrando o registro nacional
chileno para nomes de domínios desde 1987. Atualmente dirige também a
Escola de Engenharia e Ciências dessa universidade. Raul Echeberria
trabalha como assessor de computação e telecomunicações do instituto
nacional de pesquisa agrícola do Uruguai, e tem longa experiência como
consultor em assuntos Internet nesse país.
Que vença o melhor candidato, e que faça na diretoria da ICANN uma boa
representação dos usuários desta país e da sua região. A escolha agora
depende apenas daqueles que conseguiram transpor os obstáculos e se tornar
sócios individuais da ICANN.
Os eleitores da
ICANN [31/07/00]
Na coluna de
24 julho falamos das próximas eleições para a ICANN - a Internet
Corporation for Assigned Names and Numbers (http://www.icann.org),
quando deverá ser eleito pelos membros individuais um diretor para a região
América Latina e o Caribe (AL&C).
No texto foi incentivada a afiliação de interessados como membros individuais
da ICANN, o que poderia ser feito até o dia 31 de julho.
O tema dessa coluna foi também o assunto de artigos na Folha de São Paulo no
dia 26 e no Jornal do Brasil no dia 27, entre outras publicações.
Adicionalmente, vários indivíduos tomaram a iniciativa de noticiar as eleições
e o prazo de afiliação de membros individuais através de listas de discussão
na Internet brasileira.
Finalmente, o próprio Comitê Gestor promoveu o envio de uma mensagem a
respeito às pessoas registradas como contatos pelo Registro.br (o registro
nacional de nomes e endereços da Internet).
Com isto, o assunto foi amplamente divulgado, e isto resultou num aumento
expressivo no número de membros individuais do Brasil.
Segundo a própria ICANN, que vem divulgando os números de inscritos de
forma irregular através da URL
http://members.icann.org/pubstats.html, a evolução para os maiores países
da região AL&C até o dia 26 de julho é descrita na seguinte tabela, onde as
porcentagens são relativas ao número total de inscritos na região:
Pais |
19 de
julho |
24 de
julho |
25 de
julho |
26 de
julho |
Brasil |
98 |
14,3% |
362 |
28,9% |
569 |
36,6 |
4731 |
80,9% |
Argentina |
134 |
19,6% |
20 |
17,6% |
236 |
15,2% |
278 |
4,8% |
México |
208 |
30,5% |
246 |
19,7% |
249 |
16,0% |
250 |
4,3% |
Chile |
57 |
8,3% |
138 |
11,0% |
181 |
11,6% |
217 |
3,7% |
Esta tabela mostra nitidamente o efeito da mutirão nacional que foi
realizada para tirar o País da posição incômoda ocupada no dia 19.
Se for mantida esta tendência, dificilmente o Brasil deixará de contar com o
maior colégio eleitoral da região, e poderá ficar com a maioria absoluta dos
eleitores.
É interessante também observar que fenômenos parecidos foram registrados em
outras regiões do mundo. Os países com os maiores números de inscrições no dia
26 de julho tiveram a seguinte evolução dos seus membros inscritos durante a
semana anterior:
País |
Região |
19/7 |
24/7 |
25/7 |
26/7 |
Japão |
Ásia/Australásia |
20261 |
27886 |
30201 |
33227 |
China |
Ásia/Australásia |
71 |
12441 |
20873 |
28732 |
Estados Unidos |
América do Norte |
12115 |
15778 |
16998 |
18012 |
Alemanha |
Europa |
8674 |
14685 |
16119 |
17409 |
Taiwan |
Ásia/Australásia |
71 |
5898 |
8729 |
10780 |
Coréia (dop Sul) |
Ásia/Australásia |
1146 |
3953 |
5190 |
6247 |
Brasil |
AL&C |
98 |
362 |
569 |
4731 |
França |
Europa |
997 |
1790 |
2234 |
2583 |
Reino Unido |
Europa |
1633 |
1962 |
2032 |
2080 |
Canadá |
América do Norte |
1348 |
1788 |
1844 |
1975 |
Rússia |
Europa |
56 |
456 |
1122 |
1859 |
Evidentemente, alguns dos países incluídos nesta tabela demonstraram notável
capacidade de mobilização dos seus habitantes para participarem nas próximas
eleições da ICANN, pois, formalmente, as regras do jogo foram definidas pela
ICANN apenas no dia 16 de julho, na última reunião dos seus diretores.
Nesta data havia apenas 44.000 membros individuais inscritos.
O número destes em 26 de julho já excedia 141.000, e deverá superar 200.000
até o final do prazo das inscrições no dia 31.
Estes números devem confirmar os receios dos críticos deste processo
eleitoral, que temiam que a distribuição por país dos membros individuais da
ICANN não refletisse adequadamente os verdadeiros usuários da Internet.
Os países que demonstram as anomalias mais evidentes são a China a a Alemanha.
O censo da Internet de janeiro de 2000 (http://www.isc.org/ds/WWW-200001/dist-bynum.html)
revela que a China (incluído o Hong Kong) tem menos de 8% do número de
computadores na Internet do Japão, líder na Ásia, e que o número de
computadores da China é superado também pela Austrália, por Taiwan e pela
Coréia, outros países da mesma região.
A Alemanha é superada em termos de computadores na sua região pelo Reino Unido
e pela França.
Os números do Brasil também são anômalos, porém o Brasil é o maior país na
Internet na região AL&C, e o número de membros individuais inscritos apenas
exagera esta liderança.
A eleição da metade dos diretores da ICANN por membros individuais,
definida desde a criação da ICANN, já vinha sendo questionada, por poder gerar
um resultado imprevisível.
Para limitar suas conseqüências, em 16 de julho deste ano foram modificados os
estatutos da ICANN para reduzir de nove para cinco o número de diretores
eleitos este ano, e permitir votação por regiào.
Em função das anomalias na afiliação dos membros individuais identificadas no
parágrafo anterior, é quase certo que sejam alteradas novamente as regras que
vigorarão para futuras eleições em que votem os membros individuais.
Já está prevista, inclusive, uma revisão do próprio conceito de membros
individuais da ICANN, e dos diretores que elegem, a ser realizada depois da
posse dos diretores a serem eleitos este ano.
Para os novos membros individuais e eleitores da ICANN, o processo
eleitoral começa no dia 1o de agosto.
Foi constituída uma comissão de indicação (nomination committee), que deverá
publicar nos próximos dias uma lista de candidatos a diretor selecionados a
partir de indicações já recebidas.
Como este processo é reservado, não saberemos quais nomes teriam sido
excluídos por esta comissão.
Depois da publicação desta lista, outros nomes poderão ser indicados por
qualquer membro individual até 14 de agosto, mas para serem incluídos na
eleição terão que contar com o apoio de pelo menos 2% dos membros individuais
da região, em pelo menos dois países.
Existe ainda um limite de 7 candidatos por região, incluindo os pré-aprovados
pela comissão.
Estas regras também foram sacramentadas na reunião de 16 de julho, e podem ser
considerados casuístas.
Em suma, a ICANN é no momento a única entidade que temos para a governança
da Internet, depois da privatização das funções da IANA.
Portanto, deveremos dar-lhe nosso apoio agora. Por outro lado, este apoio deve
ser acompanhado de uma visão crítica da entidade e dos seus objetivos.
Sua organização e estrutura parecem não encontrar boas soluções às questões
fundamentais de representação e estabilidade, postas em destaque pelo processo
eleitoral em andamento.
Talvez a saída para a futura governança da Internet nem seja pela ICANN.
Uma análise recente (http://www.pfir.org/statements/policies),
publicada pela PFIR - People for Internet Responsibility, pondera que a
importância da Internet é tamanha para o mundo em que vivemos, que a ICANN é
simplesmente inadequada à tarefa de governança, por causa das suas origens e
estrutura.
Para assumir esta tarefa propõe-se a criação de uma nova entidade que é
verdadeiramente internacional. Diferente da ICANN, não haveria membros
individuais.
Em vez disto, a entidade estaria baseada numa representação equilibrada de
interesses comerciais e não comerciais do setor privado, e de interesses do
setor público, atualmente excluídos da ICANN.
Estes interesses públicos incluiriam organizações e órgãos governamentais e
instituições educacionais.
O papel do setor público é considerado imprescindível para harmonizar as
iniciativas governamentais, e evitar que os governos assumam apenas um papel
reativo a novidades introduzidas pelo setor privada.
Este comportamento governamental vem sendo identificado em muito países e em
diversas frentes, tais como o comércio eletrônico e a privacidade, discutidos
aqui em colunas recentes.
Eleições para a Internet
[24/07/00]
No dia 31 de julho fecham-se as inscrições para poder votar nas primeiras
eleições gerais da Internet. Se você tem mais de 16 anos e possui um
endereço eletrônico, você pode tirar seu título de eleitor já, e votar
ainda este ano para um dos diretores da ICANN - a Internet Corporation for
Assigned Names and Numbers (www.icann.org), a organização responsável pela
"governança" da Internet, depois que o governo norte-americano tomou a
decisão de privatizá-la em 1997.
O processo é simples e é realizado através do site da ICANN, onde tem
explicações de como se pode tornar sócio individual, com direito de voto,
através de um formulário em português (http://members.icann.org/languages/portuguese/index.html).
Ser sócio individual da ICANN é gratuito, e só requer um pouco de
paciência, pois o servidor da ICANN tem estado muito movimentado nos
últimos dias, pela iminência do término do prazo para se associar.
É preciso explicar um pouco sobre a ICANN e suas funções e antecedentes, e
porque ela é importante. A Internet é uma federação mundial de redes,
autônomas e administradas separadamente. O que une estas redes para
fazê-las funcionarem em conjunto é a adoção de padrões técnicas, em
especial os protocolos chamados coletivamente de TCP/IP. Esta tecnologia
hoje é administrada pela IAB - Internet Architecture Board
(http://www.iab.org/iab/) , um órgão eminentemente técnico. O TCP/IP
define uma tecnologia. Para poder usá-la, é necessário adotar certas
convenções, das quais as mais importantes tratam da alocação de endereços
IP (como 200.211.26.82) e de nomes de domínios (como www.estadao.com.br).
Estes endereços e nomes precisam ser únicos em toda a Internet, e foi
constituída a IANA - Internet Assigned Numbers Authority (http://www.iana.org)
para administrá-los corretamente.
Durante quase 20 anos a IANA se confundia com a pessoa de Jon Postel, um
dos fundadores da Internet, que passou quase toda sua vida profissional a
seu serviço. Uma vez tive a oportunidade de conhecê-lo, em 1994, quando
foi negociada a delegação da IANA para a administração de endereços IP
usadas no Brasil para o que veio a ser a registro nacional
(http://www.registro.br), localizado na FAPESP em São Paulo. Apesar da
importância do seu trabalho, ele era uma pessoa simples, com cara de
hippie dos anos 60 - tem algumas fotos no site http://www.postel.org. A
partir de 1997, Jon se envolveu muito com a transferência das funções da
IANA para a ICANN, e ajudou a formular os seus estatutos. Infelizmente,
ele veio a morrer logo em seguida, em outubro de 1998. Seu amigo e colega
Vint Cerf fez sua eulogia em "I remember IANA" (http://www.ietf.org/rfc/rfc2468.txt).
A ICANN, que hoje é considerado o centro de decisões sobre a Internet, é
dirigida por um presidente e 18 diretores. Destes 18, três são
selecionados por cada um de três Organizações de Suporte, que arregimentam
organizações envolvidas nas três áreas de endereços IP, nomes de domínio e
protocolos. Destes nove diretores nenhum é brasileiro. Os outros nove
diretores serão eleitos pelos sócios individuais da ICANN, e em outubro
próximo serão realizadas as primeiras eleições para eleger um diretor de
cada um de cinco regiões do mundo. Uma das vagas é para a região chamada
"América Latina e Caribe" (AL&C), que se estende do México à Terra do
Fogo, incluindo, evidentemente, o Brasil.
Segundo o censo de computadores ligados à Internet realizada em janeiro de
2000 pela Network Wizards (http://www.isc.org/ds/WWW-200001/dist-bynum.html),
a região AL&C representa 1,6% da Internet mundial, com um total de
1.157.327 computadores registrados de uma população mundial de 72 milhões
(estes números não contabilizam computadores domésticos ou aqueles dentro
das redes privativas de empresas). Dentro da região, o Brasil está na
primeira posição com 38,6% do total, seguido por México (35%), Argentina
(12,3%), Colômbia e Chile (ambos com 3,5%). Seria então compreensível que
o Brasil seja representado nesse novo foro importante que é a diretoria da
ICANN.
Se isto realmente virá a ocorrer depende de duas coisas. Primeiro, o
tamanho da Internet brasileira precisa ser refletido no número de sócios
individuais da ICANN. A ICANN publica o número de inscrições recebidas
(http://members.icann.org/pubstats.html). No dia 19 de julho,
contabilizavam-se 52.652 sócios no mundo todo, liderados por Japão
(20.261), EUA (12.115) e Alemanha (8.674). Da região AL&C havia parcas 689
inscrições, lideradas por México (208) e Argentina (134). Do Brasil havia
98, que correspondem a apenas 14% do total, muito aquém dos 38% da
população de computadores nacionais na Rede. Desta forma, não será
expresso adequadamente o peso do País na Internet. Você, leitor, pode
fazer a diferença. Inscreva-se hoje como sócio individual da ICANN, e
incentive seus colegas a fazer a mesma coisa. O prazo é curto, mas o
benefício para a representação internacional do País é grande.
O segundo requisito para o Brasil ter uma voz na diretoria da ICANN
depende de haver um candidato. Felizmente, o temos na pessoa de Ivan Moura
Campos, antigo professor de computação da UFMG, que tem contribuído muito
para o desenvolvimento da Internet no País durante o tempo em que exercia
o cargo de Secretário de Política de Informática e Automação do MCT,
quando a Internet foi aberta para uso universal (1994 e 1995). Nesta época
foi criado o Comitê Gestor Internet Brasil (http://www.cg.org.br),
responsável por guiar o desenvolvimento da Internet no País, e por
resolver alguns dos problemas do que trata a ICANN a nível mundial. Desde
ano passado o Ivan voltou a presidir o Comitê Gestor, e seria bom vê-lo
também na ICANN.
|