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-
Governança
da Internet em xeque na Prepcom3 [Setembro 2005]
- Profª Eula D. Taveira Cabral - Editora do Informativo SETE PONTOS
-
A
Governança da Internet e o Complexo de Madagascar [agosto 2005]
- Prof. Adilson Cabral - Coordenador do Informativo Eletrônico SETE PONTOS
-
Brasil está interessado na formação do GT sobre a Governança da Internet [Set 2004]
- Gabriella Ponte - Jornalista
-
Sociedade
civil deve se unir para garantir a promoção da inclusão digital [Julho 2004]
- Eula Dantas Taveira Cabral
-
Sociedade
civil se posiciona no Comitê Gestor da Internet no Brasil
[Maio 2004]
Eula Dantas Taveira Cabral
-
Internautas
podem acompanhar a evolução da Internet [abril 2004]
Eula Dantas Taveira Cabral
-
Serviço de
Comunicações Digitais causa polêmica
[Março 2004]
Eula Dantas
Taveira Cabral
-
Fazendo
acontecer a sociedade da informação
[Janeiro 2004]
Profª. Eula Dantas Taveira
Cabral
-
Comitê
Gestor da Internet Brasil está com nova formação [Novembro 2003]
Gabriella Ponte
-
Governança
da Internet.BR
[Junho 2003]
Alexandre Rangel -
Coordenador executivo da ONG Sociedade Digital (SOCID)
Artigos
- Transcrição
Governança
da Internet em xeque na Prepcom3
Profª Eula D. Taveira Cabral
Editora do Informativo Eletrônico SETE PONTOS
Com o objetivo de discutir e analisar propostas, em busca de soluções
plausíveis para a construção da sociedade da informação mundial, no
período de 19 a 30 de setembro foi realizada em Genebra a terceira reunião
preparatória para a 2ª fase da Cúpula Mundial da Sociedade da Informação (CMSI),
a PrepCom3. Evento cercado por expulsões da sociedade civil das reuniões
em que eram definidos os documentos finais - algo muito grave se comparado
com as anteriores e que deixam margens e temores para o que será feito na
Tunísia, em novembro.
Além do comportamento indelicado dos representantes dos governos e de
empresários, a Governança da Internet foi um tema que levantou muitas
polêmicas. Pois, os países em desenvolvimento, como o Brasil, são contra o
controle único da Internet por parte dos Estados Unidos. Já os
norte-americanos, com o apoio dos europeus, consideram que as coisas devem
ficar do jeito que estão.
Tentativas de entendimento
No Prepcom3, os países em desenvolvimento, como o Brasil, fizeram várias
tentativas de entendimento sobre a gestão mundial da Internet, deixando
claro que se não houver acordo em relação ao controle internacional da
Internet, podem até mesmo criar uma rede paralela, a Internet2, saindo da
dependência dos norte-americanos. Pois, como se argumentou no evento, a
Internet nas mãos da ICANN (*) apresenta fortes indícios de estar ligada
ao governo dos Estados Unidos.
Tanto que os norte-americanos se levantam contra, em nome da
“estabilidade”, as propostas dos demais países que querem democratização e
transparência no controle da Rede Mundial de Computadores.
No dia 23 de setembro o presidente do grupo de trabalho da Organização das
Nações Unidas (ONU), Nitin Desai, propôs que o controle da rede tivesse
uma “base mais democrática, transparente e multilateral”, levando-se em
consideração os “interesses das políticas de todos os Governos”, pois,
governos como Brasil e África do Sul reivindicam que a Internet deixe de
ser administrada pelos norte-americanos, devendo ser administrada,
nacionalmente, por cada país e, internacionalmente, por uma organização
intergovernamental como a União Internacional de Telecomunicações (UIT) da
ONU.
A despeito disso, de acordo com o “Informe sobre os trabalhos” do
Sub-comitê Governança da Internet, publicado no dia 30 de setembro, “por
falta de tiempo no fue posible concluir el trabajo sobre los puntos 3a y 5
del Informe, que versan sobre el seguimiento y los futuros acuerdos”.
A visão do Grupo de Trabalho sobre a Governança da Internet da Cúpula
O Grupo de Trabalho sobre a Governança da Internet foi criado na primeira
fase da CMSI, em 2003, presidido por Nitin Desai e composto por 40
membros, formado por representantes dos governos, do setor privado e da
sociedade civil.
Desde sua implementação, realizaram em Genebra quatro reuniões.
Em agosto de 2005 lançaram o documento “Informe de antecedentes”, ou seja,
informações sobre o trabalho do Grupo, com comentários dos participantes.
No documento deixaram claro que “governança de Internet é o
desenvolvimento e a aplicação pelos governos, o setor privado e a
sociedade civil, nas funções que lhes competem respectivamente, de
princípios, normas, regras, procedimentos de adoção de decisões e
programas comuns que configuram a evolução e a utilização de Internet”.
Em relação às questões de políticas públicas pertinentes para a governança
da Internet, consideram:
- a infra-estrutura e gestão da Internet; utilização, segurança e delitos
na Internet;
- direito de propriedade intelectual e comércio internacional;
- desenvolvimento da governança de Internet, levando em conta a criação de
capacidade nos países em desenvolvimento.
Quanto aos papéis e responsabilidades das partes interessadas na
governança de Internet, no caso dos governos, destacaram-se:
- elaboração, coordenação e execução da política pública;
- criação de um entorno propício para o desenvolvimento das tecnologias de
informação e comunicação (TIC's); - elaboração e aprovação de leis,
regulamentos e normas;
- combate ao ciberdelito; promoção de cooperação internacional e regional,
dentre outros.
Em relação ao setor privado:
- auto-regulação da indústria;
- investigação e desenvolvimento de tecnologias, normas e processos;
- fomento da inovação, dentre outros.
Quanto à sociedade civil:
- conscientização e criação de capacidades; mobilização dos cidadãos nos
processos democráticos;
- contribuição à configuração de idéias sobre a sociedade da informação;
dentre outros.
Também reconheceram a contribuição da Internet na comunidade acadêmica e
da tecnológica.
O GT recomendou, no documento, “a criação de um novo espaço para o diálogo
em pé de igualdade entre todas as partes interessadas nos assuntos
relacionados com a governança da Internet”.
Algo que não foi levado a sério, pois, até no caso do Brasil – considerado
um dos países mais democráticos – os representantes do governo expulsaram
os representantes da sociedade civil na definição dos documentos finais.
O que esperar diante de tantos impasses
O tema Governança na Internet é considerado um dos mais delicados na CMSI,
uma vez que tira o controle da Internet da mão dos norte-americanos.
Tentar tornar a Rede Mundial mais democrática, transparente e
multilateral, é algo muito difícil.
Mesmo com as propostas do Brasil em criar um foro global para
acompanhá-la, isso não satisfaz os desejos dos países desenvolvidos.
Dessa forma, para que seja possível democratizar a Internet é preciso que
a sociedade civil aproveite todas as oportunidades e espaços, pois, deixar
a reivindicação somente para o espaço das reuniões da CMSI, já se provou,
não resultará em nada e tudo continuará do mesmo jeito que está.
(*) - Internet Corporation For Assigned Names and Numbers, órgão
responsável por várias funções ligadas à governança da Internet. Ver mais
em http://www.icann.org/
A
Governança da Internet e o Complexo de Madagascar
Prof. Adilson Cabral
Coordenador do Informativo Eletrônico SETE PONTOS
Alex é um leão exibicionista, cuja principal diversão é realizar shows
para agradar visitantes no Zoológico do Central Park. Ele é o melhor amigo
de uma zebra que passa o tempo se exercitando diariamente numa esteira,
olhando e desejando uma belíssima paisagem de uma floresta tropical,
ilustrada num grande painel na parede do Zoológico.
Seu desejo de buscar a vida fora do Parque acaba impulsionando sua fuga e
seus amigos, preocupados, resolvem procurá-la pelo centro de Nova York e
convencê-la a voltar. Conseguem encontrá-la, mas, após uma série de
situações inusitadas, acabam parando como náufragos numa praia em
Madagascar, na qual conhecem um ambiente que lhes é naturalmente mais
familiar e vivem o desafio de se relacionar com a diferença cultural dos
nativos, bem como sua própria natureza artificializada pela plasticidade
do zoológico do Central Park.
Em nome do show
Essa é uma forma possível de apresentar a história de Madagascar, da
empresa de animação Pixar, que está se consolidando internacionalmente com
o firme propósito de se tornar uma anti-Disney.
Nesta última iniciativa, além disso, proporcionou ainda uma interessante
imagem que pode contribuir para o debate sobre a governança da Internet.
Senão vejamos:
A sustentação da política do governo americano em relação à governança da
Internet está centrada no argumento, que assumem como legítimo e soberano,
de segurança e controle contra ameaças terroristas.
A decorrência disso é que no rótulo de terrorismo cabem tudo o que é
estranho aos interesses do governo americano, inclusive a própria
descentralização da gestão da Internet.
Ou seja, uma governança democrática da Grande Rede representaria a
possibilidade de uma maior ameaça – e, portanto, de uma vulnerabilidade -
do sistema a ataques de hackers, grupos terroristas e até mesmo governos
contrários ao que entendem como sustentadores de valores democráticos.
É o que diz um recente documento que afirma os princípios dos Estados
Unidos para o Sistema de Endereços e Nomes de Domínio da Internet (DNS).
Nele, os EUA afirmam que desejam preservar a segurança e a estabilidade do
DNS, que os governos têm o interesse legítimo em gerenciar os domínios de
primeiro nível vinculados aos países (“country code top level domains” ou
CCTLD), que a ICANN seria o local apropriado para o gerenciamento técnico
do DNS.
Em outras palavras, os EUA estabelecem políticas mundiais e os países
determinam suas políticas nacionais.
Descobrir novos mundos
Seria possível pensar em outra possibilidade de gestão?
O Grupo de Trabalho de Governança da Internet (GTGI), criado a partir da
primeira fase da Cúpula Mundial da Sociedade da Informação (CMSI), em
Genebra, Suíça, de 10 a 12 de dezembro de 2003, está recomendando a
criação de um novo espaço para o diálogo em pé de igualdade entre todas as
partes interessadas sobre todos os assuntos relacionados com a governança
da Internet.
A operacionalização deste diálogo seria dada a partir da criação de um
Fórum Multilateral, para o qual foram pensados quatros modelos diferentes,
a serem debatidos entre os governos até a definição da segunda parte da
CMSI, em novembro, na Tunísia: - o primeiro seria um conselho global de
Internet (CGI) composto de membros dos governos com representação
suficiente de todas as regiões e a participação de outros interessados;
- o segundo seria baseado no reforço do papel do Comitê Assessor
Governamental da ICANN (o Fórum a ser criado seria então um suporte a esse
Comitê);
- estabelecer um Conselho Internacional de Internet (CII) para desempenhar
as funções que correspondam, especialmente em relação às competências da
ICANN e da IANA (Autoridade da Internet para Atribuição de Números) e
- o quarto e último modelo propõe a reunião de três esferas
inter-relacionadas de governo da política de Internet, supervisão e
coordenação global:
- um Conselho de Política Global de Internet,
- uma Corporação Mundial de Internet para a Atribuição de Nomes e
Números (WICANN) e o
- Fórum de Governo Global de Internet.
Ao contrário da concepção americana, a proposta do GTGI é a de promover a
participação plena dos países em desenvolvimento em mecanismos de
governança de Internet, apostando na descentralização como forma de ser
co-responsável entre governantes que integram este sistema.
A perspectiva de um entendimento multilateral cunhado pelo GTGI se
constrói pelo entendimento de que tanto é possível assumir a preocupação
com segurança e contra o terrorismo pelo bem comum, como os Estados Unidos
podem sair da redoma em que se colocaram e se somar num projeto coletivo.
Tão fácil como uma viagem para Madagascar!
Brasil está interessado na formação do GT sobre a Governança da Internet
[Set 2004]
Gabriella Ponte
7º período – Jornalismo
Na primeira fase da Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação (CMSI),
que aconteceu em dezembro do ano passado, foi declarado, nos artigos 46 a
50 da Declaração de Princípios e no artigo 13 do Plano de Ação, um Grupo
de Trabalho sobre a Governança da Internet (GTGI). Porém, como não foi
instituído, o governo, as empresas e as entidades civis foram convocados a
participar de uma reunião, que ocorreu nos dias 20 e 21 de setembro em
Genebra. O objetivo do encontro era fazer consultas sobre o
estabelecimento do GTGI, sua estrutura, os métodos de funcionamento e o
alcance de seu trabalho.
A governança da Internet, assim como o Fundo de Solidariedade Digital,
ficaram em aberto na primeira fase por estar ocorrendo divergências quanto
aos interesses dos três atores. Porém, para os brasileiros, é preciso
analisar e participar do Grupo que cuidará da governança da Internet.
A complexidade da questão
A intenção do grupo é formar um comitê gestor de Internet mundial. Alguns
países possuem um comitê gestor próprio, mas ainda não existe um grupo
mundial que controle a totalidade da Internet.
O Comitê Gestor de Internet do Brasil (CGIBr) é um exemplo na qualidade e
eficiência no controle dos serviços oferecidos na Internet. Para o
consultor da Presidência da República para articulação da sociedade civil
nos temas da Sociedade da Informação, Marcelo Branco, a contribuição que o
governo brasileiro deve dar neste grupo de trabalho é “mostrar que a nossa
experiência é exitosa. (...) Empresas, governo e sociedade civil estão
representadas no comitê”.
Tratar deste assunto é delicado por vários motivos. O primeiro é
justamente o conceito da Internet, de ser democrática e descentralizada.
Seus núcleos e conexões não necessitam de uma infra-estrutura central e
possuem milhares de "proprietários", ou seja, cada usuário, que são livres
para ter a possibilidade de anonimato ou identidade virtual.
Outra complicação, e a mais preocupante, é que este grupo mundial atenda
as necessidades do governo, sociedade civil e setor privado. Além disso,
os países estão batendo de frente com os Estados Unidos. A rede é mundial,
mas é em parte dos americanos, que não vão querer perder o seu controle .
De acordo com o Coordenador Executivo do Instituto de Estudos e Projetos
em Comunicação e Cultura (INDECS) e membro da sociedade civil no CGIBr,
Gustavo Gindre, “os governos não estão interessados em comprar uma briga
de frente contra os interesses norte-americanos e nós assistiremos uma
guerra de trincheiras que pode nos render, apenas, pequenas vitórias
pontuais. Esse cenário só será diferente se a sociedade civil organizada
conseguir se organizar em torno deste tema e exercer muita pressão”.
O coordenador da Coordenador Executivo da Sociedade Digital (SOCID),
Alexandre Rangel, concorda com a mobilização da sociedade civil. “Para
reverter este quadro que já começa a ser pintado, vamos precisar de muita
articulação política e de muita pressão da sociedade civil, coisa que não
será fácil pela falta de recursos. Mas tenho certeza que a maioria dos
países integrantes da ONU, não quer deixar isto acontecer e irão reforçar
o apoio a sociedade civil em seus países”, enfatizou.
Participação da sociedade civil
A intenção inicial era que os três atores participassem da reunião. Mas,
Gindre explica que isto não aconteceu: “O governo Lula publicou apenas no
dia 17 de setembro, no Diário Oficial, a nomeação dos membros eleitos para
o CGIBr. Portanto, não haverá nenhuma reunião antes de Genebra (que
envolva a sociedade civil com relação ao tema) e, mais uma vez, o assunto
ficará restrito aos representantes do Estado”.
Gindre ainda conta que a participação da sociedade civil será definitiva
nas decisões, mas será preciso entender melhor sua composição: “é preciso
fazer uma série de distinções no interior deste amplo conceito de
sociedade civil. Com certeza, os interesses da Open Society Foundation, de
George Soros, não são os mesmos da campanha CRIS Brasil, por exemplo.
Então, temos que construir uma mapa mais claro e definido de quem são os
nossos aliados táticos e estratégicos nestas questões”.
Pois, como afirma Rangel, “será a sociedade civil quem irá "sentir na
pele" os impactos das ações deste comitê. Logo, ela precisa participar e
ser ouvida para que possa ser realmente beneficiada e para que as decisões
sejam universais e não totalitárias”.
ICANN e a posição brasileira
A corporação sem fins lucrativos e internacionalmente organizada, Internet
Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN), que é responsável pelo
gerenciamento da Internet mundial, informou na reunião que vai se
desvincular do governo americano em novembro de 2006.
Ao lado do Brasil estão países desenvolvidos ou em desenvolvimento que
querem que a governança da Internet seja a mais democrática e transparente
possível, com maior participação dos governos. Do outro lado da briga
estão os Estados Unidos, que querem continuar com a hegemonia na rede
mundial, mantendo a abordagem "pró-negócios" na liderança da web.
A ICANN cuida da atribuição de nomes de domínios e endereços numéricos que
são usados para se conectar à Internet. A infra-estrutura da rede é
controlada pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos. Mas, para o
consultor da Presidência da República para articulação da sociedade civil
nos temas da Sociedade da Informação, Marcelo Branco, “a sociedade civil
internacional deve ter mais peso nas definições da Internet, a rede deve
ser menos regulamentada possível e nunca deve ser controlada por algum
órgão centralizador (...) a gestão deve ser internacional e não de forma
unilateral como é hoje — ligada ao Departamento de Comércio dos EUA.
Afinal, a Internet pertence a sociedade civil de todo mundo”.
Branco explica que o Brasil quer assegurar representantes dentro do grupo:
“o que queremos é ter o direito de sermos também protagonistas na nova
sociedade da informação e não apenas consumidores de produtos e serviços
secretos oriundos do hemisfério norte”.
O governo brasileiro acredita que os nomes de domínio e endereços
numéricos não são suficientes para resolver a questão. É necessário que se
discuta outros temas igualmente importantes como a segurança e a proteção
de propriedade intelectual e é essencial que a sociedade civil também tome
frente nesta discussão, pois só assim esse comitê mundial atenderá as
reais necessidades dos internautas.
A lista de nomeados pelos caucuses da sociedade ou por indivíduos na lista
da Plenária ou na lista sobre Governança da Internet já está disponível
em:
http://www.net-gov.org/wgig/
Sociedade
civil deve se unir para garantir a promoção da inclusão digital
[Julho 2004]
Com os novos representantes no CGI-BR é preciso exigir novas ações
Eula Dantas Taveira Cabral
Editora do Informativo Eletrônico SETE PONTOS
A cada dia, a Internet passa a fazer parte da vida de milhares de pessoas.
Porém, esse número é pequeno em relação aos marginalizados na sociedade da
informação, do conhecimento. Para promover a inclusão digital e a mais correta
governança na Internet foi criado em 1995, pelo governo federal brasileiro, o
Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI-BR). Em 2003, com o Presidente Luis
Inácio Lula da Silva, sofreu algumas alterações, resultando em uma
participação maior da sociedade civil que conseguiu o direito de ter 11
representantes entre os 21 membros do Comitê.
O processo eleitoral ocorreu no período de 26 de abril a 15 de julho. Foram
mais de 50 entidades disputando as vagas para o Terceiro Setor. De acordo com
o resultado final, homologado pelo CGI-BR, foram eleitos como representantes
da Sociedade Civil, Terceiro Setor: Mário Luiz Teza, Gustavo Gindre Monteiro
Soares, Carlos Alberto Afonso e Marcelo Fernandes Costa como titulares. Os
suplentes são: Ricardo Antônio Rubens Prado Schneider, Roberto Francisco de
Souza, Edgard Spitz Pinel e Thais Rodrigues Corral.
A Sociedade Civil, principalmente do Terceiro Setor, comemorou a conquista,
pois antes não havia transparência nas ações do CGI-BR, mas sim o domínio de
interesses governamentais e empresariais, em detrimento do interesse do povo.
Em busca, então, do posicionamento dos novos membros, a redação do Sete Pontos
entrou em contato com cada um no dia 15 de julho, enviando-lhes cinco
perguntas via email. As respostas foram esperadas até o dia 31, atrasando o
fechamento do informativo, pois é de vital importância que a sociedade civil
conheça melhor seus representantes e os tenha como porta-vozes de suas ações
em prol do povo brasileiro. Infelizmente, não foi possível ter o retorno de
todos os membros. Somente a suplente Thais Rodrigues Corral retornou o
contato.
A suplente Thais Corral é jornalista correspondente da imprensa estrangeira no
Brasil, fundadora e coordenadora geral das ONGs: Rede de Desenvolvimento
Humano (REDEH) - que atua na área de desenvolvimento de programas e projetos
com foco na área de gênero e desenvolvimento sustentável - e da Comunicação,
Educação e Informação em Gênero (CEMINA) – com projetos e ações na área de
desenvolvimento de conteúdo, capacitação e articulação de redes visando
fortalecer a relação entre o poder mobilizador do rádio e as tecnologias da
informação e comunicação (TICs).
Corral explica que, como representante do Terceiro Setor na Sociedade Civil,
se dispõe a propor e a criar: um grupo de trabalho no Comitê que identifique
os subsídios/instrumentos para a formulação de políticas de inclusão digital
que levem em consideração as diferentes realidades da mulher brasileira; a
discussão e formulação de uma posição no CGI-BR contra a discriminação da
mulher, que vem sendo colocada em diversos sites como objeto; uma política que
acabe com a atuação de redes criminosas na Internet que fazem tráfico de
mulheres, crianças, órgãos e animais silvestres. Além disso, se compromete a
manter informadas as diferentes redes do Terceiro Setor, “debatendo as
propostas que caracterizarão o novo ciclo da atuação do Comitê Gestor, mais
voltado para aspectos sociais e políticos da Internet no Brasil”.
Para a representante, a importância do conjunto das organizações da sociedade
civil no CGI-BR “é fazer com que este instrumento cuja utilização no Brasil
tem crescido muito, de fato represente a sociedade brasileira em termos de sua
diversidade de visões e necessidades em relação a Internet”. E, para garantir
a transparência do CGI-Br, afirma que “o debate será feito de forma permanente
com a sociedade. Esse é um compromisso dos representantes tanto do Terceiro
Setor como de outros setores da sociedade civil eleitos”.
Pois, para a representante, “a missão do CGI-BR não é fazer inclusão digital.
É muito mais relacionada a questões de segurança e infra-estrutura. No
entanto, o conjunto do novo conselho recém-eleito, sobretudo dos
representantes da sociedade civil, quer influir no sentido de tornar o CGI-BR
mais político. Nesse sentido, sem dúvida, estaremos tentando influenciar e
facilitar políticas que facilitem a disseminação da informática e da
Internet”.
Dessa forma, verifica-se que será de vital importância a participação da
sociedade civil nas ações e decisões do Comitê Gestor da Internet no Brasil,
principalmente, propondo e acompanhando a movimentação de seus representantes.
Pois, mesmo que todos tenham suas metas e busquem atuar em campos que defendem
em prol do povo, percebe-se que a Internet brasileira só será bem gerenciada e
voltada para os brasileiros se a sociedade civil estiver unida e lutando pelos
mesmos ideais.
OBS: O Informativo SETE PONTOS coloca-se à disposição dos membros do Comitê
Gestor contactados e estará contribuindo e monitorando continuamente as ações
do novo Comitê Gestor.
Sociedade
civil se posiciona no Comitê Gestor da Internet no Brasil
[Maio 2004]
Colégios eleitorais do Terceiro Setor preparam-se para escolha de
representantes
Eula Dantas Taveira Cabral
Editora do Informativo Eletrônico SETE PONTOS
O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI-BR) foi criado em 1995. Tem como
meta promover a inclusão digital dos brasileiros e a mais correta governança
na Rede Mundial de Computadores, criando processos que garantam a
regulamentação do acesso à informação digital na Internet.
Em 2003, com a mudança de governo, definiu-se que teria 21 membros, contando
com 11 representantes da sociedade civil, sendo quatro do setor empresarial;
quatro do Terceiro Setor; e três da comunidade científica e tecnológica. E, em
cumprimento ao calendário do processo de eleição, no dia 14 de maio foi
divulgada a lista preliminar das entidades inscritas no Colégio Eleitoral.
Dessas, 102 são do Terceiro Setor, sendo que 53 estavam regulares e 49 com
problemas (falta de representante, documentação, fora do prazo, duplicado,
enquadramento). A divulgação definitiva será no dia 31 de maio, sendo que
desse dia até 04 de junho serão indicados os candidatos e, finalmente, no dia
12 de julho, divulgados os nomes dos novos membros.
Para conhecer melhor as entidades do Terceiro Setor inscritas no Colégio
Eleitoral, entrou-se em contato com os representantes das 53 que estão
regulares para entender o posicionamento em relação ao Comitê Gestor, as
propostas para a nova gestão do CGI-BR, indicação de representantes, o que
esperam dos eleitos e a posição quanto à inclusão digital e ao software livre.
Dessas, apenas três enviaram as respostas: Centro de Orientação ao Adolescente
de Campinas (COMEC), Instituto de Estudos e Projetos em Comunicação e Cultura
(INDECS) e Associação Brasileira da Propriedade Intelectual (ABPI).
De acordo com a Portaria Interministerial N° 147, de 31 de maio de 1995, o
Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI-BR) foi criado com “o objetivo de
assegurar qualidade e eficiência dos serviços ofertados, justa e livre
competição entre provedores, e manutenção de padrões de conduta de usuários e
provedores, e considerando a necessidade de coordenar e integrar todas as
iniciativas de serviços Internet no país”. Porém, para a sociedade civil, a
atuação do CGIbr hoje é questionável.
Para o coordenador executivo do INDECS, Gustavo Gindre, o Comitê é uma vitória
do ponto de vista tecnológico, mas, sob o ângulo político, deixa a desejar.
“Foi uma entidade pouco transparente, com decisões sendo tomadas por uma meia
dúzia de pessoas, sem prestar contas à sociedade. Temas importantes como a
governança mundial da Internet não foram pontos de pauta”.
Já para o presidente do COMEC, Silvio Spinella, “o CGI-BR deve ser agente da
democratização do acesso à Internet”, se pautando “com firmeza o fomento ao
compartilhamento de informação, conhecimento e idéias, uma vez que,
especialmente, em tempos de Internet, mecanismos ou institutos burocráticos
que impeciliam esse compartilhamento devem ser questionados sem tréguas e
paulatinamente superados ou contornados”. E, como afirma o presidente do
Comitê Executivo da ABPI, Gustavo Starling Leonardos, “o CGI-BR exerce um
papel essencial na regulamentação da Internet” e como “a Internet é um espaço
de informação, cultura e desenvolvimento tecnológico”, a “inclusão digital
deve ser estimulada pelo Governo”.
Assim, as entidades do Terceiro Setor levantam propostas para a nova gestão do
Comitê. No caso do COMEC, propõe uma real democratização da Internet onde
pessoas físicas e jurídicas sejam incluídas na era da informação. Para a ABPI,
“o CGI-BR deve intensificar a discussão sobre as formas de coibir atos
ilícitos praticados na ou através da Internet. Entre as condutas que exigem
uma discussão mais profunda encontram-se diversos crimes como os de pedofilia
ou de fraude contra correntistas de bancos (...), bem como a repressão à
pirataria de nomes de domínio”. Já para o INDECS, “o CGI-BR deve manter o
estado da arte alcançado na gerência técnica da rede (a chamada casa de
máquinas do CGIBr), mas ampliar sua participação para outros temas”, como
“debater com a sociedade a existência da ICANN, participar do debate
governamental sobre a TV Digital (...) e ter um papel ativo na definição de
uma posição brasileira para a segunda rodada da CMSI”.
Novos representantes para um novo Comitê Gestor
Com esperanças que a Internet brasileira seja bem gerenciada e voltada para a
sociedade, as entidades do Terceiro Setor preparam-se para escolher seus
representantes. No caso da ABPI, considerada a entidade de maior
representatividade no campo do direito da propriedade intelectual do Brasil,
escolheu o advogado Gabriel Francisco Leonardos para ser um dos candidatos à
vaga, pretendendo apoiar, também, outros candidatos. Já o INDECS, vai indicar
o nome do seu coordenador executivo, Gustavo Gindre, e apoiar os nomes de
Carlos Afonso, da Rede de Informações para o Terceiro Setor (RITS), e Mario
Teza, do movimento de software livre. Quanto ao COMEC, “a definição decorrerá
de avaliação dos pensamentos, atitudes e ações políticas dos candidatos que a
entidade considerar como alternativas e que estejam em consonância com as
referências sumarizadas por nossa entidade”, afirmou Spinella.
Em relação aos outros candidatos, Gindre espera que “sejam realmente
representativos. Mas, principalmente, que tenham relação orgânica com a luta
pela democratização da comunicação. Temos o receio que alguns aventureiros
apareçam como candidatos”. Além disso, “serem ativistas para que o CGI-BR seja
agente potencializador da democratização do acesso à Internet, para que o
CGI-BR também priorize com firmeza o fomento ao compartilhamento de informação
e idéias, promovendo a potencialização do conhecimento livre, de que é exemplo
marcante, o software livre”, completa Spinella.
“A ABPI espera que os quatro representantes do Terceiro Setor manifestem
ativamente as preocupações e propostas do Terceiro Setor, de tal forma que a
regulamentação da Internet no Brasil não fique adstrita aos interesses do
Governo e do setor empresarial. A sociedade civil organizada, representada
pelas entidades do Terceiro Setor, deve contribuir ativamente para a fixação
das políticas relativas à Internet no Brasil”, enfatizou Leonardos.
Em relação aos dois assuntos que vêm sendo bastante analisados e debatidos
pela sociedade civil, inclusão social e software livre, a opinião dos
representantes das entidades é bem parecida. Para o coordenador executivo do
INDECS, Gustavo Gindre, “o uso do software livre é estratégico para o país. Em
primeiro lugar, deixamos de estar dependentes de poucas empresas com
comportamento monopolista. Em segundo lugar, garantimos para usuários
residenciais e corporativos a possibilidade de customizarem seus softwares.
Mas, principalmente, garantimos uma chance para o desenvolvimento de softwares
houses brasileiras que possam competir no cenário internacional (...) Neste
sentido, o atual projeto de adoção de software livre pelo governo federal é
digno de admiração”.
Para o presidente do COMEC, Silvio Spinella, “o software livre constitui-se
como um sinônimo prático de inclusão digital. As quatro liberdades do SL são,
cada uma e seu conjunto, paradigmas para que sejam eficazes e também
eficientes às iniciativas de inclusão digital. Com o SL essas iniciativas vão
de além do anseio ou da esperança da inclusão digital para a efetivação no
mundo real, da inclusão funcional e social, onde as pessoas, e entidades,
sociais ou comerciais, especialmente as de porte econômico frágil ou modesto
têm viabilizado ou facilitado seu acesso ao conhecimento como bem de criação e
produção”.
De acordo com o presidente do Comitê Executivo da ABPI, Gustavo Starling
Leonardos, “a ABPI considera que a inclusão digital plena de toda a sociedade
brasileira é essencial para o desenvolvimento educacional, cultura e econômico
do país e entende que o Governo deve adotar continuamente medidas que
estimulem a inclusão digital. Quanto ao software livre, a ABPI está ainda
estudando a matéria, a qual possui diversas vertentes, e a ABPI ainda não
possui uma posição formal sobre a questão. (...) Entende que tanto para a
iniciativa privada quanto para a administração pública deve haver sempre o
direito de escolha”.
Dessa forma, percebe-se que o Terceiro Setor preocupa-se em atuar da melhor
forma possível no Comitê Gestor da Internet no Brasil. Entendê-lo, levar
propostas em favor da sociedade brasileira e que possam ser colocadas em
prática são preocupações constantes da sociedade civil e isso é um ponto
positivo para o desenvolvimento da Rede Mundial de Computadores. Porém,
espera-se que as entidades envolvidas no processo eleitoral que escolherá os
novos membros elejam representantes efetivamente sérios e comprometidos com a
causa.
Internautas
podem acompanhar a evolução da Internet [abril 2004]
IPv6 é criado para ampliar o desenvolvimento da Rede
Eula Dantas Taveira Cabral
Editora do Informativo SETE PONTOS
A Internet é uma grande rede mundial de computadores, na qual cada máquina, em
qualquer lugar do mundo, representa um ponto específico. Tecnicamente, somente
é possível a comunicação entre os computadores na Internet devido a
determinadas linguagens de identificação, denominadas protocolos, ou ainda,
IPs (Internet Protocols).
Cada computador, em qualquer parte do Planeta, recebe uma numeração específica
e própria, tal como os nomes das pessoas. Essas identificações são formadas
por quatro conjuntos de três números cada, compostos por oito bits em cada, ou
seja, 32 bits. Porém, como o número de internautas está crescendo em todo o
mundo, novos recursos de transmissão aparecem (como o de vídeo em tempo real),
e, além disso, existe uma demanda cada vez mais crescente por segurança e
privacidade, percebeu-se que a capacidade de endereços IP estava limitada.
Então, criou-se o IPv6, cuja proposta é a de ampliar para seis conjuntos de
oito bits com quatro números cada, formando um total de 128 bits.
A criação do IPv6 também se deve à necessidade de endereços IP globalmente
únicos, de forma a responder à futura implementação de redes de telefonia
móveis com acesso a esses serviços. Além disso, será possível garantir os
dados disponibilizados na Rede com maior rapidez e o transporte dos dados
multimídia, em tempo real, com mais eficiência. Porém, apesar da estrutura
atualmente disponibilizada não atender as necessidades do fluxo de informação,
o IPv6 só será adotado por excelência em 2006, conforme previsões feitas por
analistas.
Para acompanhar a evolução e desenvolvimento do IPv6 no Brasil, a Rede
Nacional de Pesquisa criou o Br6Bone (http://www.6bone.rnp.br/) , também
chamado de IPng (IP Next Generation). Ele está sendo desenvolvido no Centro de
Engenharia e Operações da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) com
objetivo de repassar conhecimentos e capacitar os técnicos da Rede e dos seus
PoPs (Pontos de Presença) e, futuramente, alocar os endereços e a incluir
outros pontos de presença e outras instituições.
Mas, essa busca pelo aumento de endereços na Internet não é à toa. De acordo
com pesquisa feita pelo Ibope/NetRatings no mês de março, no Brasil mais de 12
milhões de internautas residenciais navegaram, em média, 13 horas e 14
minutos, fazendo com que o país ocupasse o quarto lugar dos países que mais
navegam na Internet. Ele ficou atrás somente de Hong Kong, Japão e Estados
Unidos. Isso se deve também ao crescimento nas vendas de computadores que em
2003 chegaram a 154,5 milhões de PCs e para este ano espera-se um aumento de
11,4%.
E, como é meta do governo brasileiro incluir digitalmente boa parte da
população antes do final do ano, espera-se muitas mudanças na Web. Sendo que
nos Estados Unidos, o presidente George W. Bush afirmou que até 2007 todos os
norte-americanos terão acesso em banda larga à Internet a um preço acessível.
Isso resulta numa busca maior pelo envolvimento na nova tecnologia
disponibilizada.
Tanta preocupação e cuidado fizeram com que, na América do Norte, o IPv6
chegasse à segunda fase de testes. A rede usada foi a Moonv6, um backbone IPv6
que vai de New Hampshire à Califórnia e será permanente, possibilitando que
fornecedores de hardware, software e serviços possam testá-la ao vivo. Para
isso, já passou por testes de qualidade de serviço, segurança, uso de
aplicações, protocolos de rede e funcionalidade de servidor de domínio nos
principais sistemas operacionais. E isso foi uma boa notícia para europeus e
asiáticos que já estão sentindo a necessidade de mais endereços virtuais para
as comunicações móveis e novos serviços de IP (voz sobre IP e vídeo on demand).
Mas, a popularização do IPv6 só se dará quando surgir o microprocessador Cell,
cujos testes estão previstos somente para 2005. Ele está sendo construído pela
Sony, Toshiba e IBM. "Na era do pós-guerra, nós vimos a difusão da televisão,
que era uma comunicação numa mão só. Então, nos anos de 1980, vieram os
videogames, que são um meio de comunicação interativo em duas vias. O Cell
pode nos levar para algo além da TV e dos videogames", afirmou o analista
sênior da Mizuho Securities, Koichi Hariya. Assim, muitos fabricantes de
eletrônicos já começam a criar produtos com o potencial do padrão, ou seja, o
sonho da casa do futuro poderá se tornar realidade, pois cada aparelho poderá
ter um endereço próprio. E Redes de Pesquisa começam a se unir, integrando a
comunidade científica, e a desenvolver tecnologias de redes, serviços e
aplicações inovadoras, trocando dados e oferecendo qualidade a seus
investigadores.
Serviço de
Comunicações Digitais causa polêmica
[Março 2004]
Profª Eula Dantas
Taveira Cabral
Editora do Informativo SETE PONTOS
O Serviço de Comunicações
Digitais é o resultado da recomendação do Tribunal de Contas da União ao
Ministério das Comunicações para implementação de um novo serviço de
telecomunicações que possa utilizar os recursos do Fundo de Universalização
para os Serviços de Telecomunicação (FUST), instituído em agosto de 2000 pela
Lei 9.998.
Para que o novo serviço não surgisse sem o conhecimento dos órgãos envolvidos
e da sociedade, a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) colocou em
consulta pública, no dia 24 de novembro de 2003, a "Proposta de Regulamento do
Serviço de Comunicações Digitais destinado ao uso do público em geral",
definindo os programas e as atividades do serviço. Em seguida, no dia 19 de
janeiro lançou em sua página, na Internet, mais duas consultas públicas: a
nº493, "Proposta de Plano Geral de Outorgas do Serviço de Comunicações
Digitais destinado ao uso do público em geral" e a nº494 " Proposta de Plano
Geral de Metas de Universalização do Serviço de Comunicações Digitais
destinado ao uso do público em geral", causando muitas polêmicas entre as
entidades, governo e sociedade.
De acordo com o governo federal, o SCD é uma das principais ferramentas que
proporcionará a inclusão digital do povo brasileiro, possibilitando que
escolas, hospitais públicos e áreas carentes tenham acesso à Internet em alta
velocidade. Será viabilizado com os recursos do FUST, constituído pelas
empresas de telecomunicações, que depositam mensalmente uma parte do lucro que
obtêm.
Esse serviço, conforme afirmação d o presidente da ANATEL, Pedro Jaime Ziller,
na abertura do 14º Telexpo, principal evento de Tecnologia da Informação e
Telecomunicações das Américas, dia 02 de março, é, na verdade, o primeiro
passo da inclusão digital. “Enquanto apenas 7,27 a cada 100 habitantes têm
acesso à Internet, mais de 90% da população brasileira tem televisores.
Trabalharemos um padrão de TV digital diferenciado para que essa ferramenta
ajude na inclusão digital brasileira”, argumentou.
TV digital? Sim. Conforme explicações d o superintendente de Universalização
da ANATEL, Edmundo Matarazzo, no segundo dia do 14º Telexpo, 03 de março, a
Agência fará um estudo para mensurar a expectativa do mercado a ser atendido
pelo Serviço de Comunicações Digitais, o Paste (Perspectivas para Ampliação e
Modernização dos Serviços de Telecomunicações). Estima que são dois milhões os
pontos de atendimento do SCD a serem beneficiados com recursos públicos do
FUST, sendo que as tarifas do novo serviço serão dadas em parâmetros
diferenciados, onde poderá estar vinculada ao tipo de aplicação a ser
utilizada pelo usuário. E mais: que a inclusão digital via SCD se dará por
meio de vários instrumentos como a televisão, podendo ainda ser monitores
monocromáticos, celular, terminal de banco ou do DataSus, urnas eletrônicas,
todos eles compatíveis com a filosofia de universalização do novo serviço.
Mesmo apresentando inúmeras vantagens, foram feitas várias críticas ao SCD.
Uma delas é d os representantes da Sociedade de Usuários de Informática e
Telecomunicações de Santa Catarina (SUCESU-SC), da Associação Catarinense de
Empresas de Tecnologia (ACATE) e da Associação das Empresas Brasileiras de
Tecnologia da Informação, Software e Internet (ASSESPRO-SC) que assinaram um
documento, enviado à ANATEL, solicitando à Agência “revisar o processo de
abertura de licitação do Serviço de Comunicações Digitais (SCD) para a
utilização dos recursos do FUST destinados à Inclusão Digital”, pois os
recursos, quase R$ 3 bilhões, podem não chegar ao destino final.
A justificativa do grupo se baseia numa análise criteriosa dos documentos 480,
493 e 494 que a ANATEL submeteu à consulta pública, onde o objetivo da Agência
era informar ao povo como seriam aplicados os recursos do FUST através do SCD.
Porém, conforme se verificou, pontos fundamentais não ficaram claros em
relação às licitações: concessão da outorga; remuneração dos prestadores do
serviço SCD; como o serviço estimularia as economias regionais e qual o papel
dos Provedores de Internet, empresas de informática, integradores e
prestadores de serviço.
Percebeu-se, também, que o Brasil foi dividido em 11 macrorregiões para a
abertura da licitação, atendendo estados desenvolvidos com os menos
economicamente, onde somente 11 empresas poderão utilizar os recursos do FUST,
sendo que cada uma receberia a outorga de concessão, recebendo a verba do FUST
por cinco anos; o serviço a ser explorado será pago. Mas, como questionou o
grupo, por que os recursos não são repassados aos órgãos públicos -
prefeituras e governos estaduais?
Pois, se a meta é incluir a população, dando acesso às escolas, bibliotecas,
hospitais... o que justifica o repasse a intermediários? Afinal, os governos
locais conhecem e sabem quais são as necessidades de cada lugar e a melhor
forma de investir, gerando, inclusive, emprego para os moradores. Como
justificar a entrada de uma empresa numa cidade totalmente estranha? Como
implantar o melhor? Pesquisas? Técnicos de outras realidades e culturas
buscando entender o que é óbvio para a comunidade? Será que conseguiriam,
realmente, incluir digitalmente aquele povo?
Diante de tantos impasses, o grupo de Santa Catarina chegou a algumas
conclusões. Dentre elas, destacam-se: "O maior temor é que os recursos do FUST
não sejam aplicados em sua totalidade na inclusão digital da população, e sim
sejam usados para investimento em infra-estrutura de conectividade em Internet
Banda Larga, em regiões onde tal investimento não seria viável
financeiramente; (...) Se for aprovado o edital, a falência ou diminuição de
provedores locais de serviço de Internet será inevitável, haja vista que os
grupos contratados atuariam fora de suas regiões, restringindo ainda mais o
número de empregos e a participação de diferentes prestadores de serviço na
economia regional".
Mais informações:
CONSULTA PÚBLICA Nº 494, de 19 de janeiro de 2004 -
Proposta de Plano Geral de Metas de Universalização do Serviço de Comunicações
Digitais destinado ao uso do público em geral Início: 19/01/2004
às 14:00:00 Término: 01/03/2004 às 23:59:59
CONSULTA PÚBLICA Nº 493, de 19 de janeiro de 2004 -
Proposta de Plano Geral de Outorgas do Serviço de Comunicações Digitais
destinado ao uso do público em geral
Início: 19/01/2004 às 14:00:00 Término: 01/03/2004 às 23:59:59
CONSULTA PÚBLICA Nº 480 -
Proposta de regulamento do Serviço de Comunicações Digitais destinado ao uso
do público em geral (Proposta de Regulamento do SCD)
Início: 24/11/2003 às 14:00:00 Término: 01/03/2004 às 23:59:59
Documento enviado pelas entidades de telecomunicações de Santa Catarina
Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel)
Fazendo
acontecer a sociedade da informação
[Janeiro 2004]
A relação entre o governo brasileiro e a sociedade civil
Profª. Eula Dantas Taveira
Cabral
Editora do Informativo SETE PONTOS
Viabilizar a sociedade da informação é o grande desafio enfrentado por todos
os povos do mundo no século XXI. Para torná-la realidade, a Organização das
Nações Unidas (ONU) criou a Cúpula Mundial da Sociedade da Informação que teve
sua primeira etapa em dezembro de 2003 em Genebra (Suíça) e será concluída em
novembro de 2005 em Tunis (Tunísia). Nela, foram criados três tipos de
participação como membros: governo, sociedade civil e empresa. Estes têm a
função de se organizar e trazer propostas viáveis e de interesse para a
população mundial, tornando possível a concretização de suas metas,
viabilizando assim da sociedade do conhecimento.
Unir os três setores é algo que se vem mostrando cada vez mais difícil na CMSI,
pois cada qual tem interesses particulares, ignorando, em muitos casos, o que
realmente interessa para a população. Isso foi observado nitidamente nas
reuniões preparatórias para a CMSI ocorridas em 2003 que acabaram se tornando
um palco do descaso com os documentos de contribuições feitas pela sociedade
civil. Vários cortes foram feitos, prevalecendo assim as posições dos governos
e das empresas.
No caso do Brasil, também, não há uma relação estreita do governo com a
sociedade civil na hora de organizar e de defender propostas para serem
analisadas nas reuniões preparatórias ou nas da própria Cúpula. Um exemplo
disso foi a reunião inaugural do Grupo de Trabalho Preparatório da
Participação do Brasil na Cúpula da Sociedade da Informação realizada em
agosto de 2003 em Brasília (Brasil) promovida pelo governo, onde mesmo tendo a
sociedade civil como convidada, nada foi decidido. "A reunião inaugural foi
somente um espaço para relatos. Nada foi debatido ou discutido e nenhum tema
foi aprofundado, houve apenas uma verborragia educada e simpática", afirmou
Alexandre Rangel, coordenador executivo da Ong Sociedade Digital (SOCID) e
representante do projeto CMSI Online.
Esse não envolvimento é algo lamentável para os brasileiros, pois o governo,
as empresas e a sociedade civil precisam se unir para levar um documento com
propostas de interesse do povo e evitar divisões que acabam levando à formação
de guetos com outros países que têm realidades e objetivos que não condizem
com os do Brasil. Afinal, se é, realmente, meta do governo promover a inclusão
digital e viabilizar a sociedade da informação, como garantiu o ministro da
Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, torna-se necessário unir forças com
outros parceiros, principalmente com a sociedade civil. “Promover a inclusão
digital tornou-se, para o presidente e seus auxiliares, quase uma obsessão.
Não tenho receio de afirmar que o programa Sociedade da Informação é o
programa de maior alcance estratégico para o ministério da Ciência e
Tecnologia” - afirmação feita por Roberto Amaral no Seminário Internacional da
Sociedade da Informação, promovido pelo governo do Rio de Janeiro em junho de
2003.
Mas, para que a situação não piore mais ainda, internamente, o governo tenta
se mobilizar e, junto com algumas organizações não governamentais (Ongs),
criam e desenvolvem projetos de inclusão digital. Um deles é o projeto
Infovia-RJ, o novo setor de tecnologia da informação da Rede Rio, que tem o
apoio dos Ministérios da Ciência e Tecnologia e das Comunicações, e como meta
a estruturação da expansão do programa de inclusão digital dos governos
estadual e municipal do Rio de Janeiro, comunidade acadêmica e sociedade
civil, através de entidades como o Comitê para Democratização da Informática (CDI).
Nele, serão atingidas comunidades carentes de 92 municípios, oferecendo
laboratórios com computadores ligados à Internet, com acesso gratuito em banda
larga.
Outro projeto que vem sendo feito pelo governo junto com a sociedade civil é a
integração dos moradores de comunidades carentes da Zona Sul de São Paulo
através de telecentros, onde as pessoas têm a possibilidade de aprender a usar
o computador como ferramenta de pesquisa e de trabalho, com acesso à Internet.
Ele conta com a Ong Sampa.org, que trabalha em função do fortalecimento de uma
rede pública de comunicação e informação, tendo parceria com associações de
moradores e entidades locais.
Mas enumerar projetos não é suficiente. Diante do quadro que vem sendo
apresentado no cenário mundial, é fundamental que o Brasil reaja e mostre o
seu potencial em todas as áreas, principalmente na social – oferecendo
melhorias ao seu povo - além da econômica, política e tecnológica. Pois, é
preciso fazer o melhor para o brasileiro dentro e fora de suas fronteiras,
afinal não é um povo que mora num lugar pobre e sem condições alguma. Ao
contrário, é formado por uma gente inteligente que contribui com a sociedade
mundial através de descobertas de soluções em quase todos os ramos da ciência
e da tecnologia. Além disso, o país não pode vedar seus olhos para as decisões
que vêm sendo tomadas nas Cúpulas organizadas pela ONU que influenciam na vida
de todos os cidadãos do mundo, nem mesmo para a riqueza da variedade de
contribuições que a sociedade civil vem oferecendo em termos de utilização de
equipamentos e recursos humanos com baixo investimento.
O governo e a sociedade civil precisam se unir e fazer com que o Brasil seja
um país que contribua na melhoria da vida de todos os seres humanos, pois tem
todas as condições necessárias. É preciso ouvir o povo e saber o que ele
precisa e tentar sanar suas necessidades, organizar projetos e colocá-los em
ação. Também deve se organizar e levantar (e defender) propostas no processo
de reuniões em torno da CMSI que realmente, na condição de compromissos
firmados, venham a ser implementados ao longo dos próximos anos, com o apoio
de todos.
Comitê
Gestor da Internet Brasil está com nova formação [Novembro 2003]
Uma possível contribuição para o desenvolvimento e a democratização da
Internet no Brasil
Gabriella Ponte
6º período – Jornalismo
O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI-BR) está com uma nova estrutura.
O decreto, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entrou em vigor
no dia 3 de setembro deste ano.
O comitê, que antes era composto por 12 conselheiros (5 do Setor Público e 7
do Setor Privado / Terceiro Setor), agora terá 21 representantes.
Esse órgão coordena o Network Information Center (NIC BR), uma organização de
resposta a incidentes que ocorrem na Internet.
O CGI-BR estabelece um trabalho colaborativo com outras entidades, como as
polícias e provedores de acesso, oferecendo ajuda na análise de sistemas
comprometidos por ataques de hackers e ciberterrorismo.
O principal objetivo na mudança da formação do CGI-BR é que ela pode trazer
contribuições para o desenvolvimento e democratização da Internet no Brasil.
O novo comitê terá entre outras atribuições: estabelecer estratégias
relacionadas ao uso e desenvolvimento da Internet no país; diretrizes para a
organização das relações entre o governo e a sociedade, visando o
desenvolvimento da Internet; buscar oportunidades constantes de agregação de
valor aos bens e serviços a ela vinculados; e promover estudos e recomendar
procedimentos, normas e padrões técnicos e operacionais para a segurança das
redes e serviços de Internet, bem assim para a sua crescente e adequada
utilização pela sociedade.
Há muitos meses vem se propondo uma nova estrutura do comitê.
Governança da Internet no Brasil e a Sociedade Civil foram temas do seminário
que ocorreu nos dias 25 e 26 de fevereiro deste ano, no Rio de Janeiro.
Vinte representantes de entidades do Terceiro Setor discutiram uma nova
estrutura de gestão da Internet brasileira.
Foram apresentadas duas palestras e, ao final, o grupo redigiu um documento
sugerindo outro formato para a estrutura atual de governança. E, somente
agora, o governo vai começar a colocar em prática o que foi pedido.
A solução que os participantes do seminário encontraram passa pela
institucionalização do comitê e a criação de uma entidade sem fins lucrativos,
que possa dar suporte legal às suas atividades. E assim aconteceu.
Tanto que no 10° artigo do decreto afirma-se que “a execução do registro de
Nomes de Domínio, a alocação de Endereço IP (Internet Protocol) e a
administração relativas ao Domínio de Primeiro Nível poderão ser atribuídas a
entidade pública ou a entidade privada, sem fins lucrativos, nos termos da
legislação pertinente”.
O CGI-BR será integrado por membros titulares e seus respectivos suplentes
sendo:
- um representante de oito órgãos e entidades do governo;
- um representante do Fórum Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de
Ciência e Tecnologia;
- um representante de notório saber em assuntos de Internet;
- quatro representantes do setor empresarial; quatro representantes do
Terceiro Setor; - e três representantes da comunidade científica e
tecnológica.
Para ser um dos membros, é preciso se tornar candidato ao cargo, pois estes
serão eleitos através de votação e o mandato dos representantes titulares e
suplentes será de três anos, permitida a reeleição.
Com este decreto, o presidente Lula quer mostrar seu interesse em promover o
acesso universal à rede, valorizar os direitos humanos (com destaque para os
direitos de comunicação e a liberdade de expressão) e defender os princípios
democráticos na governança da Internet no Brasil e no mundo.
Isso só faz fortalecer ainda mais a participação do Brasil na Cúpula Mundial
da Sociedade da Informação que propõe exatamente esses pontos.
Governança
da Internet.BR
[Junho 2003]
Alexandre Rangel (SOCID)
Governança na Internet
significa criar processos para garantir a regulamentação do acesso à
informação digital na Net, criando assim uma gestão segura, confiável e eficaz
dos processos automatizados que garantem o funcionamento e a comunicação das
redes e dos dispositivos plugados na Internet.
Esta é a definição técnica de um processo que precisa colocar na balança os
aspectos culturais de cada local. Logo, é uma tarefa que, além de demorada,
necessita da interferência da sociedade civil através de seus principais
atores sociais.
Vamos rapidamente falar um pouco da história da Internet para entendermos um
pouco do que está acontecendo com o processo de regulamentação deste meio, que
está se iniciando no mundo inteiro.
A Internet teve sua origem nos Estados Unidos, com a criação, pelo
Departamento de Defesa, da rede ARPANET (Advanced Research Projects Agency
Network), que em 1969 interligou quatro instituições de Ensino e Pesquisa.
Em setembro de 1971, havia 18 pontos de acesso e a partir de 1980 já existiam
centenas de computadores interligados pela ARPANET, inclusive fora dos EUA.
Ainda neste ano, a rede militar se separou criando a MILNET e surgiram,
também, dezenas de outras redes (CSNet, NSFNet, SATNet, BITNet, etc). E a
interconexão dessas redes, deu-se o nome de INTERNET, significando “Rede das
redes”.
Em setembro de 1988, o LNCC (Laboratório Nacional de Computação Científica) no
Rio de Janeiro, ligou-se à Universidade de Maryland (EUA) através de um link
de 9600 kbps e passou a fazer parte da rede BITNET (Because It’s Time to
Network), rede educacional para troca de mensagens.
Em novembro de 1988, a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo) ligou-se ao Fermilab (Fermi National Laboratory) em Chicago (EUA)
através de um link de 4800 kbps e passou a ter acesso às redes HEPNET (High
Energy Physics Network) e BITNET.
Em maio de 1989 o NCE-UFRJ (Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade
Federal do Rio de Janeiro) ligou-se à UCLA (University of California at Los
Angeles, EUA) através de um link de 4800 kbps e passou a ter acesso a rede
BITNET.
Em julho de 1989, o IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sócio-Econômicas)
ligou a sua rede Alternex ao IGC (Institute for Global Communication) na
Califórnia (EUA), que passou a ser o ponto de acesso à Internet da APC (Association
for Progressive Communications), que interligava diversas ONGs no mundo.
Em fevereiro de 1991, a FAPESP ligou-se à Internet e estendeu o acesso a
outras instituições de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas
Gerais. Posteriormente, criou a Rede ANSP (Academic Network at São Paulo),
ligando diversas instituições de ensino e pesquisa de São Paulo entre si e com
a Internet.
O CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) criou a
RNP (Rede Nacional de Pesquisa) iniciando o seu backbone em 1991, interligando
várias instituições de ensino e pesquisa no Brasil entre si e com com a
Internet.
A FAPERJ (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) criou a
Rede Rio em 1992, ligando diversas instituições de ensino e pesquisa do Rio de
Janeiro entre si e com a Internet.
Em 1992, o IBASE recebeu a incumbência de prover suporte às comunicações,
usando computadores para a Conferência das Nações Unidas para o Meio-Ambiente
e Desenvolvimento (UNCED), que aconteceu no Rio de Janeiro. O projeto
resultante, organizado em estreita colaboração com a Rede-Rio e a RNP, acabou
provendo ao IBASE um acesso permanente à Internet, transformando-o, após o
evento, no primeiro provedor de acesso à internet no Brasil.
Em 1993, o IBASE passou a fornecer acesso à rede de mensagens USENET para os
BBS (Bulletin Board Systems).
Em 1994, a EMBRATEL iniciou o serviço de provedor de acesso a Internet para os
usuários domésticos.
Em 1995, foi criado o Comitê Gestor da Internet no Brasil, formado por
representantes do Governo Federal (MC e MCT), operadoras de backbone,
provedores de acesso, usuários e da comunidade acadêmica.
A partir de 1996 surgiram diversos provedores de acesso à Internet no Brasil,
assim como grandes portais de conteúdo e comércio eletrônico.
Como podemos ver, a Internet
sempre foi brincadeira de governos e tecnicistas e sem nenhuma ou quase
nenhuma interferência da sociedade civil. E isto nós não podemos mais permitir
que aconteça. Devemos requerer o nosso direito de intervir na regulamentação
do atual meio de comunicação mundial mais democrático.
Não podemos permitir que mais uma vez a gestão da Internet seja efetuada sem
controle social, sem transparência, com interferência de empresas americanas
no processo de controle de conteúdos, com ausência de sistemas eficientes de
monitoramento e sem informações relevantes para a sua regulamentação.
A entidade responsável pela
governança da internet no Brasil é o Comitê Gestor da Internet (CGI-BR)
que atualmente é composto por membros indicados pelo Governo Federal, mas que
está em processo de reestruturação.
Aos atuais conselheiros foi dada a tarefa de pensar numa nova estrutura mais
democrática, transparente e com participação de todos os segmentos da
sociedade.
ATUAIS MEMBROS DO CGI-BR
Arthur Pereira Nunes - Coordenador (Representante do Ministério da Ciência
e Tecnologia – MCT);
Sérgio Amadeu da Silveira (Representante da Casa Civil da Presidência da
República);
Rogério Santanna dos Santos (Representante do Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão);
Marcos Dantas Loureiro (Representante do Ministério das Comunicações – MC);
José Alexandre Bicalho (Representante da Agência Nacional de Telecomunicações
– Anatel);
Manuel Fernando Lousada Soares (Representante do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC);
José Roberto Leite (Representante do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico);
Jonas de Oliveira Júnior
(Representante dos provedores de infra-estrutura de telecomunicações);
António Tavares (Representante dos provedores de acesso e serviço de
Internet);
José de Miranda Dias (Representante da indústria de informática e software);
Demi Getschko (Representante da comunidade educacional e cultural);
Nelson Simões da Silva (Representante da comunidade acadêmica);
Cassio Jordão Motta Vecchiatti (Representante da comunidade empresarial);
Raphael Mandarino Júnior (Representante da comunidade de usuários do serviço
Internet);
Carlos Alberto Afonso (Representante do terceiro setor);
Mário Luís Teza (Representante dos trabalhadores da área de tecnologia da
informação);
Fernando Otávio de Freitas Peregrino (Representante do Fórum Nacional de
Secretários Estaduais para Assuntos de Ciência e Tecnologia).
A minuta da nova formação sofreu interferência
da sociedade civil, através de um grupo de ONGs que foram convidadas para
ajudar a pensar uma nova estrutura para o CGI-BR e para pensar a nova
personalidade jurídica do seu “braço operacional”, que será responsável pela
administração de nomes de domínios da Internet no Brasil.
Atualmente, essa administração está sendo feita pela Fapesp (Fundação de
Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo) que já arrecadou, aproximadamente,
66 milhões de reais com a cobrança dos serviços de registro de nome de
domínio.Porém, o mais preocupante, é
que ninguém sabe dizer ao certo o que foi feito com esse dinheiro, pois não
existe nenhuma transparência por parte da Fapesp, mesmo sabendo que esse
recurso é Federal e não Estadual.
Este está sendo apropriado indevidamente por uma entidade que tem por missão
o fomento à pesquisa científica e tecnológica do país e não a realização de
serviços de governança da Internet.
Os motivos acima mostram a importância da participação da sociedade civil no
processo de regulamentação da Internet, mas seguem abaixo alguns números que
irão mostrar a urgência dessa intervenção.
A Internet mundial tem hoje, mais de 840 milhões de usuários segundo o
Telcordia NetSizer.
E o Brasil, apesar de ser o 1° na América Latina em número de usuários, está
na 7ª posição em relação percentual usuário/população, segundo a ITU (International
Telecommunications Union).
Estamos atrás do Chile, Uruguai, Peru, Costa Rica, Argentina e Venezuela.
Segundo o IBOPE eRatings, em julho de 2002, o Brasil atingiu 7,8 milhões de
pontos de acesso residenciais à Internet, totalizando 14 milhões de
cidadãos.
Outras estatísticas também mostram que o número total de usuários pode
chegar a 20 milhões, concentrados nas classes A e B, se considerarmos os
acessos feitos nas empresas e nas redes de ensino.
Ou seja, apenas 11,76% da população nacional tem acesso informação digital e
pode se beneficiar dela.
E por fim, o que nossos governantes chamam de “Governo Eletrônico” é
“Administração Eletrônica”, que só beneficia aqueles que têm acesso à
Internet, aumentando ainda mais o hiato social existente e que é
extremamente lucrativo para o próprio Governo.
Porque Governo Eletrônico não é só criar processos de administração
eletrônica, mas também a criação de políticas públicas para que as
Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) estejam ao alcance de todos e
possam ser utilizadas como ferramentas para prover inclusão social e reduzir
as desigualdades.
Se queremos mudar as estruturas de poder que aí estão, torná-las
democráticas, temos que ocupar o nosso lugar e cobrar do Governo a criação
de políticas públicas que garantam o livre acesso, sem discriminação de raça
ou gênero, as novas TICs.
Alexandre M. Rangel
<arangel@socid.org.br>
Coordenador executivo da ONG Sociedade Digital (SOCID)
http://www.socid.org.br/
Pós-graduado em Redes Locais.
Colaboração Marcelo Sávio
Consultor de Tecnologia da OptiGlobe Telecomunicações
Conselheiro da Socid
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